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11/10/2023

Eu, o Ministro

Os amigos e amigas que me acompanham decerto se surpreenderão com a notícia. Desde o início do governo Lula, desde o primeiro dia, a honroso convite que recebi do presidente, ocupo o cargo de ministro. Não tive como me negar a atender a um apelo do amigo Luiz Inácio, companheiro de longa jornada.

Não é um ministério de grande visibilidade, embora de vital importância, e por essas circunstâncias prefiro não divulgar. Quem me conhece sabe o quanto sou discreto e avesso a holofotes.

O fato é que, comandando uma pasta ministerial, fui convocado a depor perante uma comissão conjunta do Congresso Nacional. Convocado, não: convidado. Afinal, sou ministro. Optei por aceitar, pela compreensão que tenho de que todo ocupante de um cargo público tem obrigação de prestar contas de seus atos à nação.

Bem, seja como for, o certo é que na data aprazada lá estava eu, a enfrentar os leões desdentados da extrema-direita. Espero que ninguém tenha visto esse fastidioso episódio da vida nacional.

Fiz minha apresentação de modo sucinto, “sou advogado de profissão, procurador municipal, ex-vereador de Capivari, São Paulo. Palpiteiro de Facebook e Twitter, aliás, ex-Twitter, ou simplesmente “ex” (pronunciei “équis”; grafa-se “X”). Escritor frustrado, presidente e único membro do MESL, Movimento dos Escritores Sem Livro”.

Assim que concluí a leitura, senti um arrepio de arrependimento. Ser ativista de movimento, qualquer que seja, não é de bom tom naquele ambiente. Temi sair preso dali, por conta da sanha criminalizadora de vários membros do Parlamento aos movimentos sociais. Enfim, assim saiu, por sorte sem a repercussão temida.

Encerrei aí minha apresentação inicial, embora tivesse bem mais tempo à minha disposição. Percebi certo desconforto entre os parlamentares, mas é de minha índole, como disse, essa minha discrição.

Não vinha me inteirando muito a respeito do universo paralelo em que vive parte do congresso, de modo que não conheço bem os deputados e os senadores da atual legislatura. Até porque, desde o primeiro dia estou às voltas com as inesgotáveis tarefas da pasta. E todos sabem como Lula é exigente com seus auxiliares, sobretudo os mais próximos, como é o meu caso.

O primeiro a me fazer perguntas eu jurava que era um menino. Decerto seria filho de parlamentar, pensei a princípio, que, na ausência do pai ou da mãe, fazia-lhe as vezes.

Depois supus que fosse um daqueles “deputados-mirins” dos programas de incentivo a que as crianças tomem contato com a Política, comum nas câmaras de vereadores e assembleias legislativas, mas não entendi a razão de aquele rapazote participar de um ato oficial.

Ele fez um longo discurso atacando a mim e ao governo Lula, chamou-me de “ministro da justiça” (debito a confusão a este meu corpo roliço, embora em nada eu seja parecido com o amigo Flávio Dino) e, por fim, a gritos histéricos, me indagou por que na guerra desencadeada recentemente o governo teria tomado posição favorável aos palestinos e contrária aos israelenses.

Minha resposta, que dei com toda a serenidade que marca meu caráter, foi exatamente esta:

“O governo que aqui represento não tem posição a favor de um país e contra outro. A posição do governo brasileiro é histórica, vem desde 1947, e sempre foi pela paz, pela solução pacífica dos conflitos. O governo se guia pela Constituição, cujo artigo quarto prevê”.

Dei uma pausa e li:

“Artigo quarto. A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios”.

Continuei dizendo que os pouparia do enfado de ler o artigo todo e que iria ao que interessa, como de fato fui:

“Inciso sétimo. Solução pacífica dos conflitos”.

E dei por respondida a pergunta.

Em réplica, ele vociferou contra uma tal “ideologia de gênero”, que estaria sendo praticada pelo governo, da qual jamais eu ouvira falar em reunião ministerial alguma. A partir daí, fez duras críticas ao fato de o governo ter enviado a Israel um avião da FAB, dentro do qual, disse ele, haveria um certo “banheiro unissex”.

Eu não tinha a menor ideia do que o menino falava (“a imaginação infantil é mesmo fértil”, pensei) e nada respondi. Não tenho vocação para professor de jardim de infância.

Parêntese: numa reunião ministerial posterior à audiência, meu amigo e colega ministro Silvio me repreendeu, com a elegância que lhe é peculiar, dizendo que o rapaz era de fato um deputado e que deveria ser tratado como homem, não como moleque. Estranhei, mas se Silvinho está dizendo, eu acredito.

Depois dele foi a vez de uma senadora que, pelas feições, julguei que fosse uma ex-ministra do governo anterior, aquela que havia tido um exótico encontro com Jesus num galho de goiabeira.

“Por que o governo Lula...”, e fez a mesma pergunta do rapaz. Eu respondi, pausadamente:

“Artigo quarto, a República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios”. E completei: “inciso sétimo, solução pacífica dos conflitos”.

Em seguida, foi a vez de outro que, pela aparência física e trejeitos engraçados, era o próprio Curly, irmão de Moe e Larry, de uma série famosa de TV da minha infância chamada “Os Três Patetas”.

Ele fez um discurso totalmente desconexo, que, confesso, não compreendi, e emendou a mesma pergunta. Dei-lhe a mesma resposta.

Assim se sucederam os parlamentares, um a um, uma a uma, dos quais só reconheci o mundialmente famoso “juiz ladrão”, ex-juiz, eterno ladrão.

Ao fim e ao cabo de quase dez horas em que a mesma pergunta me foi feita por todos os que me arguiram, à qual dei a mesmíssima resposta, sempre lendo o artigo quarto e o inciso sétimo, eu me despedi dizendo de minha alegria de poder servir à nação – sem outras palavras, senão essas e apenas essas mesmas.

Nesse instante, adentrou ao recinto um sujeito trôpego, apoiando-se nos ombros e cadeiras dos colegas, que reconheci como um senador capixaba cujo nome me escapa (só me vinha à mente “malte, malte”). Com a voz pastosa, arrastada, disse que meu comportamento, respondendo às perguntas com a mesma leitura do artigo quarto, inciso sétimo, da Constituição era um “deboche” - acusação que me fizeram todos os demais parlamentares, após cada resposta dada -, e que, por essa razão, iria propor meu impeachment. Enroscou na palavra, engasgou duas ou três vezes, até que conseguiu pronunciá-la às inteiras.

Meu microfone já havia sido desligado, mas nem fiz questão. Debater com pessoa naquele estado é algo que fiz muito com um tio alcoólatra, na minha infância, e sei da inutilidade.

Peguei meu paletó que descansava sobre a cadeira, vesti-o e saí em silêncio, com meus assessores, da mesma forma como cheguei. E um só pensamento passava por minha cabeça: “que futuro terá um país cujos representantes no poder legislativo acham que ler e seguir a Constituição é um deboche?”

(Luís Antônio Albiero, de Capivari, SP, em Jacareí, SP, aos 11 de outubro de 2023).

15/09/2023

Os "Manés" Chegaram ao Supremo

Errar é tão humano que até o irreprochável ministro Alexandre de Moraes permitiu-se cometer seus deslizes. Em abril de 2022, em palestra na FAAP, ele atribuiu ao jurista italiano Norberto Bobbio a frase “a internet deu voz a uma legião de imbecis”. Moraes, preparado como é, naturalmente leu incontáveis livros e, por isso mesmo, confundiu os autores. A frase é do escritor Umberto Eco. Ambos intelectuais italianos, foram contemporâneos e morreram neste século XXI - Bobbio, em 2004; Eco, em 2016. Pecadilho de venial tomo, portanto, que em nada deslustra a cabeça luminosa do supremo julgador, que até aqui acha-se em crédito perante a Nação, esbanjando saldo positivo. Tão elevado que, para zerar, teria que ele próprio cometer uma tentativa de golpe de Estado.

Um segundo deslize, quase imperceptível, deu-se quando trocou as letras "in" por "ni" ao mencionar "Antoine" e ao pronunciar "Anto_ni_ê" em lugar de "Antoan". Ocorreu em 14 de setembro, durante a segunda sessão de julgamento dos três primeiros "manés" acusados, e já condenados, pelos acontecimentos de 8 de janeiro.

Três "manés", como esperado, contrataram outros "manés" para defendê-los. A trinca de causídicos teve a coragem e conseguiu o feito de se expor ao ridículo em dimensão nacional. Se é para causar, vamos logo à tribuna do plenário do Supremo Tribunal Federal, devem ter conjecturado de si para si. E, de fato, a seu modo, foram bem-sucedidos. Atingiram o objetivo, lacraram e viralizaram nas redes.

O primeiro a fazer sustentação oral em defesa de um "patridiota" foi um ex-desembargador, logo um magistrado aposentado que, agora tendo sobre os ombros o peso da beca da advocacia, pôs de lado a ética da profissão, o estatuto da classe e a exigência dos códigos processuais que nos impõem, a todo causídico, portarmo-nos com urbanidade no trato com os demais colegas, juízes e partes do processo. Sentiu-se tão à vontade que, sem freios nem pejos, apontou o dedo para os ministros do STF e lançou-lhes nas fuças que, segundo vozes de sua própria cabeça, seriam eles as pessoas "mais odiadas" do país. No país dos terraplanogolpistas, sim, devem ser mesmo. Desde a ascensão de Sérgio Moro ao cargo de juiz federal uma pergunta tornou-se inevitável: como foi que esses jabutis chegaram ao cume do poste?

No dia seguinte, uma exemplar feminina dos ""manés"" de beca, mal saída dos bancos da faculdade, sentiu-se também muito confortável para fazer sua encenação. Esforçou-se para derramar lágrimas de crocodilo e, dizendo ter ódio à política, fez sua performance política. Não se pejou a expressar a vergonha que disse estar sentindo dos mesmos ministros, e, dos porões de seu saber jurídico, permitiu-se passar-lhes uma carraspana. Segundo disse, debitava a vergonha que deles sentia à conta dos critérios, que ela confessou não compreender, pelos quais os vexaminosos juízes estavam julgando seu cliente, mais um descuidado e ingênuo turista que tão somente havia aproveitado uma agradável tarde de domingo para fazer um passeio no parque dos poderes.

Outro "mané" bacharelado, ávido também por lacrar e criar imagem para suas campanhas eleitorais, acabou passando vergonha no débito, no crédito, no pix e sobre a tábua de passar roupa. Aluno exemplar da antiescola do bolsonarismo, o nobre causídico confundiu "O Príncipe", do filósofo Nicolau Maquiavel, com "O Pequeno Príncipe", do escritor e piloto de aeronaves Antoine de Saint-Exupéry. Uma confusão de quase quinhentos anos de distância entre uma e outra obras, entre um e outro autores - um, italiano; o outro, francês -, sem contar a diferença abissal entre as respectivas temáticas. O confuso rábula ordinário, já condenado pela justiça por conta de sua exemplar conduta de bater na própria mãe, acabou expulso pelo Solidariedade, partido ao qual pertencia. Pois é. Decidiu espancar também o Direito, a literatura e até a já combalida Pátria-mãe e acabou tendo que dar adeus à candidatura.

Todos os três sofreram dura, embora elegante, reprimenda dos integrantes da Corte e pelo menos o ex-desembargador terá de se ver com o tribunal de ética da OAB, que prontamente enviou um desagravo ao STF.

BolsoNero, quando no exercício da despresidência, certa feita encantou o gado que frequentava o cercadinho no entorno do Palácio ao criticar os livros didáticos. Disse que estes seriam "um monte de palavras escritas amontoadas". Daí a um bolsonarento lacrador confundir ciência política com jardim de infância, se fazia falta, não faz mais. Como disse o ministro, decerto um leitor dos clássicos, o advogado citou livro que não leu e contentou-se com os memes que passaram diante de seus olhos na sua "taimelaine". Como já dizia Platão em século passado, "não confieis nas feiquinius que rolam pela internet".

Desde que a imbecilidade, como afirmou com precisão o autor de "O Nome da Rosa", emergiu dos esgotos pelas infovias para ocupar, orgulhosa, o panteão do "celebritismo", todo pensamento elaborado com base na História, nas ciências, nos dados da realidade, no conhecimento acumulado por toda a longeva experiência humana, acabou reduzido a "textão", "palavreado", "lenga-lenga", "mimimi", "um monte de palavras amontoadas".

É a sagração da estupidez. A inépcia chegou ao topo e se instalou no Supremo Tribunal Federal. Lá, porém, recebeu o justo veredito em venerando acórdão relatado pelo ministro Luís Roberto Barroso: "perdeu, mané!"

(Luis Antônio Albiero de Capivari SP, em Jacareí, SP, aos 15 de setembro de 2023)

06/09/2023

A Língua Solta de Lula

O que não falta neste mundo é gente minúscula que ostenta a pretensão de desmoralizar o presidente Lula por qualquer motivo. Um sopro do presidente que soe como um "a" é suficiente para assumir proporções gigantescas, ao gosto e interesse dos que se dedicam a policiá-lo.

O episódio mais recente foi a declaração que ele fez, na "entrevista com o presidente" que deu ao jornalista Marcos Uchoa na manhã desta terça-feira, 4. Indagou ele se, quem sabe, talvez, será que não seria melhor que os votos dos ministros do STF fossem sigilosos.

Lula expressava preocupação com a segurança dos ministros. Ele falava especialmente da agressão que os fascistas de Santa Bárbara D'Oeste praticaram no aeroporto de Paris contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF.

Falava também sobre a postura do Inominável que, num 7 de Setembro recente, dirigiu pessoalmente duras agressões verbais ao mesmo Alexandre de Moraes, a quem chamou de "canalha" diante de uma multidão de seguidores. Cego-idores, como costumo chamá-los. O diarreico verbal ex-presidente chegou mesmo a dizer que jamais cumpriria uma ordem exarada pelo dito ministro do STF. Na prática, incitou seus insanos adoradores a adotarem toda e qualquer forma de violência contra Moraes e contra quem quer que pudesse representar freio às suas diatribes.

Lula, ao fazer a cogitação que fez, tinha em mente também a pressão que a Globo e o resto da mídia corporativa fizeram no seu próprio caso, incensando o juiz incompetente e parcial que o julgou em Curitiba a ponto de transformá-lo em heroi nacional de pés de barro. Falava da superexposição de juízes, desembargadores e ministros durante toda a malfadada Lava Jato. Falava, com certeza, do "tuíte" que o general Villas Boas atirou como um canhão nas fuças do STF, lido no Jornal Nacional enquanto os ministros julgavam um habeas corpus que poderia tê-lo livrado da prisão em 2018. Rosa Weber que o diga.

O presidente não é jurista. Não conhece as filigranas jurídicas. Não tem obrigação de conhecer cada vírgula das infinitas leis e normativos que conformam o ordenamento jurídico nacional. Não tem sequer obrigação de conhecer cada milímetro cúbico do volume formado pelas famosas "quatro linhas" que enquadram a Constituição.

É verdade, a ideia de votação sigilosa por juizes vai de encontro com o que estabelece a Constituição brasileira, cujo art. 93 estabelece, em seu inciso IX, que "todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos". Não seria possível, portanto, à luz desse comando constitucional, que se instituísse um sistema de votação sigilosa para os ministros do STF ou para qualquer juízo ou tribunal do país.

Mas, alto lá. A uma, o disposto no art. 93 não constitui "cláusula pétrea" da Constituição. Logo, o mencionado dispositivo é, sim, passivel de modificação, até mesmo para adotar o mecanismo que Lula nem ao menos chegou a propor, já que ele apenas conjecturou como uma eventual possibilidade.

A duas, essa mesma Constituição traz, sim, em seu próprio bojo uma hipótese de votação judicial sigilosa: está lá na alínea "b" do inciso XXXVIII do art. 5°, que a estabelece para preservar a soberania dos vereditos emanados do tribunal do júri, exatamente para garantir a imparcialidade e a segurança dos jurados, cidadãos investidos da condição de juízes.

E nem seria novidade, no âmbito de uma corte constitucional, pois assim é nos Estados Unidos. Lá, em regra, os juízes da Suprema Corte votam em sigilo.

A fala de Lula teve o mérito de acender um debate para lá de urgente e necessário, que diz respeito à superexposição dos membros do Poder Judiciário, a qual os torna presas fáceis de uma mídia cada vez mais ávida por ditar os rumos do país, sejam sociais, políticos e até mesmo jurídicos. E que, em tempos de ódios acirrados, torna-os fragilizados, sujeitando-os a que qualquer cabeça-de-bagre possa meter-se a enfrentá-los em ambientes públicos e mesmo sob vigilância de câmeras de segurança e aparelhos celulares.

Lula, ele sim o verdadeiro herói nacional que, enfrentando leões e dinossauros, segurou na unha a Democracia brasileira que escorria pelo ralo. Não será, portanto, a maledicência dessa gente chinfrim que o abalará.

É uma pena que, ao invés de debatermos com seriedade as percepções, ainda que por vezes equivocadas, mas na maioria pertinentes, dessa lenda viva da História brasileira, gastemos energia e nos percamos na atmosfera insalubre das fofocas de salão.

(Luís Antônio Albiero, de Capivari, SP, em Jacareí, SP, aos 6 de setembro de 2023)

13/08/2023

Não Precisava, Ministro

Estive vendo a enxurrada de comentários e respostas dadas a um tuíte do ex-ministro do Trabalho, ex-presidente do TST, meu conterrâneo Almir Pazzianotto Pinto, pessoa por quem tive a honra de ser recebido em seu escritório em São Paulo, em 2004 - às vesperas de eu assumir o cargo de assessor jurídico da Liderança do PT na Alesp -, ocasião em que ele me disse, para minha surpresa e alegria, que era leitor dos meus escritos no saudoso jornal "Dois Pontos - Capivari", do qual fui um dos sócios fundadores.

Almir postou no antigo Twitter, hoje apenas o enigmático "X" (eita, Elon Musk!), uma crítica ao ministro Flávio Dino por este ter "determinado a invasão à residência de um general de quatro estrelas" - o que, por evidente, passa longe de ser verdadeiro.

Sem perceber que a bobagem do amigo ex-ministro já havia tido grande repercussão, inclusive com nota do próprio Flávio Dino, eu postei um comentário, muito constrangido, em que explicava a ele que a polícia federal só "invade" casas em atendimento a ordem judicial. Coisa básica. Qualquer estudante de Direito de primeiro semestre sabe que a casa é o "asilo inviolável do indivíduo", que só pode ser penetrada por determinação judicial ou em situações excepcionalíssimas previstas na própria Constituição, como flagrante delito ou desastre.

Em seguida, inspirado num comentário do Yuri Carajelescov, fiz nova intervenção para dizer que a postagem dele, ex-ministro, jurista renomado e respeitado, contribuía para fomentar uma "feiquinius", a de que a ação da polícia federal teria sido ilegal.

Por fim, comentando uma resposta que a ele havia dirigido uma pessoa conhecida, Dirce Perissinotto, aduzi que imaginar que o governo Lula pudesse mesmo determinar a invasão de qualquer casa era desconhecer que hoje os tempos são outros, em que a Polícia Federal age de modo estritamente republicano - reconhecimento que, se bem o conheço, ele jamais fará.

Lembrei-o de que quem pôs a mão pesada do Estado brasileiro no pescoço de um pobre porteiro havia sido outro ministro da Justiça, o quase finado Sérgio Moro, exatamente para dar sumiço a provas e testemunho do aparente envolvimento do então presidente da República, Jair BolsoNero, no assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson.

Enfim, lendo um a um os comentários, a enxurrada de respostas, cheguei à conclusão de que o ministro Almir Pazzianotto bem poderia ter-se abstido de se expor a tamanha vergonha pública.

A biografia dele não merecia esse capítulo derradeiro. Que tristeza.

(Luís Antônio Albiero, em Capivari, SP, aos 13 de agosto de 2023)

14/07/2023

A Turma da Maré Nada Mansa

Na minha passagem da infância para a juventude, entremeio dos anos 70 e 80, eu ouvia, por intermédio de um radinho de pilha que captava ondas curtas, um programa humorístico veiculado pela rádio Globo do Rio de Janeiro chamado ""A Turma da Maré Mansa"" (link nos comentários). Ia ao quintal de casa, à noite, para captar a transmissão, e ainda assim ouvia com dificuldade, entre interferências e falhas de sinal.

Formado por uma sequência de quadros vividos por comediantes por mim desconhecidos - eram vários e os nomes não eram anunciados -, o formato inspirou os programas de humor que àquela época já faziam sucesso na TV, especialmente na Globo.

Foi lá que nasceu, por exemplo, o célebre Saraiva, o sujeito nervosinho que não suportava perguntas imbecis. Não sei o nome do ator que emprestava a voz ao personagem, no rádio; sei, porém, que, levado à TV, foi encarnado pelo saudoso camarada piracicabano Francisco Milani. No rádio e na TV, a esposa Carolina perguntava ao marido, depois de uma crise de irritação, ""tá calminho agora, tá?"" E o Saraiva respondia: ""agora tô!""

Outro personagem marcante era um aluno de uma escola cujo quadro se iniciava com o locutor anunciando ""de Barroso a Burroso"". Não me perguntem o nome do comediante, pois também não faço a menor ideia.

Este segundo quadro me veio à lembrança por conta do que aconteceu ontem, no Congresso da UNE, em que o ministro Luís Roberto Barroso, valendo-se de sua mortal condição de cidadão brasileiro, discursou que ""nós derrotamos o bolsonarismo, a extrema-direita"", além de outras sentenças pronunciadas nessa mesma linha.

Nenhum reparo a fazer, em princípio. Afinal, todo cidadão desta amada ""terra brasilis"" que seja portador de mais de um neurônio, tenha um pingo de consciência democrática, vergonha nas fuças e uma lasca de amor no coração diria o mesmo. Só que ele se esqueceu que não é um simples cidadão, como eu, como você, meu leitor, minha leitora. É ministro do STF e, ainda que não seja seu atual presidente, sua fala é institucional.

Claro que a turma da maré revolta não perdeu tempo. Até em impeachment do ministro já falam os sensíveis e magoados bolsonarentos. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, chegou a arvorar-se em censor do supremo magistrado e lhe passou um pito em público, reforçando as especulações sobre o impedimento do iluminado falastrão.

Tenho para mim que Barroso não deu uma de Burroso e, sim, como o mexicano ""Chapolim Colorado"", seu movimento foi friamente calculado.

Barroso fez foi sua estreia no ambiente político ao discursar para uma plateia de estudantes. Até porque, que diabos haveria de fazer um membro dos píncaros do Poder Judiciário num congresso de estudantes? Não custa lembrar que ele foi nominalmente homenageado em incontáveis acessos de loucura pelo ex-inquilino do Palácio da Alvorada, inclusive com adjetivos dos mais chulos e acanalhados, e ninguém, por conta disso, aventou a hipótese de provocar a defenestração antecipada do despresidente da república, embora fosse o caso.

Por impeachment - do qual duvido - ou por frios cálculos dos passos que, a meu ver, pretende dar e voos que almeja alçar, Barroso decerto antecipará sua aposentadoria e deixará o conforto do cargo vitalício que hoje ocupa para enveredar pelo terreno movediço da política.

Duvido do impeachment do ministro porque o Brasil já amadureceu o suficiente para saber que deve desviar de rotas perigosas como essa, sobretudo passado tão pouco tempo de uma sequência de diatribes golpistas que o país vivenciou. Uma nova crise institucional é tudo de que não precisamos.

Quanto ao que disse Pacheco, como líder de uma casa politicamente plural como o Senado Federal - que detém a competência constitucional de promover o processo de impeachment de um ministro do Supremo -, mesmo não sendo ele um típico bolsonarento, deu por cumprido o papel que dele se exige de não deixar barato o infeliz pronunciamento do juiz da Corte dita excelsa. Depois da tempestade, é inevitável que venha a mansidão da maré.

O ministro Barroso cometeu uma grande bobagem, é certo, mas é inegável que o cidadão Luís Roberto lavou a própria alma e falou por milhões de concidadãos brasileiros.

Aos Saraivas deste imenso Brasil, profetas do caos, pergunto se já estão calminhos. Agora estão?

(Luís Antônio Albiero, de Capivari, SP, em Jacareí, SP, na madrugada de 14 de julho de 2023)

05/07/2023

Agora, Agorinha Mesmo

O pastor V. Adão Veladão contou aos seus fiéis, em um culto da igreja Balística da Ladainha transmitido para o Brasil a partir do Estados Unidos, que teve um papo-cabeça com Deus.

Segundo revelou o célebre tonsurado, o Altíssimo determinou a ele que, cheio de amor ao próximo e Jesus na veia e no coração, extermine os homossexuais de todo o país.

O autoproclamado Todo Poderoso teria dito ao eclesiástico que não poderia Ele mesmo praticar tal mortandade, pois prometera para Si próprio que, desde que patrocinou o dilúvio e mandou um arco-íris no "gran finale", não mais cometeria tais atrocidades, daí a razão de terceirizar a tarefa.

V. Adão Veladão estranhou a terceirização de um genocídio dessa magnitude e apelou para o instituto jurídico da "quarteirização". Imediatamente, repassou a missão para o exército de anjos, arcanjos e marmanjos formados por piedosos membros de sua igreja.

Ao anunciar ao público a transferência da responsabilidade, o clérigo gospel observou um incômodo silêncio na escuridão da plateia e disse: "vocês não pegaram. Agora é com vocês!"

Foi então que V. Adão Veladão contraiu o próprio corpo, soltou a munheca direita, deu um gritinho de "aaai", um pulinho bem maneiro de arrebatar o bumbum e disse "que absurdo, bofe!" (foto).

E repetiu, enfatizando que a obrigação divina "agora está com vocês".

Indagado pelo repórter Bohn Badão da FEIXnews sobre o gritinho aviadado que havia dado, V. Adão negou que tivesse vindo dos porões de seu próprio espírito, onde mantém acorrentado o menino mariquinha que ele vem tentando assassinar desde sempre.

A reportagem da FEIXnews perguntou então ao pai de V. Adão, Houtro Veladão, se o filho alguma vez teria dito ter sentido, em algum momento, atração por pessoa do mesmo sexo. "Agora, agorinha mesmo", respondeu o sumo pontífice da igreja Balística da Ladainha com um enigmático sorriso (foto).

O repórter Bohn Badão foi aconselhado pelo diretor de redação da FEIXnews a deixar o local o mais rápido possível. Mais detalhes assim que o fogo do pastor apagar.

*************

(Luís Antônio Albiero, de Capivari, SP, em Jacareí, SP, aos 5 de junho de 2023)

30/06/2023

Sorte o Sirva

“Sorte ele, seu juiz! Sorte ele, dotô!”, esgoelava meu amigo de Capivari, o Nivardo, gente dos Borba, caprichando no gostoso sotaque característico de cá dos lados de Piracicaba.

O Nivardo assim berrava em um dia em que esteve na vigília, em Curitiba, defronte o prédio da polícia federal. Fazia sol e uma revoada de marrecos cruzava os céus da cidade onde o então ex-presidente fora confinado pelo juiz que, em seu linguajar também peculiar, falava e ainda fala “conje”, “cupção” e “depedrar”, dentre inúmeros outros estranhos vocábulos de uma língua à qual um ministro designou como “morês”. “Muito semelhante ao português”, explicou o supremo malvado favorito.

Por mais que o Nivardo arrebentasse a própria goela e estourasse os tímpanos dos circunstantes, o fato é que o juiz ladrão não “sortava” o ex-presidente.

Água mole e berro caipira tanto batem que um dia chegam ao Supremo Tribunal Federal. Lá, finalmente, outro ministro, também paranaense, depois de tanto fazer ouvidos moucos ao advogado noivacolinense, eis que se mostrou todo ouvidos às súplicas do meu conterrâneo. E o preso político foi “sorto”. Graças, evidentemente, ao meu amigo, o Nivardo Borba e seus berros d’água.

O político, que da cela ouvia com alguma dificuldade os brados de “sorte, sorte” do Nivardo, tomou-os como uma bênção e se tornou, de fato e de direito, um homem de sorte. E bota sorte nisso. Tanta sorte que assim que foi “sorto” ganhou a eleição e conquistou seu triplex, seu terceiro mandato presidencial.

Mal tomou posse e já de cara teve de enfrentar uma tentativa de golpe de Estado. Conseguiu evitá-lo, segurando na unha a Democracia que escapava como touro bravo. Puro golpe. De sorte, claro.

No sexto mês de seu governo, por sorte o país já respirava aliviado. Por sorte, os preços começaram a baixar. Por sorte, o dólar iniciou um movimento de queda vertiginosa. Por sorte, o Congresso aprovou o arcabouço fiscal. Por sorte, tudo começou a dar certo, pondo fim e cabo aos seis anos de temeridades, destruição e azares bolsonarentos (toc, toc, toc na madeira, mangalô três vezes!!!).

Os jornais passaram então a registrar em editoriais e manchetes de primeira página que todos os avanços, todas as conquistas, eram pura sorte. A Globo News, o Merval e toda a mídia de cativeiro só falavam nos bons fados, nos bafejos benfazejos do destino que passou a nos sorrir.

A inflação em baixa, sorte. Os empregos e os salários em alta, sorte. Os descontos nos carros populares, sorte. A picanha e a cerveja de volta aos finais de semana, nada mais do que sorte.

Foi por sorte que o Brasil recuperou sua imagem e seu lugar de destaque na geopolítica internacional. Por sorte foram conquistados bilhões de dólares para socorrer a Amazônia.

Descobrimos que somos um povo de sorte, de muita sorte. Que, no caso, tem nome e sobrenome. Atende por Luiz Inácio Sorte da Silva. Temos a sorte de o termos vivo e forte na presidência da República, já pela terceira vez e a caminho da quarta.

Sorte maior, digo no entanto, a bem da justa justiça e da verdade verdadeira, é termos o Nivardo Borba, o caipira cá de Capivari, que tem tudo a ver com essa “sorte tuda”.

(Luís Antônio Albiero, de Capivari, SP, aos 30 de junho de 2023)

23/06/2023

Plot Twist

Era uma vez um juiz de certa capital agrícola de um modesto estado de seu país que tinha por esporte predileto maltratar advogados com os quais interagia nas lides judiciais.

Muito vaidoso, deu-se conta o pretor, certo dia, de sua insignificância. Inconformado, resolveu projetar seu nome empreendendo perseguição logo ao líder político mais amado da nação. Tal empreitada tornou-o, de fato, conhecido por todo o país e pelo mundo afora.

O juiz humilhou o líder mais amado, a quem condenou e mandou prender sem crime nem prova alguma, e, com o advogado deste, praticou o esporte de sua preferência.

Por tal proeza, passou o magistrado a ser tratado como herói nacional. Além da fama, amealhou muito capital promovendo palestras para ricos empresários em que expunha o seu cativo como se este fosse um ser humano exótico, a exemplo dos selvagens que, em séculos recentes, eram apanhados de tribos da América do Sul e da África e exibidos como monstros em espetáculos públicos na Europa.

Com seu modo peculiar de exercer a magistratura, sem qualquer limite ético ou legal, abriu e pavimentou o caminho para a eleição, ao cargo de presidente da República, de um opositor de seu enclausurado, um sujeito desprovido de qualquer brilho, espécie de palhaço sem graça conhecido por suas diatribes e verborragia extremista.

Eleito o adversário de seu prisioneiro, o juiz ofereceu ao vitorioso a própria alma, com a condição de que em retribuição lhe fosse concedido ascender à excelsa judicatura.

O presidente recém-empossado levou-o então para o seu governo. Deu-lhe status de ministro e muito poder, com promessa de conduzi-lo ao tribunal mais elevado do país. Não tardou, porém, para tratá-lo como cão sarnento e dar-lhe um insultante chute no traseiro.

Ainda assim, o ex-juiz, como cachorrinho desprezado pelo dono, para ele voltou correndo, rabinho entre as pernas e a cara pidonha dos animaizinhos carentes de afeto e ração. Com auxílio envergonhado do antigo dono e ainda valendo-se da fama que obtivera com a prisão do líder mais amado da nação, o venal ex-magistrado acabou eleito senador por seu estado de origem.

Já o mais amado, por conta das injustiças que contra si empreendera o ex-juiz, eis que fora enfim libertado da masmorra em que estivera confinado. No primeiro pleito seguinte, derrotou seu opositor e foi novamente eleito presidente da República. Logo indicou, para ocupar vaga na corte suprema, o seu próprio advogado, o mesmo que com galhardia e competência houvera enfrentado as arbitrariedades do antigo herói de renome internacional e pés de barro.

Para valer a nomeação, todavia, o advogado teve de se submeter a uma sabatina no senado, como determinava a Constituição.

Quis o destino que o primeiro a lhe dirigir perguntas fosse exatamente o cachorrinho, agora elevado à condição de senador da República, graças ao apoio do Calígula dos trópicos defenestrado da presidência, embora ele próprio prestes a perder o cargo em razão das ilicitudes que cometeu no trânsito entre a magistratura e a política.

Na câmara alta do Parlamento, o Incitatus tupiniquim, em sua versão canina, emitiu uns grunhidos, uns latidos tímidos, mais próximos do grasnado abafado de marreco, aos quais o fleumático advogado respondeu com argúcia e respeitosas sutilezas, esbanjando sabedoria. Para desalento do parlamentar que abdicara da toga em busca do sonho supremo, o causídico teve seu nome aprovado por ampla maioria dos senadores.

Plot twist: o cachorrinho, que tudo fizera para alcançar seu desejo de chegar ao tribunal mais importante da federação, eis que acabou atuando como coadjuvante na cena final em que ao cargo por ele almejado ascendeu justamente seu desafeto, a quem, em passado recente, houvera tratado como rábula ordinário, com imenso desprezo, desrespeito e humilhação.

Que baita enredo, que final inesperado! Que história sensacional!

(Luís Antônio Albiero, de Capivari, SP, em Jacareí, SP, aos 23 de junho de 2023)

22/05/2023

Os Últimos Bolsonaristas-Raiz

Eles hoje são poucos, e menos aguerridos do que foram até há pouco tempo, mas alguns ainda resistem. É o caso do cidadão Donizeti Santos, um dos mais empedernidos defensores do genocida que hoje nos desgoverna com quem tenho o desprazer de me defrontar diariamente pelo Facebook.

Eu não o conheço pessoalmente, nunca havia ouvido falar dele até conhecê-lo num grupo de minha cidade. Não sei se é conterrâneo, se mora mesmo na cidade, sequer sei se existe de verdade ou se é "fake", mas ele está lá, todo dia postando algumas coisas a favor do seu "Micto" e muitas, mas muitas mesmo, contra Lula, contra o PT, contra Dilma e contra todos nós, petistas.

Quem chega de fora e entra no grupo "Eleições Municipais Capivari" imagina, pela frequência com que ele posta coisas contra o PT, que o partido deve estar no poder ao menos na minha cidade. O PT nunca, jamais governou Capivari. Teve apenas três vereadores (eu mesmo, por dois mandatos, o saudoso Derly Andriotti - meu companheiro de bancada no início dos anos 90 -, e Getúlio Pedro Ferraz, que me substituiu por três meses na câmara e hoje já não milita mais no partido, ausência pela qual muito sinto).

Enfim, o glorioso Donizeti, a quem chamo de Donizeti Mentiras Santos, ou simplesmente "Senhor Mentiras" - porque é um mentiroso contumaz -, é um incansável detrator do PT porque reconhece a força que tem o partido em âmbito nacional, mesmo sabendo que na minha cidade é frágil.

Hoje, em mais um ataque do infeliz a Lula (usando aquela imitação grosseira do ex-presidente sobre as "denúncias" de Antônio Palocci no Jornal Nacional), em que ele, em comentário, insiste na inverdade de que seu Micto "pelo menos não tem acusação de corrupção contra si e seu governo", deixei a seguinte resposta:

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"Prezado, é o seguinte.

O genocida está em pleno exercício do poder que lhe foi conferido. Aliás, 'pleno' não é a melhor palavra, porque ele se recusa a exercer os poderes mais espinhosos, aqueles que exigem maior senso de responsabilidade e comprometimento com o povo. Enfim, formalmente é o presidente e está na presidência.

Investigar um presidente enquanto presidente é muito difícil. Observe como as investigações sobre a morte de Marielle Franco pararam desde que ele assumiu o cargo.

Ele - ao contrário de Lula e Dilma - controla com rédea curta o Procurador Geral da República, a quem 'compra' com insistentes promessas de conduzi-lo ao STF. O PGR é a única autoridade no país, por definição da Constituição, com competência para denunciar o presidente da República por crime comum.

Afora a morte de Marielle, estão paradas também as investigações da corrupção praticada por ele próprio durante os 28 anos em que vegetou como deputado federal, corrupção fofamente chamada de 'rachadinha'.

Recentemente, eclodiu o 'bolsolão', ou 'tratoraço', que é a compra dos deputados e senadores, basicamente os do 'Centrão' (que ele jurou que jamais de uniria a eles...), com emendas do orçamento, destinadas principalmente à aquisição superfaturada de tratores.

O 'bolsolão' é infinitamente maior, em valores, do que se dizia do célebre 'mensalão'.

Comprados os agentes políticos que poderiam investigá-lo, impossibilitam-se as investigações.

Além de controlar seu principal investigador, o PGR, BolsoNero controla dentro de casa a Polícia Federal e todos os mecanismos internos que poderiam iniciar investigações contra ele e seus ministros, como a CGU, hoje praticamente extinta por ele e seu ex-ministro, outro 'herói nacional' (sqn), Sérgio Moro.

Fatos simples, como o passeio da alegria do Hélio Negão, do Max Moura, do Arnesto que não pediu desculpas, do Dudu Bananinha e do Fábio WajTarde a Israel, a tal viagem 'para não ver' o spray nasal, esse honesto governo que você venera decretou sigilo por cinquenta anos!

Além do sigilo da viagem, decretou o sigilo dos gastos expressivos com as férias do Micto, dos milionários gastos com cartões corporativos dele e Michelle e de tudo o que pode comprometer ou iniciar uma investigação sobre a 'honestidade' do seu despresidente.

Esse seu governo 'sem corrupção' tem feito o que pode para esconder dados e fatos suspeitos, burlando a lei de acesso às informações e a lei da transparência, ambas vigentes desde os tempos do "corrupto" presidente Lula...

Interessante o contraponto, não é mesmo?

Há ainda o já esquecido, a despeito de pouco explorado, episódio do escândalo de Itaipu, ao qual a mídia deu pouca atenção, mas que envolveu grana muito elevada.

Isso tudo, meu caro, começará a vir à tona com toda a força a partir do dia seguinte ao que ele deixar, por encerramento natural do mandato ou pelo inevitável impeachment, a presidência da República e perder o foro privilegiado - que ele e filhos tanto condenaram enquanto era 'para os outros' -, e perder as rédeas da Polícia Federal e do Ministério Público Federal.

Note - e talvez você não saiba, ou não se lembre, ou não queira se lembrar - que durante os oito anos em que Lula foi presidente ele, sem toda essa sanha controladora de BolsoNero, não foi alvo de NENHUMA investigação. Nem Dilma, que, aliás, sofreu poucas investigações e foi absolvida em todas.

Lula, meu caro, deixou o governo em 2011 e só em 2015 - portanto, quatro anos depois - surgiram as primeiras acusações, as primeiras investigações, já no bojo da antes feroz e hoje falecida 'Operação Lava Jato', levada a efeito pela Organização Criminosa de Curitiba que tinha por objetivos golpear Dilma, impedir Lula de retornar à presidência e extinguir o PT. Ou seja, apenas serviu de instrumento político de uma elite burguesa que já não tolerava mais os avanços sociais dos governos petistas. E que foi fundamentalmente útil para a eleição de BolsoNero.

E o que se tem hoje, depois de todo vendaval contra Lula e Dilma e o PT? Lula de volta ao cenário político, firme e forte, reconhecidamente inocente, liderando as pesquisas de opinião sobre a próxima eleição presidencial.

Mas não tema. Se seu santo Micto for mesmo honesto como Lula, como Dilma, por mais graves que sejam as injustiças que venham a cometer contra ele, no final das contas ele vencerá. Lula e Dilma venceram todas as falsas acusações, todas as mentiras, todas as feiquinius, toda a sordidez que lhes impuseram no caminho.

Tenha fé. Nada é mais forte do que a Verdade e do que a verdadeira Honestidade.

Força aí. Quero vê-lo na vigília diante da Papuda dizendo, meses a fio, faça sol ou faça chuva, enfrentando o frio e o calor, dizendo pela manhã 'bom dia, presidente BolsoNero', na hora do almoço 'boa tarde, presidente BolsoNero' e antes do sagrado descanso na barraquinha 'boa noite, presidente BolsoNero'!"

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PS.: Pesquisando no perfil desse Donizeti Mentiras Santos, vi que ele é de São Miguel Arcanjo, reside em São Roque e trabalha na empresa 3 Corações, em Araçariguama, às margens da Rodovia Castelo Branco. Não tem nada a ver com Capivari. Sequer tem amigos nesta cidade. Detectei um único "amigo em comum", da cidade de Rafard.

07/05/2023

Desmascarando a Vizinha de Infância

Adoro meus amigos de infância. E sou sincero, adoro mesmo.

Gosto ao ponto de tentar fazê-los acordarem dessa catarse coletiva chamada "bolsonarismo".

Quando a amiga me diz "não quero saber das suas explicações", sei que ela quer dizer "não quero saber da verdade".

Mas eu insisto em levar a verdade aos meus amigos.

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C***, querida. Sou fã de sua simpatia transbordante, dessa sua elegância, da sua educação!

Acho interessantes vocês.

Ouvem ou leem uma feiquinius, têm ânimo para reproduzir a feiquinius, para sair comentando, para espalhá-la, mas na hora do desmentido fazem-se de desentendidos.

Para quem teve preguiça de ver o vídeo, espero que não a tenha para ler a reprodução.

Fiz especialmente para vocês!

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DESMASCARANDO:

Pessoal, eu queria abrir este vídeo da noite mostrando que a Bandeirantes cometeu um erro grosseiro, tá. Espalhou erro grosseiro sobre o preço do hotel do Lula. Essa feiquinius foi vasta... está sendo, né, vastamente utilizada pelos bolsonaristas. Então, foi uma vergonha total. E aí eles fizeram um editorial agora à noite se retratando. Não adianta.

O estrago já foi feito:

"REPÓRTER BAND (defronte o hotel): a informação que eu tenho é que o Lula e a primeira dama vão ficar hospedados na suíte real, no sétimo andar, e a diária pode chegar a 15 mil libras, o equivalente a quase 95 mil reais

LOCUTORA BAND (estúdio): Mas isso é cortesia da Coroa britânica ou a gente paga a conta?

LOCUTOR BAND (estúdio): só pra dormir?

OUTRA LOCUTORA BAND (estúdio): é, isso é importante (risos).

REPÓRTER BAND: pois é. A gente tá em contato com o governo brasileiro desde ontem, porque a informação que eu tenho é que é uma conta paga pelo governo brasileiro"

(CORTE)

"OUTRO LOCUTOR BAND (estúdio): o grupo Band havia divulgado ontem que o preço da diária do hotel em Londres onde o presidente Lula se hospedou poderia chegar a 95 mil reais. Mais tarde, no Jornal da Band, uma fonte do governo informou que não passou de 40 mil reais a diária paga. Agora está confirmado, o preço pode chegar a, no máximo, 37 mil reais. Lamentamos a distorção da notícia publicada antes".

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DESMASCARANDO: Bem, eu queria comentar duas coisas sobre isso. Primeiro uma reportagem de 14 de fevereiro do ano passado:

"Bolsonaro fica em hotel de 100 mil reais e banheiro de mármore. Viagem de Bolsonaro à Rússia acontece em momento de enorme tensão na região" (lendo o jornal Metrópoles).

E aí eu também sugiro uma matéria:

"FHC faz sua última viagem ao exterior", dia 8 de dezembro de 2002.

Sugiro a leitura porqué e é uma matéria em que o repórter, em tom totalmente amigável, né, o repórter mostra ali o quanto o hotel é bom, mostra as coisas, comenta as coisas que tem no quarto e tal, mas num tom muito ameno, inclusive tira uma foto do FHC mostrando a banheira lá do quarto do hotel.

Então, essa marcação especial com o Lula pode ter realmente uma origem na questão social dele, enfim, que ele teve uma origem simples, não sei. Porque, realmente, que existe uma pegada especial, uma cobrança especial em relação a ele...

Todo presidente do Brasil fica em hotéis excelentes. Agora, quando chega com ele, não pode

25/03/2023

Maldita Mídia Velha

“Eu me lembro com saudade o tempo que passou", cantava o jovem Roberto Carlos na virada dos anos sessenta para setenta do século passado, hoje expoente da boa e velha guarda da MPB, versos que o eterno rei completava com o refrão "velhos tempos, belos dias".

O adjetivo "velho" tem diversas acepções. Quando dizem de mim, por conta dos cabelos em neve e à porta da idade que me outorgará a condição oficial de idoso, em geral assim tachado por gente com bem menos tempo de juventude do que eu, costumo dizer que torço para que a natureza contemple meu interlocutor com a bênção da velhice, esta mesma com a qual ele crê me achincalhar, porque a única alternativa a ela será uma experiência sobre a qual ele não estará aqui para contar como terá sido.

Noutra acepção, como na bela canção do rei hoje octogenário, "velho" traz à mente algo bom, agradável, reconfortante, nostálgico. Essa concepção acaba me deixando incomodado sempre que leio ou ouço o tratamento que se dá ao jornalismo cativo como "velha mídia". Soa fofo e pode despertar uma nostalgia que não corresponde à realidade. Quem, como eu, acompanha desde tenra idade a mídia brasileira sabe como ela se comportou nesses anos todos. Ela, de fato, envelheceu, e envelheceu muito mal.

Não a trato, por isso, por "velha mídia". Basta uma singela mudança de posições e tenho o que considero uma construção melhor: "mídia velha". Os canalhas envelhecem e isso se deu também com o jornalismo comandado por meia dúzia de famílias que dirigem a Casa Grande.

Hoje, porém, vi-me obrigado a atribuir outro qualificativo: maldita.

Lula deu uma longa entrevista à TV Brasil 247, serena, responsável, proveitosa. Falou de sua saga no combate pela redução dos juros, de seu empenho em criar empregos, da promissora viagem à China, dos vários programas sociais que vem implementando e que pretende realizar - um manancial de informações a serem exploradas pelos espectadores e pelos demais veículos de comunicação do país.

De uma entrevista de quase duas horas, a mídia velha destacou menos de dez segundos em que, em dado momento, o presidente permitiu-se rememorar o que dizia a procuradores que o visitavam na carceragem de Curitiba, lá entre 2018 e 2019. Quando lhe perguntavam se tudo estava bem, ele respondia que "estará bem quando eu ‘f***r’ o Moro". Contou isso com serenidade, rindo, depois de um momento de emoção ao relembrar a dor que o ex-juiz lhe impingira ao submetê-lo a um processo de desmoralização e destruição de sua imagem.

Processo que, a reboque, levou-lhe a esposa, morta por conta da hipertensão causada pelas mentiras que contavam Moro e a mídia velha sobre o marido e filhos. Que lhe custou não poder ir ao velório do próprio irmão e ter de ficar tempo mínimo no do neto de sete anos de idade. Que também levou à morte da indústria naval, à destruição da construção civil, de milhões de empregos, da economia nacional e do estado democrático de direito. E que ainda retirou da corrida presidencial o candidato que liderava as intenções de voto porque encarnava a esperança do povo brasileiro pela volta das tantas alegrias dos velhos tempos, dos belos dias de crescimento econômico, inclusão e ascensão social.

Moro promoveu a maior fraude eleitoral da história e, literalmente, “f***u” Lula e o Brasil.

Com muita perseverança e invejável capacidade de resiliência, contando com uma defesa judicial aguerrida e competente promovida pelo próximo ministro do STF Cristiano Zanin e equipe, Lula deu o troco. Desmascarou o juiz parcial e odiento que extrapolou todos os limites éticos e jurídicos para “f***r” o petista. Enfim, Lula, sem ultrapassar os limites do devido processo legal, praticou a justa vingança só admitida pela sociedade moderna se e quando praticada pelo Estado, que detém o monopólio punitivo, com plena observância das leis e princípios jurídicos. Assim foi que ele se vingou. E, realmente, “f***u” Moro.

Na entrevista, portanto, Lula referiu-se a um desejo e a uma promessa já cumpridas e apenas contou o que era sabido por todos, ou ao menos intuído. Quem, que não tenha sangue de barata, não diria em privado que gostaria de “f***r” um seu algoz de tal magnitude em semelhante situação? Quem, senão alguém que fosse capaz de flutuar acima dos demais seres humanos?

Lula é humano, demasiadamente humano, e por mais que pregue a paz e não guarde ódio, nem alimente espírito de vingança, tem também seus momentos de desabafo em que se dá ao luxo de exteriorizar resíduos de ressentimentos ainda não completamente cicatrizados.

A mídia velha, no entanto, teve a audácia de abrir a Moro e seu dalanholzinho amestrado tempos jamais concedidos a Lula quando estes o “f**iam” dia sim, dia também. Não bastasse, essa mesma imprensa comprometida com o capital e isenta de qualquer compromisso com a verdade e com a vontade popular ainda se deu ao desplante de atribuir a Lula a condição de “desequilibrado”, com ameaças até de “impeachment”.

Ora, ausência de equilíbrio revelou o hoje senador paranaense já ao tempo em que essa característica lhe era exigida por lei, por dever de ofício. Um desequilibrado político, então maldisfarçado sob a toga, que condenou o então ex-presidente por um crime inexistente, inocorrido, improvado. Que fez malabarismo jurídico para o condenar por corrupção passiva porque uma empreiteira “atribuiu” a Lula um certo imóvel que este recusou. “Atribuir” não corresponde a nenhum dos três verbos que tipificam o crime em questão (art. 317 do Código Penal), que são “solicitar”, “receber” ou “aceitar” (a promessa de receber) vantagem indevida (propina; no caso, o tal apartamento tríplex no Guarujá). Lula não “solicitou”, não “recebeu”, nem “aceitou” promessa alguma, mas o canalha togado afirmou, na sentença, que o condenava porque a OAS havia “atribuído” o imóvel a ele.

Insuficiente o fundamento, ainda assinalou na mesma sentença que o condenava por “atos de ofício indeterminados”. Incapaz de apontar um ato de ofício ou uma omissão em relação a dever de ofício que Lula houvesse praticado ou deixado de praticar para favorecer a OAS de modo a justificar o apartamento “atribuído” a ele – uma exigência do tipo penal –, o canalha apelou para a indeterminação dos atos.

Ainda carente de sustentação sólida e vendo que não havia como caracterizar a posse do imóvel pelo ex-presidente, muito menos a propriedade do imóvel em favor de Lula, porque escritura não houve, porque registro imobiliário não houve, porque desfrute do imóvel não houve (nem por si, nem por outrem), o mesmo canalha recorreu à criatividade e inventou uma tal “propriedade de fato”, que não é propriedade, nem posse, nem coisa alguma.

Canalha, canalha, canalha! Três vezes canalha, como disse Tancredo Neves ao presidente da Câmara que cassou o mandato de João Goulart em 1964 por estar “ausente do país” num momento crítico, quando na verdade Jango se encontrava no interior do Rio Grande do Sul. Algo parecido com o que se tentou fazer em 8 de janeiro deste ano, sem sucesso, quando a Democracia brasileira foi salva graças à tecnologia do whattsapp e à argúcia do ministro Flávio Dino, experiência – a de 1964 – que pode voltar a se repetir durante a viagem de Lula à China. Mantenha-se alerta, ministro!

Mas três vezes canalha não é a medida exata de Sérgio Moro. A despeito de ter sua vida salva por uma pronta, eficiente e competente ação da Polícia Federal do governo republicano liderado por Lula, sob a batuta do ministro Dino, o ex-juiz suspeito e sempre canalha aproveitou-se da fala do presidente da República para atacar quem salvou a si e à sua família. Um ingrato, um desalmado, um injusto e, sobretudo, ele sim, um desequilibrado, porque foi à mídia velha dizer que ao mencionar que, no passado, Lula alimentava o desejo já realizado, o presidente estaria terceirizando aos seus seguidores a tarefa de promover algo grave contra o atual senador e familiares, associando a fala aos planos da quadrilha do PCC. Algo surreal e desconcatenado que não resiste a um raciocínio minimamente lógico e inteligente, mas faz todo o sentido para os que habitam a terra plana em constante estado de desequilíbrio emocional e cognitivo.

E com maior desequilíbrio agiu o ensandecido ex “preocupador da República”, aquele que seguiu o exemplo de seu “coach” de toga e também abandonou carreira jurídica sólida para aventurar-se no terreno movediço da Política, o ungido das faces róseas a quem foi concedido espaço e tempo igualmente longos na mídia velha para associar a fala de Lula à quadrilha desbaratada e presa pela Polícia comandada, em última instância, pelo atual presidente.

Um bando de canalhas desequilibrados que arruinaram a própria biografia e hoje estão desesperados por conta de sanções que vêm sofrendo por parte do CNJ e do TCU, por conta dos excessos cometidos. Dallagnol chegou ao cúmulo de caracterizar o CNJ, o TCU e o presidente da República como extensões do “crime organizado” associado ao PCC. Isso em meio ao prende-e-solta do doleiro Alberto Youssef e às vésperas do depoimento do advogado Tacla Duran ao juiz Eduardo Appio, na próxima segunda-feira, com potencial para promover estragos irreparáveis à desmoralizada OrCrim da Lava Jato. O medo, de fato, leva a atitudes descontroladas.

E a quem a mídia velha resolveu tachar de “desequilibrado”? Exatamente ao presidente Lula, sobretudo depois que este, em nova entrevista, esta concedida “no meio da rua”, abriu os olhos da Nação para a armação do circo e do palanque que Moro resolveu montar juntando a frase dita ao Brasil 247 ao plano da quadrilha do PCC desvendado pela Polícia Federal. Logo Lula, que em cada aparição pública faz questão de frisar, com evidente sinceridade, que não guarda ódio no coração, que não age por vingança. Exatamente ele que havia acabado de dar um “pito” na companheirada radical de Pernambuco que, num evento da presidência da República, vaiou e deu as costas à governadora Raquel Lira só por ela ser do PSDB, que lá estava a convite do presidente, gestos que o reafirmam como estadista detentor de absoluto equilíbrio.

Ao longo desses anos todos em que atacou desmedidamente Lula e o PT, a mídia velha deixou cravado na História do jornalismo brasileiro o quão desequilibrada é capaz de ser e, de fato, foi e continua sendo. Mídia velha, carcomida e maldita! “Apesar de você”, como segue cantando outro ícone da velha guarda da MPB, é pelas mãos do seu “desequilibrado” Lula que estão retornando todas as alegrias dos belos dias, dos bons e velhos tempos.

(Luís Antônio Albiero, em Capivari, SP, aos 25 de março de 2023)

29/01/2023

Coisas Idiotas

Uma conhecida de minha cidade, de prenome Ana Paula, chamou-me de "imbecil", "hipócrita" e que escrevo "coisas idiotas" numa publicação de minha prima M* P*, e reservou os piores "elogios" a Lula. Enfim, coisas tão estúpidas que me recuso a reproduzir. E que mais dizem sobre ela própria do que sobre aquele a quem ela pretendeu atingir.

Deixei lá, na postagem da prima, o seguinte comentário:

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"É curioso.

Lula tem quase oitenta anos, acabou de se casar, sofreu perseguição, ficou preso injustamente por 580 dias, mas era o único brasileiro capaz de vencer o fascismo crescente no país.

Poderia estar curtindo a lua-de-mel, poderia estar curtindo a velhice com a família, com a esposa, filhos, netos e bisneta, viajando mundo afora, mas ele tinha consciência de que era o único capaz de derrotar o fascismo.

Não titubeou.

Ele, sim, entregou a vida que lhe resta para servir ao país.

E tem-se esforçado em transmitir amor, sinceramente desejoso de fazer este país voltar à normalidade civilizatória. Para que as famílias voltem a conviver em paz, respeitando as diferenças de ser e de pensar de cada um.

Apesar de todo o esforço, os rancorosos insistem em devolver a ele todo ódio que com tanto zelo cultivaram em seus corações.

Que os céus se apiedem dessas pobres almas."

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10/01/2023

O Médico que Virou Caminhoneiro

O médico da minha cidade que foi a Brasília justamente no dia da "Revolta dos Manés" - olha que coincidência! - emitiu uma nota esclarecendo a situação, que achei muito crivel. Afinal, trata-se de gente de bem, cristã e pacífica.

No afã de colaborar com ele, sugeri apenas que faça alguns retoques.

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Meu caríssimo Dr. A***, esse seu álibi precisa de uns pequenos ajustes.

Você saiu de Capivari ("partiu Brasília", há vários prints espalhados pelas redes sociais locais) na véspera da "Revolta dos Manés". Na nota, afirma que foi visitar o filho que lá reside. Na sequência da viagem, no domingo, foi ao restaurante com a mesma camisa e o mesmo boné com que saiu da terrinha... Restaurantes em Brasília devem ser chiques. Imagino o constrangimento do doutor por ter de ir com a camisa suada da viagem. Se foi de carro, o amigo rodou 920km, 11h46min de estrada. Uns pequenos retoques serão suficientes, acredito.

Só ficou sabendo dos acontecimentos pela mídia e foi à praça de guerra "só pra ver". Perfeito. Fez questão, porém, de gravar um vídeo debaixo da cúpula invertida da Câmara dos Deputados, em que xingou as mães dos policiais militares que, cumprindo seu dever, haviam espargido gás lacrimogêneo para tentar dispersar a patuleia ignara e enlouquecida, e ainda afirmou com todas as letras que "tem mesmo que matar esses caras". Devia ter ouvido seu advogado antes de gravar, mas acho que ainda dá para consertar.

Afirma na nota que "socorreu uma senhora" que havia sido atingida pelas bombas de efeito moral "até a ambulância chegar". Não duvido, nem um pouco. Só acho estranho é que nos incontáveis vídeos da quebradeira geral que os "pacíficos" manifestantes praticaram, que eles mesmos gravaram e fizeram questão de espalhar pela internet (que falta faz um advogado!), não vi uma única ambulância por ali... Não descreio da sua palavra, porém.

Imagino que o amigo esteja com alguma dificuldade, pois não teve outras camisas para levar na mala de viagem de visita ao filho. Isso me fez lembrar de tê-lo visto com os caminhoneiros organizando as manifestações que trancaram rodovias nos dias seguintes à vitória do presidente Lula. Até pensei, coitado, teve que mudar de profissão, virou caminhoneiro... É, a vida está difícil para todo mundo. Tempos melhores hão de vir, tenha fé. Aliás, já se iniciaram.

(Foto: Real Furgões)

Quanto aos outros - falo dos outros, não do doutor -, eles aprenderam na marra que atentar contra a Democracia, contra as instituições, não é mole não. Os golpistas bolsoterroristas hão de pagar por tudo o que fizeram, pelos prejuízos materiais e pelos imateriais. Espero que o amigo se livre dessa. Conselho de advogado, no entanto: melhore esse álibi, pois há considerável risco de os federais não o levarem muito a sério.

Abraços.

Por nada.

09/01/2023

Os Patriotas e Sua Batalha de Ásculo

Pensando bem, os autoproclamados "patriotas" conseguiram seu objetivo.

Sem um propósito claramente definido, eles adentraram de modo forçado às sedes dos três Poderes da República, como há tempos desejavam. Um feito inestimável.

Arrebentaram tudo o que puderam. Quebraram enormes estruturas de vidro, rasgaram estofados, esfaquearam obras de arte, arrombaram portas, roubaram armas, destruíram computadores e documentos. Com igual fervor patriótico, atiraram o Brasão da República ao chão, deixando-o ao relento, expulso de um dos palácios. Tão à vontade se sentiram que urinaram e defecaram pelos corredores. Fizeram, ora pois, uma "cagada" federal.

Saíram da gloriosa empreitada carregando diversos troféus, como a porta do gabinete do ministro Alexandre de Morais e a versão original da Constituição de 88. Gravaram vídeos e tiraram selfies em animados colóquios com soldados do exército e da polícia militar. Deixaram, enfim, a praça dos Três Poderes felizes e cantando vitória, convencidos de que haviam alcançado seu intento, fosse ele qual fosse.

Como cães que rosnam para pneus e correm atrás de automóveis, porém, não souberam o que fazer quando o carro parou. Eles subjugaram o Legislativo, o Executivo e o Judiciário do país. Vandalizaram e tocaram o terror. Chegaram ao ápice de adentrar o gabinete do presidente da República, palco das mais importantes decisões da vida nacional. E o que, afinal, fizeram com toda essa conquista? Mudaram alguma coisa na estrutura institucional do país? General Heleno é o presidente? Há uma junta militar a nos governar? BolsoNero voltou triunfante do esconderijo para o qual fugiu como gatinho assustado?

Não, nada disso.

O episódio serviu ao menos para acabar com a fantasia dos patriotários alimentada por setenta dias de acampamento diante de quartéis. Por mais violentos que eles sejam capazes de se mostrar, não passam de um bando de equivocados, abilolados, imbecilizados pelo fanatismo que dedicam a um ídolo de pés de barro. A esta altura, com mais de mil deles detidos na Academia da Polícia Federal de Brasília aguardando o momento de prestar depoimento, já devem ter a consciência de que de fato e de direito o Brasil tem um novo governo e que o presidente atende pelo nome de Luiz Inácio Lula da Silva, hoje mais forte do que no dia da eleição.

A "Tomada de Brasília" revelou-se uma reedição tupiniquim da célebre "Batalha de Ásculo". Repetindo o gesto do rei de Epiro e da Macedônia, felicito a todos os soldados "cabeças-de-papel" por essa histórica e tragicômica vitória de Pirro.

(Luís Antônio Albiero, em Jacareí, SP, aos 9 de janeiro de 2023)

(Imagem: "A Vitória de Pirro", Wikipedia)