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30/06/2023

Sorte o Sirva

“Sorte ele, seu juiz! Sorte ele, dotô!”, esgoelava meu amigo de Capivari, o Nivardo, gente dos Borba, caprichando no gostoso sotaque característico de cá dos lados de Piracicaba.

O Nivardo assim berrava em um dia em que esteve na vigília, em Curitiba, defronte o prédio da polícia federal. Fazia sol e uma revoada de marrecos cruzava os céus da cidade onde o então ex-presidente fora confinado pelo juiz que, em seu linguajar também peculiar, falava e ainda fala “conje”, “cupção” e “depedrar”, dentre inúmeros outros estranhos vocábulos de uma língua à qual um ministro designou como “morês”. “Muito semelhante ao português”, explicou o supremo malvado favorito.

Por mais que o Nivardo arrebentasse a própria goela e estourasse os tímpanos dos circunstantes, o fato é que o juiz ladrão não “sortava” o ex-presidente.

Água mole e berro caipira tanto batem que um dia chegam ao Supremo Tribunal Federal. Lá, finalmente, outro ministro, também paranaense, depois de tanto fazer ouvidos moucos ao advogado noivacolinense, eis que se mostrou todo ouvidos às súplicas do meu conterrâneo. E o preso político foi “sorto”. Graças, evidentemente, ao meu amigo, o Nivardo Borba e seus berros d’água.

O político, que da cela ouvia com alguma dificuldade os brados de “sorte, sorte” do Nivardo, tomou-os como uma bênção e se tornou, de fato e de direito, um homem de sorte. E bota sorte nisso. Tanta sorte que assim que foi “sorto” ganhou a eleição e conquistou seu triplex, seu terceiro mandato presidencial.

Mal tomou posse e já de cara teve de enfrentar uma tentativa de golpe de Estado. Conseguiu evitá-lo, segurando na unha a Democracia que escapava como touro bravo. Puro golpe. De sorte, claro.

No sexto mês de seu governo, por sorte o país já respirava aliviado. Por sorte, os preços começaram a baixar. Por sorte, o dólar iniciou um movimento de queda vertiginosa. Por sorte, o Congresso aprovou o arcabouço fiscal. Por sorte, tudo começou a dar certo, pondo fim e cabo aos seis anos de temeridades, destruição e azares bolsonarentos (toc, toc, toc na madeira, mangalô três vezes!!!).

Os jornais passaram então a registrar em editoriais e manchetes de primeira página que todos os avanços, todas as conquistas, eram pura sorte. A Globo News, o Merval e toda a mídia de cativeiro só falavam nos bons fados, nos bafejos benfazejos do destino que passou a nos sorrir.

A inflação em baixa, sorte. Os empregos e os salários em alta, sorte. Os descontos nos carros populares, sorte. A picanha e a cerveja de volta aos finais de semana, nada mais do que sorte.

Foi por sorte que o Brasil recuperou sua imagem e seu lugar de destaque na geopolítica internacional. Por sorte foram conquistados bilhões de dólares para socorrer a Amazônia.

Descobrimos que somos um povo de sorte, de muita sorte. Que, no caso, tem nome e sobrenome. Atende por Luiz Inácio Sorte da Silva. Temos a sorte de o termos vivo e forte na presidência da República, já pela terceira vez e a caminho da quarta.

Sorte maior, digo no entanto, a bem da justa justiça e da verdade verdadeira, é termos o Nivardo Borba, o caipira cá de Capivari, que tem tudo a ver com essa “sorte tuda”.

(Luís Antônio Albiero, de Capivari, SP, aos 30 de junho de 2023)

23/06/2023

Plot Twist

Era uma vez um juiz de certa capital agrícola de um modesto estado de seu país que tinha por esporte predileto maltratar advogados com os quais interagia nas lides judiciais.

Muito vaidoso, deu-se conta o pretor, certo dia, de sua insignificância. Inconformado, resolveu projetar seu nome empreendendo perseguição logo ao líder político mais amado da nação. Tal empreitada tornou-o, de fato, conhecido por todo o país e pelo mundo afora.

O juiz humilhou o líder mais amado, a quem condenou e mandou prender sem crime nem prova alguma, e, com o advogado deste, praticou o esporte de sua preferência.

Por tal proeza, passou o magistrado a ser tratado como herói nacional. Além da fama, amealhou muito capital promovendo palestras para ricos empresários em que expunha o seu cativo como se este fosse um ser humano exótico, a exemplo dos selvagens que, em séculos recentes, eram apanhados de tribos da América do Sul e da África e exibidos como monstros em espetáculos públicos na Europa.

Com seu modo peculiar de exercer a magistratura, sem qualquer limite ético ou legal, abriu e pavimentou o caminho para a eleição, ao cargo de presidente da República, de um opositor de seu enclausurado, um sujeito desprovido de qualquer brilho, espécie de palhaço sem graça conhecido por suas diatribes e verborragia extremista.

Eleito o adversário de seu prisioneiro, o juiz ofereceu ao vitorioso a própria alma, com a condição de que em retribuição lhe fosse concedido ascender à excelsa judicatura.

O presidente recém-empossado levou-o então para o seu governo. Deu-lhe status de ministro e muito poder, com promessa de conduzi-lo ao tribunal mais elevado do país. Não tardou, porém, para tratá-lo como cão sarnento e dar-lhe um insultante chute no traseiro.

Ainda assim, o ex-juiz, como cachorrinho desprezado pelo dono, para ele voltou correndo, rabinho entre as pernas e a cara pidonha dos animaizinhos carentes de afeto e ração. Com auxílio envergonhado do antigo dono e ainda valendo-se da fama que obtivera com a prisão do líder mais amado da nação, o venal ex-magistrado acabou eleito senador por seu estado de origem.

Já o mais amado, por conta das injustiças que contra si empreendera o ex-juiz, eis que fora enfim libertado da masmorra em que estivera confinado. No primeiro pleito seguinte, derrotou seu opositor e foi novamente eleito presidente da República. Logo indicou, para ocupar vaga na corte suprema, o seu próprio advogado, o mesmo que com galhardia e competência houvera enfrentado as arbitrariedades do antigo herói de renome internacional e pés de barro.

Para valer a nomeação, todavia, o advogado teve de se submeter a uma sabatina no senado, como determinava a Constituição.

Quis o destino que o primeiro a lhe dirigir perguntas fosse exatamente o cachorrinho, agora elevado à condição de senador da República, graças ao apoio do Calígula dos trópicos defenestrado da presidência, embora ele próprio prestes a perder o cargo em razão das ilicitudes que cometeu no trânsito entre a magistratura e a política.

Na câmara alta do Parlamento, o Incitatus tupiniquim, em sua versão canina, emitiu uns grunhidos, uns latidos tímidos, mais próximos do grasnado abafado de marreco, aos quais o fleumático advogado respondeu com argúcia e respeitosas sutilezas, esbanjando sabedoria. Para desalento do parlamentar que abdicara da toga em busca do sonho supremo, o causídico teve seu nome aprovado por ampla maioria dos senadores.

Plot twist: o cachorrinho, que tudo fizera para alcançar seu desejo de chegar ao tribunal mais importante da federação, eis que acabou atuando como coadjuvante na cena final em que ao cargo por ele almejado ascendeu justamente seu desafeto, a quem, em passado recente, houvera tratado como rábula ordinário, com imenso desprezo, desrespeito e humilhação.

Que baita enredo, que final inesperado! Que história sensacional!

(Luís Antônio Albiero, de Capivari, SP, em Jacareí, SP, aos 23 de junho de 2023)

25/03/2023

Maldita Mídia Velha

“Eu me lembro com saudade o tempo que passou", cantava o jovem Roberto Carlos na virada dos anos sessenta para setenta do século passado, hoje expoente da boa e velha guarda da MPB, versos que o eterno rei completava com o refrão "velhos tempos, belos dias".

O adjetivo "velho" tem diversas acepções. Quando dizem de mim, por conta dos cabelos em neve e à porta da idade que me outorgará a condição oficial de idoso, em geral assim tachado por gente com bem menos tempo de juventude do que eu, costumo dizer que torço para que a natureza contemple meu interlocutor com a bênção da velhice, esta mesma com a qual ele crê me achincalhar, porque a única alternativa a ela será uma experiência sobre a qual ele não estará aqui para contar como terá sido.

Noutra acepção, como na bela canção do rei hoje octogenário, "velho" traz à mente algo bom, agradável, reconfortante, nostálgico. Essa concepção acaba me deixando incomodado sempre que leio ou ouço o tratamento que se dá ao jornalismo cativo como "velha mídia". Soa fofo e pode despertar uma nostalgia que não corresponde à realidade. Quem, como eu, acompanha desde tenra idade a mídia brasileira sabe como ela se comportou nesses anos todos. Ela, de fato, envelheceu, e envelheceu muito mal.

Não a trato, por isso, por "velha mídia". Basta uma singela mudança de posições e tenho o que considero uma construção melhor: "mídia velha". Os canalhas envelhecem e isso se deu também com o jornalismo comandado por meia dúzia de famílias que dirigem a Casa Grande.

Hoje, porém, vi-me obrigado a atribuir outro qualificativo: maldita.

Lula deu uma longa entrevista à TV Brasil 247, serena, responsável, proveitosa. Falou de sua saga no combate pela redução dos juros, de seu empenho em criar empregos, da promissora viagem à China, dos vários programas sociais que vem implementando e que pretende realizar - um manancial de informações a serem exploradas pelos espectadores e pelos demais veículos de comunicação do país.

De uma entrevista de quase duas horas, a mídia velha destacou menos de dez segundos em que, em dado momento, o presidente permitiu-se rememorar o que dizia a procuradores que o visitavam na carceragem de Curitiba, lá entre 2018 e 2019. Quando lhe perguntavam se tudo estava bem, ele respondia que "estará bem quando eu ‘f***r’ o Moro". Contou isso com serenidade, rindo, depois de um momento de emoção ao relembrar a dor que o ex-juiz lhe impingira ao submetê-lo a um processo de desmoralização e destruição de sua imagem.

Processo que, a reboque, levou-lhe a esposa, morta por conta da hipertensão causada pelas mentiras que contavam Moro e a mídia velha sobre o marido e filhos. Que lhe custou não poder ir ao velório do próprio irmão e ter de ficar tempo mínimo no do neto de sete anos de idade. Que também levou à morte da indústria naval, à destruição da construção civil, de milhões de empregos, da economia nacional e do estado democrático de direito. E que ainda retirou da corrida presidencial o candidato que liderava as intenções de voto porque encarnava a esperança do povo brasileiro pela volta das tantas alegrias dos velhos tempos, dos belos dias de crescimento econômico, inclusão e ascensão social.

Moro promoveu a maior fraude eleitoral da história e, literalmente, “f***u” Lula e o Brasil.

Com muita perseverança e invejável capacidade de resiliência, contando com uma defesa judicial aguerrida e competente promovida pelo próximo ministro do STF Cristiano Zanin e equipe, Lula deu o troco. Desmascarou o juiz parcial e odiento que extrapolou todos os limites éticos e jurídicos para “f***r” o petista. Enfim, Lula, sem ultrapassar os limites do devido processo legal, praticou a justa vingança só admitida pela sociedade moderna se e quando praticada pelo Estado, que detém o monopólio punitivo, com plena observância das leis e princípios jurídicos. Assim foi que ele se vingou. E, realmente, “f***u” Moro.

Na entrevista, portanto, Lula referiu-se a um desejo e a uma promessa já cumpridas e apenas contou o que era sabido por todos, ou ao menos intuído. Quem, que não tenha sangue de barata, não diria em privado que gostaria de “f***r” um seu algoz de tal magnitude em semelhante situação? Quem, senão alguém que fosse capaz de flutuar acima dos demais seres humanos?

Lula é humano, demasiadamente humano, e por mais que pregue a paz e não guarde ódio, nem alimente espírito de vingança, tem também seus momentos de desabafo em que se dá ao luxo de exteriorizar resíduos de ressentimentos ainda não completamente cicatrizados.

A mídia velha, no entanto, teve a audácia de abrir a Moro e seu dalanholzinho amestrado tempos jamais concedidos a Lula quando estes o “f**iam” dia sim, dia também. Não bastasse, essa mesma imprensa comprometida com o capital e isenta de qualquer compromisso com a verdade e com a vontade popular ainda se deu ao desplante de atribuir a Lula a condição de “desequilibrado”, com ameaças até de “impeachment”.

Ora, ausência de equilíbrio revelou o hoje senador paranaense já ao tempo em que essa característica lhe era exigida por lei, por dever de ofício. Um desequilibrado político, então maldisfarçado sob a toga, que condenou o então ex-presidente por um crime inexistente, inocorrido, improvado. Que fez malabarismo jurídico para o condenar por corrupção passiva porque uma empreiteira “atribuiu” a Lula um certo imóvel que este recusou. “Atribuir” não corresponde a nenhum dos três verbos que tipificam o crime em questão (art. 317 do Código Penal), que são “solicitar”, “receber” ou “aceitar” (a promessa de receber) vantagem indevida (propina; no caso, o tal apartamento tríplex no Guarujá). Lula não “solicitou”, não “recebeu”, nem “aceitou” promessa alguma, mas o canalha togado afirmou, na sentença, que o condenava porque a OAS havia “atribuído” o imóvel a ele.

Insuficiente o fundamento, ainda assinalou na mesma sentença que o condenava por “atos de ofício indeterminados”. Incapaz de apontar um ato de ofício ou uma omissão em relação a dever de ofício que Lula houvesse praticado ou deixado de praticar para favorecer a OAS de modo a justificar o apartamento “atribuído” a ele – uma exigência do tipo penal –, o canalha apelou para a indeterminação dos atos.

Ainda carente de sustentação sólida e vendo que não havia como caracterizar a posse do imóvel pelo ex-presidente, muito menos a propriedade do imóvel em favor de Lula, porque escritura não houve, porque registro imobiliário não houve, porque desfrute do imóvel não houve (nem por si, nem por outrem), o mesmo canalha recorreu à criatividade e inventou uma tal “propriedade de fato”, que não é propriedade, nem posse, nem coisa alguma.

Canalha, canalha, canalha! Três vezes canalha, como disse Tancredo Neves ao presidente da Câmara que cassou o mandato de João Goulart em 1964 por estar “ausente do país” num momento crítico, quando na verdade Jango se encontrava no interior do Rio Grande do Sul. Algo parecido com o que se tentou fazer em 8 de janeiro deste ano, sem sucesso, quando a Democracia brasileira foi salva graças à tecnologia do whattsapp e à argúcia do ministro Flávio Dino, experiência – a de 1964 – que pode voltar a se repetir durante a viagem de Lula à China. Mantenha-se alerta, ministro!

Mas três vezes canalha não é a medida exata de Sérgio Moro. A despeito de ter sua vida salva por uma pronta, eficiente e competente ação da Polícia Federal do governo republicano liderado por Lula, sob a batuta do ministro Dino, o ex-juiz suspeito e sempre canalha aproveitou-se da fala do presidente da República para atacar quem salvou a si e à sua família. Um ingrato, um desalmado, um injusto e, sobretudo, ele sim, um desequilibrado, porque foi à mídia velha dizer que ao mencionar que, no passado, Lula alimentava o desejo já realizado, o presidente estaria terceirizando aos seus seguidores a tarefa de promover algo grave contra o atual senador e familiares, associando a fala aos planos da quadrilha do PCC. Algo surreal e desconcatenado que não resiste a um raciocínio minimamente lógico e inteligente, mas faz todo o sentido para os que habitam a terra plana em constante estado de desequilíbrio emocional e cognitivo.

E com maior desequilíbrio agiu o ensandecido ex “preocupador da República”, aquele que seguiu o exemplo de seu “coach” de toga e também abandonou carreira jurídica sólida para aventurar-se no terreno movediço da Política, o ungido das faces róseas a quem foi concedido espaço e tempo igualmente longos na mídia velha para associar a fala de Lula à quadrilha desbaratada e presa pela Polícia comandada, em última instância, pelo atual presidente.

Um bando de canalhas desequilibrados que arruinaram a própria biografia e hoje estão desesperados por conta de sanções que vêm sofrendo por parte do CNJ e do TCU, por conta dos excessos cometidos. Dallagnol chegou ao cúmulo de caracterizar o CNJ, o TCU e o presidente da República como extensões do “crime organizado” associado ao PCC. Isso em meio ao prende-e-solta do doleiro Alberto Youssef e às vésperas do depoimento do advogado Tacla Duran ao juiz Eduardo Appio, na próxima segunda-feira, com potencial para promover estragos irreparáveis à desmoralizada OrCrim da Lava Jato. O medo, de fato, leva a atitudes descontroladas.

E a quem a mídia velha resolveu tachar de “desequilibrado”? Exatamente ao presidente Lula, sobretudo depois que este, em nova entrevista, esta concedida “no meio da rua”, abriu os olhos da Nação para a armação do circo e do palanque que Moro resolveu montar juntando a frase dita ao Brasil 247 ao plano da quadrilha do PCC desvendado pela Polícia Federal. Logo Lula, que em cada aparição pública faz questão de frisar, com evidente sinceridade, que não guarda ódio no coração, que não age por vingança. Exatamente ele que havia acabado de dar um “pito” na companheirada radical de Pernambuco que, num evento da presidência da República, vaiou e deu as costas à governadora Raquel Lira só por ela ser do PSDB, que lá estava a convite do presidente, gestos que o reafirmam como estadista detentor de absoluto equilíbrio.

Ao longo desses anos todos em que atacou desmedidamente Lula e o PT, a mídia velha deixou cravado na História do jornalismo brasileiro o quão desequilibrada é capaz de ser e, de fato, foi e continua sendo. Mídia velha, carcomida e maldita! “Apesar de você”, como segue cantando outro ícone da velha guarda da MPB, é pelas mãos do seu “desequilibrado” Lula que estão retornando todas as alegrias dos belos dias, dos bons e velhos tempos.

(Luís Antônio Albiero, em Capivari, SP, aos 25 de março de 2023)

21/12/2021

Lula e a Consciência do seu Tempo

A realidade exige pragmatismo.

Lula tem consciência do momento e do papel que lhe cabe.

Que bom seria se pudéssemos apresentar uma chapa pura - Lula e Gleisi, Lula e Haddad, Lula e Dilma! Ou pelo menos de esquerda, Lula e Dino, Lula e Manuela, Lula e Freixo, Lula e Boulos...

Não agregaria nada, não geraria simpatias, muito pelo contrário. Seria demonstração de sectarismo, de arrogância, do PT ou das esquerdas.

Os movimentos que Lula vem fazendo têm-lhe aberto portas, as mais inesperadas. Veja-se o destaque que, súbito, as organizações Globo e toda mídia velha vêm dando a Lula, desde o giro pela Europa até o jantar do Prerrogativas.

Lula sabe que, mais do que juntar letrinhas e nomes fortes para ganhar uma eleição, ele precisa exortar a paz, resgatar a união das famílias e o respeito entre adversários políticos.

Ele sabe que enterrar o bolsonarismo, abortar o fascismo já em fase avançada de desenvolvimento, é condição necessária para que ele próprio, ou qualquer outro que venha a vencer a eleição, tenha um mínimo de tranquilidade para governar, tenha segurança política e jurídica.

O ódio disseminado por todo o país desde que se exacerbou o antipetismo, que na verdade significa "antipovismo", ódio ao povo, às conquistas sociais dos debaixo, dos antes condenados à senzala, só vai se esvair com doses mais fortes de governo petista.

É preciso avançar em iniciativas que signifiquem empoderamento do povo pobre, como as políticas de cotas nas universidades, Prouni, Ciência Sem Fronteira, por exemplo.

Sobretudo agora, quando se tornou imprescindível recuperar direitos e políticas públicas exterminadas pelos governos Temer e BolsoNero, como os direitos trabalhistas, o sindicalismo, a proteção dos trabalhadores, a par da revisão de toda política entreguista dos últimos governos.

Para isso é necessário mais do que apenas retornar ao comando do governo, é ter garantias de governabilidade. Aprendamos com a História, particularmente com os fatos mais recentes, como o golpe dos corruptos de 16.

Teremos de ampliar nossa representação no Congresso. Resgatar os direitos trabalhistas exigirá aprovação de uma PEC, vale dizer, obter os votos de mais de trezentos deputados e senadores. Viabilizar políticas de inclusão social, idem, pois será preciso derrubar o teto de gastos e, para tanto, modificar a Constituição. Só para evitar um impeachment são necessários quase duzentos deputados aliados e leais.

O Brasil é muito grande, os interesses são os mais diversos, nossa cultura política, sobretudo no que diz respeito ao exercício da democracia, é ainda incipiente e frágil. A par disso, nosso desenho político-institucional é complexo e exige do presidente negociar constantemente com o parlamento.

Antes tenhamos que dialogar com o ex-PSDB de Alckmin e FHC, com o MDB de Renan Calheiros, com o PSD de Gilberto Kassab, respaldados por PT, PCdoB, PSOL, PSB, PDT, PV e Rede, do que termos de ceder à truculência do bolsonarismo. E, por óbvio, só poderemos dialogar com aqueles, e não com estes, se os primeiros forem eleitos - de preferência, sem a presença significativa dos últimos.

(Luís Antônio Albiero, em Jacareí, SP, aos 21 de dezembro de 2021)

19/12/2016

Sim, Roubou

Muitas pessoas me acusam de fanatismo porque ouso caminhar na contramão do fanatismo delas próprias.

Por exemplo, elas costumam dizer que têm certeza (convicção...) de que Lula roubou.

Nessas horas, eu costumo dizer a elas - cuidando para não as ofender - que o acusam certamente porque sabem de fatos criminosos e dispõem de provas, porque não posso partir do pressuposto de que ajam com leviandade.

Então, para que não sejam ou não se comportem como levianas, recomendo-lhes que sejam patriotas, que tomem uma atitude cívica, que comuniquem os fatos e encaminhem as provas ao MPF ou à Polícia Federal, que andam louquinhos para botar Lula atrás das grades.

Ultimamente, já de paciência perdida, tenho-lhes dito o seguinte, em "concordância" com o que dizem, como fiz há pouco:

"Sim, roubou. Só deve estar esperando passar desta para melhor para, no além-túmulo, usufruir de toda fortuna que roubou. Ou talvez aguardar uma nova encarnação e se lembrar de onde enterrou o tesouro."

(Luís Antônio Albiero, em Capivari, SP, aos 19 de dezembro de 2016)