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27/01/2018

Cérebro e Alma

Ontem fui acusado aqui, no meu próprio perfil, por uma pessoa da minha família, de ter sofrido "lavagem cerebral" - eu e o "bando de comunistas" a que eu pertenço.

Pois bem. Refleti muito desde ontem a esse respeito e cheguei à conclusão de que ela tem razão.

Tenho clareza da minha opção política desde antes mesmo do surgimento do PT, desde que tomei consciência de que o mundo era injusto com as pessoas como eu, como aquelas em cujo meio social eu vivia na infância.

As possibilidades de ascensão social e de alcance de um patamar de dignidade mínima eram diminutas. Eu sabia da minha capacidade pessoal, eu nunca temi o futuro, eu sempre lutei por meus ideais e minhas conquistas, mas sempre tive clareza de que o gargalo dessa tal meritocracia era estreito, que poucos passariam por esse funil. De fato, a maioria ficou lá no fundo do garrafão.

Sabia que tinha que lutar pelos outros, por aqueles que viviam em situação semelhante ou pior que a minha. Não foi difícil reconhecer e escolher meu caminho.

Mas é possível que, nesse meu caminhar, meu cérebro possa ter-se sujado com alguma substância imposta, por exemplo, pelos meios de comunicação de massa. Afinal, estamos todos sujeitos a sermos encantados pela telinha com a qual mantive encontros regulares, diariamente, por muito tempo.

É possível também que os grupos a que pertenço ou pertenci, profissionais, religiosos, tenham conspurcado em alguma medida meu cérebro que, afinal, é dotado da fragilidade inerente à condição humana.

Por isso, sempre que tomei consciência dessa parte suja, ou pelo menos empoeirada do meu cérebro, dei um jeito de lavá-lo.

Nessa trajetória de mais de cinquenta anos deixei que me lavassem o cérebro muita gente, desde autores de grandes obras literárias a pessoas simples com quem cruzei ao longo do tempo.

Devo confessar que sempre preferi que minha massa encefálica fosse higienizada pelos mais humildes, como dona Cícera, essa senhora do vídeo, que não conheço, nunca vi antes, mas que acabou de me dar mais um banho cerebral.

Dona Cícera lavou não só o meu cérebro; lavou minha alma!

(Luís Antônio Albiero, em Capivari-SP, 27 de janeiro de 2018; republicado em 27 de janeiro de 2020)

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