Para quem não nutre preconceitos nem está atrelado a dogmas religiosos vale a pena assistir, mas não se espere grande coisa. É mais do mesmo do que a companhia de comediantes põe à disposição dos internautas todo dia no YouTube. Engraçadinho, apenas.
O mais interessante é que a preocupação mais destacada dos cristãos ao atacar o filme concentrou-se na suposta homossexualidade de Jesus (que, na verdade, não passa de uma "tentação" do Tinhoso ao Cristo - perdoe-me o leitor pelo "spoiler" - que poderia até ser classificada como uma visão homofóbica do grupo humorístico, já que associa o homossexual ao mal, exatamente como fazem os fundamentalistas religiosos).
Do ponto de vista da religiosidade, porém, há aspectos mais graves, como uma representação de Deus - divindade máxima do cristianismo - que não contém seus ímpetos machistas e pratica assédio sexual contra uma mulher, outra figura sagrada do catolicismo, que pouca resistência oferece.
Ou seja, as pessoas críticas ao filme não parecem preocupadas com a sexualidade machista e opressora contra a mulher, mas destacadamente com a homossexualidade.
É apenas um filme, enfim, e a ele assiste quem quer. Quem não quer, que lhe feche as portas. Da rua ou dos fundos, elas continuam sendo serventia da casa.
O que não se pode aceitar é que um desembargador "terrivelmente cristão", de olho numa vaga do STF nesta "triste era Bolsonaro" (como diz o jornalista Joaquim de Carvalho, do DCM), rasgue mais um pouco a já esfarrapada Constituição Federal e decrete censura a uma obra de pura ficção humorística.
Aliás, como já havia acontecido em 1983 com o francês "Je Vous Salue Marie" (de Jean Luc Goddard) - muito ruim, por sinal -, a investida dos religiosos só serviu para despertar o interesse e alavancar a audiência do filme.
(Luís Antônio Albiero, Capivari, SP, em 10/01/2020)