03/12/2022

De Companheiro para Companheiro

Confesso que tenho dificuldade em me relacionar e debater com quem nem sempre é capaz de manter a habilidade necessária para expor um pensamento sem desqualificar o interlocutor. Conheço uma infinidade de pessoas queridas que certamente não percebem o grau de agressividade que vez ou outra suas palavras contêm.

Não raro eu procuro deixar no vácuo quando me deparo com exemplo dessa hostilidade que, no fundo, sei que não foi fruto de maldade, nem foi percebida por quem a cometeu.

Certamente um erro meu, mas, nesses momentos, prefiro esperar a poeira baixar e que a fogueira se apague. Não vale a pena estressar-me com amigos do coração, sobretudo companheiros e companheiras de partido ou que comigo ocupam o espaço à esquerda no espectro da Política.

Integro um partido em que nos tratamos como “companheiros”, palavra que significa “aqueles que dividem o pão“. Vem de “cum panis”, “com o pão”. Significa que entre comensais, entre aqueles que comungam da mesma mesa, hão de prevalecer o respeito e a confiança, ou ninguém comerá coisa alguma, haja vista que sempre haverá o temor de que a pessoa ao lado tenha colocado veneno no prato do vizinho de cá.

Já antes das eleições de 2018, por exemplo, quando Lula nem tinha sido preso e eu dizia que, embora preferisse Haddad candidato a presidente, era o ex-presidente quem tinha votos, amigos do coração vieram me dizer que era preferível apostar na renovação e que eu idolatrava a pessoa de Lula, seguido de um discurso oco sobre “idolatria a um político de estimação”.

Essa visão a meu respeito eu detesto, porque visa a me depreciar, como se fosse um fanático, alguém que se posiciona apenas por paixão exacerbada, quando tudo na minha vida procuro pautar pela razão. E há uma enorme distância entre idolatrar alguém e ter por ele ou ela admiração por força de razões concretas, objetivas.

Num partido político, assim como em qualquer agrupamento humano, institucional ou não, há de existir esse liame de confiança e de respeito entre seus integrantes.

Eu bem me lembro das discussões sobre o PT apoiar o PSDB na eleição da ALESP, das desconfianças suscitadas à época. E de outros casos semelhantes, como apoiar o Rodrigo Maia para presidente da Câmara Federal.

As pessoas têm compreensível dificuldade de entender as relações intraparlamentares. Os partidos precisam de espaço nos parlamentos, e isso envolve negociações que nem sempre são deglutíveis à maioria das pessoas.

O fato é que aquelas discussões pareciam ter o potencial de implodir o partido. Passou-se o tempo e, no entanto, ele se mantém íntegro e mais forte e muitos sequer se lembram dos motivos pelos quais se rebelaram contra parlamentares e seus apoiadores. Uma virulência que só serviu para prejudicar a imagem da agremiação e de suas lideranças perante os que já nos odeiam por diversas razões menores.

Agora é a vez da aprovação que a bancada do PT na Assembleia Legislativa paulista deu, por unanimidade, ao projeto que elevou os subsídios do futuro governador Tarcísio de Freitas. Ora, se toda a bancada votou de forma uníssona é de se supor que tenha havido discussões profundas que culminaram nesse consenso. Suposição calcada na confiança e no respeito.

O subsídio do governador representa o teto do funcionalismo do Estado, o que limita a possibilidade de elevação de salários de todas as áreas, desde os dos secretários estaduais até diretores de escola, por exemplo.

Sei que num país em que a imensa maioria ganha um salário mínimo, e muitos nem isso, é difícil explicar a necessidade desse aumento. De todo modo, eu prefiro que a bancada venha a público e dê suas explicações. Que até agora não vi.

Questionar a atuação de uma liderança política, de um partido ou de uma fatia deste, como sua bancada legislativa, é sempre legítimo, é próprio da Democracia. Expor desconfiança sobre a lisura do comportamento alheio, porém, é sempre temerário, de modo que a prudência recomenda aguardar as explicações formais da bancada.

É recomendável, sobretudo, respeitar quem com tal cautela prefere agir, o que desautoriza tomar-nos a todos como "cegos", "fanáticos" ou "idólatras". Sigamos tratando-nos uns aos outros como companheiros e companheiras que somos. Filiados ou não.

(Luís Antônio Albiero, em Jacareí, SP, aos 3 de novembro de 2022)

27/11/2022

O Pum é Todo Seu

Há quem creia não ser conveniente dar palpite em postagens alheias. Quando o autor não é faceamigo, sim, concordo.

Quando, porém, o autor é amigo no Facebook e posta um comentário com o selo de "público", a boa e velha razão nos certifica que o sujeito está abrindo ali um debate. Ou estou equivocado?

Pois bem. Um biconterrâneo de Rafard e Capivari, colega advogado e amigo meu de longa data - da vida real -, postou em seu Face o comentário de que "as autoridades supremas ainda não entenderam que os caminhoneiros não irão retroceder até que haja uma solução para o 'impasse' que elas criaram".

Assim aberto o debate, e por se tratar de meu amigo e de uma informação que reputo equivocada, expus minha opinião - e é exatamente para isso que serve a "liberdade de expressão" -, a título de informar que eles já estão retrocedendo e que não se trata de caminhoneiros, mas de meia dúzia de grandes empresários do ramo de transportes e do agronegócio. E que, como ele bem sabe por dever de ofício, se trata de locaute, iniciativa que a lei veda expressamente.

Para minha surpresa, eis que a "conja" do meu amigo vem e posta:

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"Nossa R. S., acho que tem alguém (além de mim) que dorme e acorda pensando em vc, pq tô vendo que vc não pode dar um 'peido' sem ser notado por essa pessoa !!! Ou a rede social dessa... não tem amigos da laia dela... para que se interajam entre elas a mesma ideologia que pregam... Eu hein ?

(Imagem: blog "Disparada", de Gilberto Marangoni)

E de dar nojo mesmo... Em qualquer amigo seu ter q suportar tanta idiotice de tal pessoa ... Pelo amor ... Faça uma faxina eu seu Facebook... No meu já comecei fazer ... Pessoas tóxicas que morram sozinhas ou acompanhadas de seus amigos cabeças ovos"

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Minha réplica:

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"B. P., sou amigo do R. e gosto de debater com ele, especialmente as provocações que ele faz. Quanto ao p****, ele é todo seu! Eeeeca, que nojo!

...

B. P., quanto aos meus amigos, gostaria imensamente de convidá-la para você se juntar a eles, mas neste momento é impossível.

Estou praticamente no limite dos 5000 que o Facebook permite e uma fila imensa de solicitações de amizade.

Quer saber mais a meu respeito, o que penso, como se comportam meus amigos, acesse:

(Postei o link para meu Facebook)

É o que costumo dizer: Informe-se primeiro para não passar vergonha em público."

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Aí ela me veio com a joia da coroa - que ele lamentavelmente deletou:

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"Luís Antônio Albiero você pode ter certeza que amigo dele você não é... Não passa de apenas conhecido... Isso posso te garantir, e outra coisa... Ele é educado com vc, e não gosta nenhum pouco de debater com vc, convivo com ele todos os dias, e você é uma pessoa que poderia ter bom senso e sair da página de amigos dele, assim vc libera mais um que tenha estômago. .. Por educação ele não tira vc... Vc deveria se colocar eu seu lugar... E devem procurar quem tem o mesmo pensamento...

Estou falando e repito

Ele é apenas educado com vc... Mas amigo??? Passa longe

E não se dirija mais a palavra a minha pessoa...

Sobre sermos amigos!!! Não tenho interesse algum, nem em sua amizade e mto menos em sua vida ... Diferente de vc, só me relaciono com pessoas que eu gosto de conversar

Não me importo com números de amigos em Facebook... E sim com qualidades.. por isso estou fazendo uma grande faxina... Ilude-se vc

Que vou querer alguém assim como amigo

... Exclui todos de meu Facebook... Pena que não posso excluir do dele tbm

Pq toda vez que vejo o Facebook dele tenho que toda vez suportar essa sua cara comentando as postagens dele ...

Vc deveria mesmo é ir comemorar com seus amigos

Não ficar aqui sendo chato e incoveniente.

Qto a outro comentário seu, aí vc mostra o tipo baixo e escroto que é.

Sem educação e sem respeito.

E me faça um favor.

Não se dirija a minha pessoa ...

E se tiver um pouco de bom senso

Nem a ele ... Você não convive com ele... E não vê o qto está sendo ridículo e sem noção sua manifestação no Facebook dele

Boa tarde e até nunca mais"

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Eu então:

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"B, convido-a também para conhecer minha página de crônicas, chamada de 'Crônicas & Agudas'.

Este link levará você para uma crônica de 2018, que recentemente turbinei e hoje, 27 de novembro de 2022, conta com mais de 2200 curtidas.

Abraços e bom domingo a todos aí.

Só recomendo que você não faça feijoada, ou batatas doces, porque, se sem isso, meu amigo R. já anda conspurcando o ar debaixo dos seus lençóis, imagine com!"

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A bem da verdade, já ultrapassou as 2400 curtidas e conta com mais de oitocentos comentários.

Prossegui:

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"Bi.P. S., queira você ou não, R. é meu colega advogado e amigo de longa data.

Eu, pelo menos, tenho essa consideração por ele. E nada peço em troca, nem sequer igual consideração.

Tenho-o praticamente como um amigo do peito.

Já amigo do pei*o, de fato, meu é que ele não é.

Fique com esse todinho para você.

De novo, bom domingo.

Só não se arrisque na feijoada!"

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E encerrei:

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"B. P. S., estimada.

Seguinte.

Primeiramente.

Foi você quem mencionou a palavra "p****", que o elevado grau de educação que minha mãe me deu me impede de reproduzir.

Você veio com suas indiretas "só-que-não" me chamando de "pessoa tóxica", que não tenho amigos, que meus textos são "idiotice", que meu amigo R. deveria me cancelar. Depois me chamou de "sem educação", "sem respeito", "chato", "inconveniente", "ridículo", "sem noção", "baixo", "escroto" - se não esqueci de nenhuma ofensa que você me fez; depois vou conferir nos "prints" que fiz por segurança.

Eu adoraria que você, a exemplo do que eu acabei de fazer em relação aos seus comentários, me apontasse em que pontos eu faltei com a educação ou com o respeito a você ou ao R..

Por gentileza, é só o que lhe peço. Até para meu aprimoramento como ser humano e cidadão. Obrigado."

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Claro que ela não conseguiu apontar nada.