27/05/2021

Fundamentalista das Boas Causas

Acabo de ser "repreendido em nome de Jesus" (não, não foi o cabo Daciolo, nem foi nesse tom, muito pelo contrário - embora certas bandeiras sejam por vezes defendidas com igual fundamentalismo), por um faceamigo, por uma suposta "piada sexista" que eu teria feito ou reproduzido.

Foi pelo Messenger e enviei esta resposta:

"Não sei a qual 'piada sexista' você se refere, mas faço uma vaga ideia.

O que será mais grave? A minha 'piada sexista' (?!?) ou a obsessão sexista de uma dirigente do país - das mais importantes nestes tempos de pandemia - que consegue ver um pênis numa torre de um prédio público?!?

Como tratar essa loucura da moça? Com textos acadêmicos sobre a paranóia dela?

Não é mais saudável representar a realidade - ditada por ela própria - com humor pertinente e adequado?

Como representar humoristicamente uma obsessão sexista de determinada pessoa?"

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PS.: BolsoNero passou a vida toda atacando os homossexuais. Uma vez, uma única vez, fiz uma postagem "devolvendo" toda agressão dele com uma imagem e frase de um extinto programa de humor da Globo, um bordão (condenável, sim, mas pertinente, considerado o objetivo da minha crítica) vivido pelo ator Paulo Silvino. Fui chamado de "homofóbico", como se a crítica fosse homofóbica e, pior - ainda que pontual e excepcionalmente até, vá lá, pudesse ser - como se eu tivesse o hábito bolsonaresco de fazer constantes postagens homofóbicas.

Naquela ocasião eu tinha consciência das pedradas que eu receberia, como de fato levei.

Desta, porém, confesso que não imaginei que as pedradas se repetissem.

Tão maléfico quanto os comportamentos extremistas de homofóbicos e sexistas é o patrulhamento dos fundamentalistas das boas causas.

Sejamos mais razoáveis, mais tolerantes. Inclusive com os excessos alheios, sejam eles reais ou frutos da nossa mente porventura contaminada pela intolerância.

Guardemos para nós mesmos o que quer que seja que pudéssemos ver como censurável no comportamento alheio, em especial daqueles que sabemos que este ou aquele movimento é um ponto fora da curva do modo ordinário como o outro costuma se comportar.

25/05/2021

Meus "Políticos de Estimação"

As pessoas que encaram a política como futebol, que escolhem torcer para um ou outro "time" e, em consequência, passam a odiar todos os adversários, não têm a mínima noção do que é a Política e da importância que ela tem para a vida de todos nós.

Eu era um jovem de 24 anos em 1988 quando disputei e venci minha primeira eleição, para vereador, e me lembro de um discurso que eu fazia. Era mais ou menos assim:

"Você pode odiar a Política e os políticos, mas não pode ignorá-los, pois as decisões do prefeito e dos vereadores (naquela época, a prefeitura e a câmara de Capivari ficavam no mesmo prédio) saem dos gabinetes pelas portas da prefeitura, descem as escadas, escorrem pelas ruas da cidade e entram na sua casa por debaixo da porta, queira você ou não".

Eu lembrava que eram os políticos que decidiriam o preço do pãozinho que você come, do combustível que você põe no seu carro; decidiriam o seu salário, o quanto você vai ganhar e se você terá ou não emprego, escola, postos de saúde, médicos, polícia...

Desde muito cedo eu adquiri consciência do que significa a Política na vida de todos - do pobre e do rico, das pessoas e das empresas, das coisas privadas e das questões públicas.

Desde muito cedo eu tive a percepção de como agiam os políticos e os partidos, a favor de quem, quais os interesses que cada qual defendia, quem de fato estava ao lado dos mais necessitados e quem só se preocupava com o capital, com o lucro fácil, com a especulação financeira e imobiliária.

Fiz de minha escolha a razão do meu viver.

Fui vereador por dois mandatos, candidato a prefeito em três oportunidades, candidato a deputado federal uma vez; atuei exercendo cargos em comissão como assessor jurídico na Assembleia Legislativa de São Paulo e na Câmara Municipal de Americana.

Há três anos deixei essa vida pública para cuidar da minha carreira profissional, que por muito tempo eu havia abandonado para me dedicar aos interesses da comunidade. Hoje ocupo cargo de procurador municipal, concursado, efetivo, o que me distanciou de uma participação mais efetiva na Política, mas não me impede de me manter na trincheira - restrita agora aos meios virtuais, basicamente aqui pelo Facebook.

Continuo me considerando um político, um ser político, mesmo afastado das disputas eleitorais. E sigo fiel aos meus propósitos, à minha razão de viver, à opção que desde muito cedo fiz de lutar em favor da classe trabalhadora e dos mais necessitados da sociedade.

Eu lamento pelos que não têm compreensão do meu papel, que eu mesmo me atribuí por opção que a vida acabou me determinando, em razão da minha origem social.

É triste ver meninos mal saídos das fraldas ou idosos que passaram a vida toda sem enxergar um palmo diante do nariz questionarem minha militância com absoluta ausência de argumentos sérios, sólidos, razoáveis, maduros.

Um sujeito que não me conhece se acha no direito de me julgar e se dá ao desplante de insinuar que em algum momento da minha vida eu tenha "dependido da política" para sobreviver.

Além de ignorância, esse sujeito expressa má-fé, pois a ele o que menos parece importar é a Verdade. Porque ele não sabe, não faz ideia de que é exatamente o contrário do que seu raciocínio miúdo o permite pensar.

Quem já fez política sem apoio financeiro, sem ter o patrocínio de empresas e empresários, como eu fiz a vida toda, sabe que o candidato, ou mesmo o político eleito, além de comprometer a própria vida em favor da causa pública, muitas vezes compromete suas próprias finanças, até mesmo, como foi meu caso, sua carreira profissional.

Chamam-me, os mais educados, de "fanático"; os mais estúpidos tentam me desqualificar com termos chulos ou me atribuindo semelhanças a políticos que eles odeiam e, por seu ódio e preconceito, neles não conseguem enxergar os méritos que verdadeiramente têm, apenas os deméritos que conseguem produzir suas mentes perversas, devidamente adubadas pelos meios de comunicação comprometidos com os interesses da classe dominante.

Sim, eu tenho meus "políticos de estimação". São lideranças pelas quais tenho elevada estima, por seu exemplo de dedicação às mesmas causas pelas quais luto desde que adquiri consciência política, ainda na adolescência. São políticos que, além da estima que tenho por eles, muito me orgulham.

Políticos em quem sempre confiei, como Lula, Dilma, Fernando Haddad, Eduardo Suplicy, José Dirceu, José Genoino, Paulo Teixeira, Antonio Mentor , Simão Pedro , José Machado e muitos outros do meu partido, alguns falecidos, como Luiz Gushiken, José Mentor, Delçon e Derly Andriotti, dona Nadir Monticelli; ou Luisa Erundina, Mario Covas, João Hermann Neto, Ismael Sanches, Marta Suplicy, que, mesmo integrando ou tendo migrado para outros partidos, foram dignos do meu voto e souberam dignificá-lo.

Alguns me decepcionaram em algum momento, como - e vou citar apenas um, pela admiração que por ele nutro - o querido Almir Pazzianotto Pinto, capivariano que durante o governo de José Sarney, na condição de Ministro do Trabalho, afiançou a farsa do "ganho real de salário" quando da implantação do Plano Cruzado, e depois, mais recentemente, por injustas e duras críticas aos governos de meu partido; a despeito disso tudo, é um conterrâneo que ainda me orgulha.

Esses, dentre outros que à memória escapam, são meus "políticos de estimação", e me limito àqueles em quem votei ao menos uma vez na vida, e essas são as causas pelas quais tenho lutado por toda a minha trajetória, e deles e dela tenho muito orgulho.

Lamento, repito, pelos que, a despeito de terem propensão à política, não possam dizer o mesmo.

(LUÍS ANTÔNIO ALBIERO, em Jacareí, SP, aos 25 de maio de 2021)