28/08/2021

A Obra-Prima do Micto

Do reino “monera” ao “animalia”, não conheço ser vivente mais descolado da realidade do que o cidadão Jair Messias, a que chamo de BolsoNero – pela óbvia razão de que, como o imperador de Roma que incendiou a cidade que governava, o daqui brinca de destruir o Brasil.

Ao chamar de idiotas os que preferem comprar feijão a fuzil, nosso desgovernante-mor escancarou toda sua miséria humana. Um sujeito que não parece fruto de uma relação entre um homem e uma mulher a que pudéssemos chamar de “amor”, mas uma coisa expelida por alguém que mictou e defecou algo com parecença física de um bebê. Daí chamá-lo – eu – de "micto e defecado", tema de crônica recente.

Ele não tem noção nem da necessidade, muito menos da dificuldade que o brasileiro médio tem de comprar um mísero quilo de feijão. E muito menos faz ideia da absoluta desnecessidade e da impossibilidade material de esse mesmo brasileiro comprar um fuzil. O pobre cidadão mal pode adquirir um quilo do alimento básico, que lhe custa R$8,00 para continuar vivo por mais uns dias, como vai pensar em comprar uma arma que lhe custará 1500 vezes mais do que o quilo que ele já não consegue pagar?

Diz o Micto que um povo armado jamais será escravizado e que com uma arma o cidadão poderá garantir trabalho e alimento.

Imagine a cena: o cidadão, desempregado e faminto, adquire um fuzil 762 por módicos 12 mil reais (no crediário das Casas Bahia, em 36 parcelas a juros extorsivos, se é que a empresa atua nesse ramo), gasta mais um tanto para obter um tiquinho de munição e vai até o empresário mais próximo, empunha o troço, aponta para a cabecinha do outro e diz: “ou me dá um emprego ou morre!”

Sai dali com o emprego garantido, mas, ainda liso, porque o primeiro salário só virá no mês que vem, passa no mercadinho do bairro que cansou de lhe vender fiado, aponta para as fuças do compadre dono do estabelecimento e diz: “ou me dá um quilo de feijão ou eu atiro!”.

Orígenes Lessa legou-nos como sua obra mais famosa um romance que tem por título “O Feijão e o Sonho”. BolsoNero, que jamais leu um livro na vida, acabou de publicar sua obra-prima: “o Fuzil e o Pesadelo”.

E isso tudo no rastro de um evangelismo pseudocristão que ele acabou de fundar, em que o “Cristo” de ocasião há de ser uma figura mítica que, segundo as sagradas escrituras ainda não escritas, teria dito: “armai-vos uns aos outros como eu vos armei”. E passai fogo no próximo, irmão, e mandai o vagabundo pros quintos dos infernos, talquei!

(LUÍS ANTÔNIO ALBIERO, em Capivari, aos 28 de agosto de 2021)