“Manifestoches” foi a designação mais que perfeita já dada para os patos patetas que, manipulados pela mão grande do empresariado nacional e da mídia, Globo à frente, encheram as ruas do país em favor do golpe que violentou nossa Democracia e defenestrou do poder uma presidenta legítima, para por em seu lugar esse desastre que hoje nos desgoverna. O “Vampiro” também representou à perfeição o presidente usurpador, sanguessuga dos nossos direitos trabalhistas, da nossa Democracia, dos nossos 54 milhões de votos dados a Dilma Rousseff.
A Globo acusou o golpe, ou seja, o tiro que a escola lhe deu nas fuças, à queima-roupa, tanto que na transmissão ao vivo seus comentaristas foram cautelosos ao extremo, ao ponto de ignorarem a exatidão do que viam, incrédulos. No compacto exibido no dia seguinte, as cenas mostradas foram escolhidas a dedo para nada de significativo revelar, tendo ao fundo um silêncio sepulcral, inquietante e revelador. Michel Temer também sentiu o tranco.
Claro que um já desgastado e desgraçado presidente da República – usurpador e ilegítimo, é verdade, mas ainda presidente, assim tolerado por aqueles que não toleraram as “pedaladas” de Dilma – e a maior emissora de TV do país não tardariam a dar o troco. E a vingança veio na velocidade lenta, gradual e nada segura dos tanques de guerra, na marcha imponente dos soldados das Forças Armadas, no peso das metralhadoras apontadas para o povo pobre e majoritariamente negro dos morros cariocas. Mas quem se importa com pretos e pobres favelados, não é mesmo?
Em conluio com a Globo, que se encarregou de disseminar uma percepção de insegurança que não corresponde aos dados estatísticos, “pra mó de dar mais realismo à cena” (diria o impagável Chico Bento dos quadrinhos), Temer encetou a tal “intervenção militar”, supostamente restrita à segurança pública, mas que pôs nas mãos de um general poderes quase plenipotenciários. Uma medida inconstitucional, despropositada, atabalhoada, que, a exemplo de experiências anteriores, algumas recentes e bem mais brandas – do ponto de vista da violação aos direitos dos seres humanos que habitam aquelas comunidades –, tende a dar em nada ou a produzir resultados ainda piores.
A Humanidade desenvolveu a Política como forma de substituir a barbárie e a beligerância pela civilidade, em busca da sempre almejada paz social. A guerra – e é para ela que estão preparados nossos valorosos homens das Forças Armadas – é o oposto à marcha civilizatória. Soluções imediatistas com claro viés midiático, destinadas apenas a salvar a imagem dos que foram desmascarados por um desfile de Carnaval, só conduzem ao caos.
Se desejamos paz, só nos resta insistir na Democracia, vale dizer, persistir apostando na Política, no aprendizado e no aperfeiçoamento das instituições e daqueles homens e mulheres que, com boa ou má intenção, um dia resolveram dedicar-se a gerir a coisa pública.
Se o governador do Rio de Janeiro e o presidente da República se sentem incompetentes para resolver os problemas que lhes cabe solucionar, não podem torcer a Constituição para entregar aos militares, de modo envergonhado e dissimulado, o poder que lhes foi conferido pelo voto popular (se bem que, no caso de Temer, isso é apenas meia verdade). Que entreguem a rapadura, que passem o bastão, mas que o façam renunciando aos cargos nos termos constitucionais, de modo a permitir que a sociedade defina seu próprio rumo.
(Luís Antônio Albiero, advogado, vereador em Capivari pelo PT em 1989/92 e 2001/04)