21/11/2021

Mercadinho de Garagem

Pense na sua casa. Na sua vida doméstica. Imagine que você seja um pequeno empresário. Tem lá seu mercadinho modesto que começou na sua garagem num bairro popular de sua cidade. Uma adaptação aqui, outra ali, os fregueses começando a chegar, o negócio crescendo, crescendo. 

Passam-se os anos, você compra um terreno maior e transforma o mercadinho de garagem num pequeno supermercado. 

Quando você pensa em criar uma segunda unidade, resolve contratar um cunhado. Ele se torna diretor de compras do supermercado, que agora já tem um status de "rede". Afinal, são duas unidades.

Mais alguns anos e a cidade já está coalhada de unidades de sua rede, que vão se espalhando pela região, pelo estado, pelo país.

Súbito, você descobre que aquele seu cunhado em quem você confiava era um corrupto. Responsável pelas compras da rede, ele sempre superfaturava os preços e recebia de volta um por cento, dois. Às vezes três - inspirado certamente nos diretores da Petrobras.

Descoberta a série de fraudes ao longo dos anos, você o denuncia, ele responde a processos, devolve o dinheiro que desviou. Tudo, enfim, parece certo. As instituições funcionaram normalmente, dizem-lhe.

Apesar disso, você decide que, para acabar de vez com a corrupção na sua empresa, você a venderá.

Você, dono da rede de supermercados, raciocina: meu negócio vale um bilhão de reais. Meu cunhado, a quem confiei uma parcela dos meus negócios, comprou coisas que, ao fim e ao cabo, acabei vendendo, obtive lucros, mesmo pagando mais caro pelos produtos. E ele ganhou, no total, ao longo dos anos, um milhão de reais - que eu já recuperei!

Aí vem o dono de uma rede concorrente e lhe diz: olha, sua rede vale um bilhão de reais, mas, diante dos problemas que você enfrentou com seu cunhado, os arranhões na imagem da sua empresa, eu me disponho a ajudá-lo e compro sua rede por cem milhões. 

Muita bondade, não? Mas você concorda e vende!

É exatamente o que está acontecendo com a Petrobras. Por conta de uma roubalheira -- migalhas, diante das dimensões colossais da estatal brasileira -- bem ou mal já enfrentada pela Polícia, pelo Ministério Público, já punida pelo Judiciário, você decide que a saída para evitar novas dores de cabeça é mesmo vendê-la, e a vende por um décimo do que ela vale! Um décimo, ou dez por cento. Ou vinte. Ou trinta, tanto faz, será sempre um percentual ínfimo.

Agora pense.

A corrupção, segundo esse modelo, digamos, comedido dos diretores da Petrobras, correspondia a um, dois ou três por cento de alguns ou vários contratos da empresa. Contratos milionários, por vezes bilionários, o que lhes rendia uma bela fortuna a cada ato de corrupção, ainda que a modestos três ou mísero um por cento.

Sabe o que realmente está acontecendo?

Você, que expressou justa indignação com a roubalheira das migalhas milionárias já recuperadas ou em fase de recuperação, agora está indiferente ou aplaude o roubo verdadeiro, expressivo, monumental, praticado pelos abutres que estão de olho em levar a empresa inteira. Inteira! A preço de banana e sem qualquer chance de um dia o país recuperar esse prejuízo bilionário. Um crime praticado à luz do dia contra um país inteiro.

Lembre-se lá do início do seu mercadinho de garagem, a luta que foi para construir seu império. 

É ficção, eu sei. Mas lembre-se de Monteiro Lobato, "o petróleo é nosso". De Getúlio Vargas. Dos trabalhadores da Petrobras. De Lula e a descoberta do pré-sal. De Dilma e a destinação dos resultados do pré-sal para a educação do povo brasileiro. 

Lembre-se do povo brasileiro e da nossa luta para criar, manter e fazer crescer uma empresa estratégica para nossa sobrevivência econômica. 

Nós não somos ficção.


(Luís Antônio Albiero, em Capivari, SP, aos 21 de novembro de 2021)


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Luís Antônio Albiero

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