30/06/2014

Traficantes de Escândalos

TRETA de 30 de junho de 2014, que redescobri salva em arquivo Word. As postagens originais foram deletadas, a pedido da minha estimada contendora. Em respeito a ela, publico com omissão de seu nome, "B. D." Transcrevo todo o debate, incluindo as proveitosas e oportunas intervenções das amigas Vera Suzana Fonseca e Sônia Dugaich.

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"Neste sofrido, porém, ao fim e ao cabo, alegre sábado, eis que fui desafiado pela estimada conterrânea B. D. a me pronunciar sobre 'graves denúncias' formuladas por um conhecido senador do Pará (tucano, naturalmente), segundo as quais um 'filho do Lula' seria um homem 'super milionário', dono de fazendas em seu estado, rebanhos e, claro, da boa e velha Friboi.

Ela teve a generosidade de me expor a essa instigante e profunda polêmica, de modo que me sinto na obrigação de retribuir tanta bondade.

Vejam minha resposta:

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'(Luís Antônio Albiero)

Deputados e senadores gozam de imunidade. A Constituição garante inviolabilidade de suas palavras. Podem mentir e inventar à vontade. Podem especular, como fez esse parlamentar. É fácil fazer referência a uma 'investigação secreta'. É fácil reproduzir comentários. Qual a fonte oficial? Quais as provas?

Para saber quem é o dono de qualquer terreno em qualquer lugar do país, você vai ao cartório e obtém uma certidão. Cadê a certidão?

A bobagem de ser 'dono da Friboi' já foi amplamente desmascarada. Mas antes disso EU MESMO fui ao portal da JUCESP e pesquisei. Nem Lula nem seu filho são donos.

Enfim, você tem direito de acreditar em qualquer bobagem, em qualquer mentira. Eu prefiro checar. Um verdadeiro cristão não pode conviver com a mentira. E fofoca, a Bíblia chama de 'tráfico de escândalos'. Eu é que não vou traficar coisa alguma. Boa noite. E viva a verdade! Viva o Brasil!'

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(Vera Suzana Fonseca)

Como a verdade soa firme, direta! Tão diferente da mentira que soa como fofoca! E vem camuflada para enganar os incautos.

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(B. D.)

Um verdadeiro cristão também não é conivente com o erro, só é fofoca quando não é verdade. Mas o que você publica a respeito dos outros partidos é tudo verdade então? Só o PT fala a verdade, os que foram condenados e dizem que são inocentes você acredita de olhos fechados. Um deputado ou senador de outro partido não tem credibilidade nenhuma só estão lá para denegrir a imagem do PT. Entendi!!! Só quero deixar a você o que a Bíblia também diz: 'Ai daqueles que ao mal chamam bem e ao bem, mal! Que fazem da escuridade luz, e da luz, escuridade, e fazem do amargo doce, e do doce, amargo!' e 'Ai dos que justificam o ímpio por presentes e ao justo negam a justiça!'. Isaías 5: 20 e 23. neste mesmo capítulo tem outros 'ais' e em Habacuque 2, também. E viva a justiça!!!

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(Luís Antônio Albiero)

Não sei dos outros partidos. Sei apenas, porque trabalhei pessoalmente com a questão, quando assessorei a bancada de deputados estaduais do PT, da corrupção que há vinte anos vem alimentando o PSDB paulista.

Fui autor, como assessor, de inúmeras representações ao MP a respeito dos casos Alstom e Siemens, todas respaldadas em investigações e condenações judiciais da Suíça e da França.

O envolvimento do Robson Marinho, por exemplo, já era objeto de denúncia que eu mesmo preparei em 2008. O Ministério Público paulista simplesmente ignorou. Só recentemente denunciou o esquema. Só que os crimes, na maioria, estão prescritos.

Eu não espalho mentiras. Eu procuro ser fiel à verdade e à justiça. Posso lhe fornecer os documentos que obtive na JUCESP sobre a Friboi. mas como pelo jeito você não confia em minha palavra, recomendo a vc que você mesma faça suas buscas.

Procure no Google com a palavra Jucesp. Cadastre-se com a senha da fazenda estadual, a mesma que vc já deve usar para a Nota Fiscal Paulista. Digite Friboi e pesquise. Escolha 'certidão simples' ou 'completa', tanto faz. Os documentos são gerados em PDF.

Quanto às tais fazendas no Pará, era preciso ao menos saber em que cidade se localizam. A mentira é tão escandalosa que o infeliz senador, traficante de escândalos, sequer menciona o nome do município. Se tivesse mencionado, era só fazer busca no cartório de registro de imóveis. Isso hoje é possível até por telefone. Em alguns lugares, até mesmo pela internet.

Se você tem certeza de algo errado, criminoso,, tem não só o direito de denunciar, mas o dever. Se não, ao espalhar uma mentira, vc estará cometendo um crime, calúnia. E desafiando as sagradas escrituras.

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(Luís Antônio Albiero)

E eu não sou do tipo que contemporiza com o crime, como você parece ter insinuado - perdoe-me se fiz má leitura. Por outro lado, não vou acusá-la de indignação seletiva, embora eu veja seu empenho em denunciar o que, segundo a imprensa comprometida com o poder econômico, pode respingar no PT, mas não veja o mesmo empenho, por exemplo, em relação ao escândalo do Trensalão que abastece o caixa de campanha dos tucanos paulistas desde a eleição de Mário Covas. Disso eu falo porque sei, porque trabalhei com essa matéria.

Mas agora pesquise e me responda: em que governos a Polícia Federal realizou mais operações de combate à corrupção, sonegação e tráfico de drogas? Nos do PT, nos do PSDB ou em anteriores (inclusive nos militares)?

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(Sonia Dugaich)

eu acho que a gente nao devia reprisar essa coisa

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(Luís Antônio Albiero)

Outra coisa. Sobre os meus companheiros condenados que estão presos. Eu não acredito na inocência deles 'de olhos fechados', como você diz. Muito pelo contrário. Eu acredito justamente porque tenho os OLHOS BEM ABERTOS.

Falo como TÉCNICO DO DIREITO. E falo também à luz da ciência política. Examinei o caso sob os dois enfoques e posso lhe AFIANÇAR: eles foram condenados por razões essencialmente POLÍTICAS.

Para isso, o ministro relator teve de recorrer a uma TEORIA de inspiração nazista, e ainda assim aplicada de modo enviesado.

A verdade ainda virá à tona. Sou defensor da verdade e da justiça, ainda que isso me custe inimizades e sentimentos de ódio. E para isso eu tenho um modelo que deveria ser modelo para todos nós. Mas eu não vou bater no peito e dizer das minhas crenças, como fazem muitos pseudocristãos (e eu não estou dizendo nem insinuando que esse seja o seu caso).

A verdade e a justiça devem ser buscadas sempre, custe o que custar. Mas a patuleia ignara prefere sempre libertar Barrabás. Paciência.

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(Luís Antônio Albiero)

De resto, devo lhe dizer que gostei muito dos conselhos que vc extraiu da Bíblia. São palavras verdadeiras que devem nos orientar a todos, sempre. Espero que lhe sirvam para uma reflexão profunda a respeito de todos esses acontecimentos. Que você faça bom uso de tão sábias palavras. Porque a verdade sempre haverá de prevalecer. Boa noite!

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(Luís Antônio Albiero)

Querida Sõnia Dugaich. Compreendo suas preocupações. De fato, acabamos reproduzindo as calúnias, contribuindo, de algum modo, para espalhá-las. Mas no caso julguei pertinente e útil; sobretudo pelo respeito que nutro pela pessoa que me desafiou. Não devemos temer a mentira. Precisamos enfrentá-la com a verdade.

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(B. D.)

Você está muito enganado Luis eu não te desafiei apenas te perguntei porque você sempre disse que a Veja era parcial e espalhava mentiras. Nesse vídeo quem fala é um senador, então queria saber se o que ele estava falando é mentiras, mas me enganei a seu respeito, só sabe defender acusando e levando para o lado pessoal, me acusando de má cristã e fofoqueira (creio que não me acusou de traficante de mentiras também), por isso coloquei os versículos para mostrar que a Bíblia diz outras coisas também e que devemos ser orientados por ela. Você mencionou a Bíblia primeiro. Contudo peço que exclua esse post, pois na realidade eu não te indaguei na sua página e sim no grupo destinado a discussões políticas, pois assim achei que seria melhor. No mais te desejo felicidades e sucesso na vida...

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(B. D.) Já exclui o meu do grupo eleições municipais....

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(Luís Antônio Albiero)

B., querida. Admito, com humildade, que talvez eu tenha feito leitura equivocada do seu questionamento. É que, exposto como foi, senti um tom provocador, desafiador. Mas eu não ataquei você. Chamei de 'traficantes de escândalos' os que espalham mentiras - que espero e creio não ser o seu caso -, como é o caso desse senador, conhecido por esse tipo de comportamento. Como é o caso da Veja. Como é o caso d'O Globo por ele mencionado.

E só fiz referência à Bíblia porque usei essa expressão, 'traficantes de escândalos', que conheci recentemente e achei original e pertinente.

Quem me falou a rezpeito dessa expressão foi uma amiga e cliente evangélica, aqui de Americana. Procurei no Google e só encontrei alguns poucos textos que a mencionam, sempre tendo por referência a própria Bíblia.

Só me animei a responder seu questionamento exatamente porque a respeito e a acho digna de minha atenção. Há dois ou três ali do grupo com quem me recuso a travar qualquer diálogo, devido ao baixo nível.

Vou deletar este post, só por ser um pedido seu, mas só depois que vc confirmar ter lido este comentário.

De resto, reafirmo com sinceridade que as citações bíblicas que vc fez serão muito proveitosas para mim. Espero que, na mesma medida, sejam para você também.

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(B. D.)

Obrigada por deletar, e ficamos por aqui então, renovo meus votos de sucesso e felicidades... e que Deus o abençoe sempre...

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19/06/2014

Relato de um "Self Made Man"

Sou de uma geração que se acostumou a ouvir que o Brasil era o “país do futuro”, mas esse futuro nunca chegava e parecia que jamais chegaria.

O fim da ditadura militar trouxe enormes esperanças numa democracia que incluísse justiça social, mas as eleições diretas foram rejeitadas e tivemos que engolir a escolha do primeiro presidente civil pós-64 pelo voto indireto de deputados e senadores.

Graças a um eficiente trabalho da mídia elitista, Tancredo Neves, o eleito, tornou-se nova fonte de esperança. Morreu antes de ser empossado. Tivemos que suportar outros cinco anos com o vice, José Sarney, ex-aliado do regime militar (eterno aliado de qualquer governo), no comando da Nação. Foi um período desastroso. Sarney legou-nos, ao menos, a Constituição de 1988, realentando as esperanças.

Vieram, finalmente, as primeiras eleições diretas e a esperança ressurgiu com força, para muitos com a possibilidade de Lula ser eleito. Lula não venceu, mas o escolhido, Fernando Collor de Mello, representava, para a outra metade do país, a esperança incubada desde minha meninice. Foi uma decepção desde os primeiros dias de mandato, desde que promoveu o confisco das poupanças. Caiu por “impeachment”, num movimento iniciado pela oposição, mas ao final orquestrado pelos barões da mídia que outrora o haviam tornado o célebre (e falso) “caçador de marajás”. A elite agia como um deus, concedia o sopro da vida e a retirava quando desejasse.

Seguiu-se o período de outro vice, Itamar Franco, que se revelou um presidente apagado, por vezes pusilânime, mas que teve o mérito de conceber o Plano Real. Reavivaram-se as esperanças e seu ex-ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, sucedeu-o na presidência. A precária estabilidade econômica não era suficiente, porém, sequer para manter a inflação em níveis sustentáveis, muito menos os juros, sempre altos. Nem a entrega no atacado e a preços de banana das empresas públicas, com justiça apelidada de “privataria tucana”, serviu para melhorar a vida dos mais pobres, para enfrentar o dramático problema da miséria extrema que acometia grande parte da população brasileira, realidade que eu conhecia na própria pele, desde a infância.

Cresci, portanto, vivenciando a história de um país que tinha razões de sobra para ser pessimista. Éramos o país que não daria certo, jamais.

Enfim, veio Lula e as esperanças, vencendo o medo já expressado pela elite e seus cachorrinhos de luxo (quem não se lembra da atriz global apregoando seu temor pelo futuro, caso o ex-metalúrgico fosse eleito?), finalmente se tornaram realidade em grande medida.

Milhões de esquecidos nos afastados rincões do país e nas periferias paupérrimas das grandes cidades, até então condenados a morrer na miséria absoluta, viram-se contemplados com políticas de socorro emergencial, bastantes para lhes assegurar não morrer de fome. Esses brasileiros aos poucos foram tomando gosto por experimentar uma vida digna. Vieram muitos outros programas, que levaram energia elétrica para milhões de famílias, que promoveram sua inserção no mercado de consumo, que asseguraram que seus filhos pudessem ingressar em cursos técnicos ou universitários. O filho da faxineira passou a ter a oportunidade de ser doutor – coisa que, no meu tempo, era algo inimaginável, salvo raríssimas exceções, como no meu próprio caso.

Sou do tipo que não deve nada a ninguém, portanto, a não ser à minha mãe, à minha irmã e ao tio que me criou, que participaram da minha sofrida trajetória. Fiz Direito em universidade particular, pagando mês a mês com o salário que recebia (de um cargo conquistado por concurso público), do qual não sobrava nada, sequer para comprar os livros necessários. O que conquistei na vida é mérito exclusivamente meu e de minha família. Jamais fui beneficiado por bolsa de estudos, nem por qualquer favor governamental ou particular.

Eu tinha tudo, por conseguinte, para fechar-me em meu mundo, viver em função do meu trabalho, do meu escritório de advocacia do qual retiro meu sustento, e me “lixar” para o que acontece com a vida dos outros. Tinha razões de sobra para ser ególatra e egocêntrico, defensor da “meritocracia”, do “esforço próprio”, como tenho visto em manifestações de diversas pessoas, nas redes sociais – como numa carta recentemente disseminada, de uma senhora que se diz “da elite”, na defesa do valoroso marido “self made man” (como os estadunidenses chamam a pessoa que venceu na vida graças ao próprio esforço). Gente que, em muitos casos, estudou em faculdades públicas, mantidas pelo povo, mas que, apesar disso, é do tipo que se gaba dizendo “ralo dez horas por dia”, “vivo do meu trabalho”, o que justificaria seu comportamento ativo contrário a programas sociais, como o “bolsa-família” ou as cotas nas universidades e no serviço público.

Eu tinha razões, enfim, para ser como essas pessoas desprovidas de solidariedade (geralmente, falsos cristãos), mas faço questão de não ser. Construí minha carreira profissional paralelamente à militância política. Estudei, trabalhei e continuo trabalhando sem abdicar de lutar para que as oportunidades que eu cavei para mim, com méritos próprios, sejam garantidas por programas governamentais para todos os brasileiros, pobres ou ricos, brancos ou negros.

É uma questão de índole, de berço. Embora não deva nada a ninguém, não me sentiria bem num mundo em que eu gozasse de privilégios à custa do sacrifício de uma imensa maioria.

É por isso que sou e sempre fui PT. É por isso que, em outubro, votarei em Dilma para presidenta e em Padilha para governador.

(Luís Antônio Albiero, advogado em Americana e Capivari, em 19 de junho de 2014).

24/05/2014

Confissões de um Envelhecente

Não sei se é a idade crescente, se é apenas reflexo da elevação da temperatura eleitoral ou se estou adquirindo dos intolerantes que tanto critico a doença da intolerância, mas é fato que tenho tido cada vez mais dificuldade de conviver em certos ambientes sociais inóspitos à minha opção política.

Há pouco mais de um mês, estava com a família num churrasco na casa de um amigo, sintonizado na conversa de um grupo que discutia amenidades, quando minha sintonia fina, refinada pela mistura de pequenas doses de licor, cerveja e caipirinha, captou um diálogo de dois convivas, ao fundo, ao lado da churrasqueira. Um deles falava baixinho, diferentemente de outras ocasiões em que costumava me aporrinhar de modo proposital, a título de desagradável brincadeira, com suas divagações sobre política salpicadas de desinformação e preconceito. Desta feita, ele cochichava ao outro, destilando com seriedade seu veneno, e por mais que eu tentasse me desligar, não conseguia. Até que ouvi a pérola, "a Dilma era assaltante de banco e por isso botou um monte de ladrões no governo". Aí o sangue ferveu, mas não seria eu a estragar a festa na casa de meus amigos, cunhados do infeliz. Bati forte na mesa, levantei-me e fui embora, para estranheza dos demais, especialmente dos anfitriões. Saí, reconheço, de modo pouco ou nada cortês.

Semanas antes, já havia ocorrido o episódio na livraria de um shopping local, que contei aqui recentemente, em que um grupo de velhinhos comentava sobre o "atraso na educação" do Brasil, atraso calculado pelo próprio grupo em mais de cinquenta anos, mas tudo culpa de Dilma e do PT. Ontem. domingo, após o almoço no mesmo shopping, fomos a outra cafeteria, onde costumamos ir com maior frequência. Mal sentei, observei um sujeito de uns sessenta anos conversando com um casal de idosos. A mulher fazia alguma crítica a "esses deputados" e o tal sexagenário, com cara de empresário e ares soberbos, foi logo dizendo que "o problema do Brasil é que o crime ascendeu ao poder". De novo, não suportei. Eu não conseguiria ouvir tudo aquilo calado e não tinha nenhuma intenção de brigar em público. Levantei-me imediatamente, sem nada consumir, e bati em retirada, dizendo alto que não ficaria ao lado de gente preconceituosa..

Eu que critico tanto a intolerância dos que, por puro ódio ou preconceito, vivem nos agredindo, nos ameaçando, nos condenando, cismo que adquiri dessa gente seu terrível mal. Só que, pelo menos por ora, não saio por aí ofendendo a ninguém. Torço para que não seja um primeiro estágio dessa grave doença contagiosa.

(Luís Antônio Albiero, de Capivari, SP, em Americana, SP, aos 24 de maio de 2014)