16/02/2020

Católicos Enfurecidos

A visita do ex-presidente Lula ao Papa Francisco não foi nada "simples, breve e protocolar", como algumas lideranças católicas têm insistido em dizer.

Lula não é mais presidente, não é chefe de Estado, é apenas um ex-governante, e foi recebido exatamente pela importância que tem como liderança mundial na luta contra a fome e em favor dos pobres e da paz.

O evento ocorreu no contexto da preparação do encontro de Assis (cidade italiana, berço de São Francisco) sobre economia, uma iniciativa do próprio Papa, um declarado adversário do capitalismo, da cruel exploração do homem pelo homem, que gera desigualdades e injustiça social.

Francisco não é o bobinho desavisado e descuidado que essas lideranças católicas tentam fazer crer que seja. O Papa é um chefe de Estado muito bem informado e, como tal, e também por sua experiência pessoal, sabe do que acontece na América Latina, na sua Argentina, no Brasil, no Peru, no Equador, no Chile, na Bolívia. Sabe do lawfare, da guerra híbrida que os Estados Unidos travam mundo afora na defesa de seus interesses econômicos e geopolíticos, sobretudo o interesse pelo petróleo (nosso pré-sal já foi e a maioria dos brasileiros nem se deu conta de que fomos vítimas de um saqueamento promovido pela nação vitoriosa, como sói acontecer nos conflitos bélicos tradicionais).

Francisco tem em Lula, portanto, um importante aliado, e isso porque ele sabe do imenso respeito de que o ex-presidente brasileiro goza perante a comunidade internacional.

As tais lideranças católicas a que me refiro tratam Lula como se fosse um simples candidato em busca de uma foto impactante para ser usada em campanha eleitoral, o que está longe de ser verdade. Lula, hoje, é considerado pela justiça eleitoral brasileira inelegível (contrariando a Constituição e descumprindo determinação da ONU). O ex-presidente tem consciência dessa condição e não é candidato a nada.

O que fazem as tais lideranças é tentar acalmar o espírito encapetado dos seus fiéis, tomados pelo ódio e inconformados com a atitude absolutamente consciente da autoridade máxima de sua igreja, para não os perder, para não os ver tomarem o rumo de uma seita obscurantista e fundamentalista qualquer. Apenas isso.

(Luís Antônio Albiero, em São José dos Campos, 16 de fevereiro de 2020)

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