Meu conjunto de amigos de Facebook reúne, em imensa maioria, pessoas que compartilham do meu modo de ver e viver o mundo, em especial no que tange às relações sociais, particularmente as de natureza política. Ou porque são petistas, como eu, ou esquerdistas ou, definidos ou não no espectro político, por serem os considerados "progressistas".
Aqui no meu espaço, por óbvio, expresso livremente meus pensamentos e, via de regra, encontro ressonância junto ao que chamo de faceamigos. O problema é que acabo falando para "convertidos" (não gosto dessa palavra, não para designar o que exatamente significan, porque remete inexoravelmente à ideia de religião).
Tenho consciência dessa limitação e, para tentar levar a "mensagem" (outra! 🤦🏻♂️🤦🏻♂️🤦🏻♂️) para além-muros (ou "além-bolha"), gasto tempo, paciência e energia em discussões em grupos de feicebuqueiros da minha amada Capivari ou de cidades da região (Americana, Rafard, Rio das Pedras, Tietê, Monte Mor), onde nem sempre o ambiente é receptivo à minha forma de pensar - especialmente nos de Capivari.
Gasto, não. Invisto! Afinal, é minha trincheira de luta, é meu ambiente de militância.
Tomo por regra não ir a perfil de quem não é meu "amigo" (a não ser os "públicos", como UOL, 247, Folha, Fórum etc.) e raramente intervenho em perfis dos "faceamigos".
Hoje foi um dia desses. Não resisti a um comentário, numa postagem que muito oportunamente minha querida amiga, colega advogada e brava companheira de luta Lurdinha Datti Marques fez sobre os malefícios hoje mais que sabidos da tal "cloroquina". Uma senhora, também conterrânea, do alto de seus 71 anos, de prenome Magda, implicou com Lurdinha porque onde já se viu ficar "pegando no pé" do "nosso" (argh!) presidente e nada falar do "lularápio" e da "anta da Dilma"!
Enviei a seguinte resposta:
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"Magda, com licença e com todo respeito.
A Lurdinha 'pega tanto no pé' do 'nosso' (vade retro!) presidente pela óbvia e exclusiva razão de que é ele quem, neste momento, responde pela presidência da República. Ou deveria responder, pois, bem ou mal, foi eleito para isso.
Os outros ex-presidentes a quem você se refere já com evidente preconceito e absoluta falta de respeito (incondizente com sua educação e experiência de vida) não estão mais no poder.
Lula (larápio por quê? Roubou o quê? Quando, como, onde, quanto? Quais os fatos, as datas, as provas, os processos judiciais? Nem Moro e Dallagnol, mesmo atropelando a lei, conseguiram demonstrar nada além de duas reformas de valor discutível em propriedades que nunca foram, não são, não serão e jamais seriam dele) e Dilma (anta por quê? Que autoridade intelectual tem você para tentar desqualificar alguém da estatura de Dilma?) não estão no poder há vários anos.
Lula deixou o governo ostentando altos índices de aprovação popular (em torno de 90%), tanto que elegeu e reelegeu sua sucessora - e olha o tamanho do desafio, elegeu a primeira mulher presidenta, num país machista, misógino e atrasado como o Brasil.
Dilma enfrentou de cabeça erguida toda a farsa que a derrubou e não pesa contra ela nenhuma acusação. Foi golpeada depois de terminar o primeiro mandato com o país vivendo em condição de pleno emprego (desemprego de ínfimos 4,8% em dezembro de 2014) e teve o segundo governo sabotado por gente da espécime de Aécio Neves, Eduardo Cunha e Michel Temer.
Ambos deixaram em caixa reservas de 300 bilhões de dólares, que até hoje salvam o Brasil da bancarrota.
Hoje, neste grave momento em que o mundo vive uma pandemia, temos um pré-adolescente brincando de nos desgovernar, e você - do alto de sua experiência de vida - passa a mão na cabeça do sujeito.
Seria até bonito e perdoável se fosse a avó acarinhando o neto travesso.
O problema é que esse seu 'neto' pré-adolescente tem sob sua responsabilidade vidas humanas e a última preocupação que ele demonstra é salvá-las.
Salvar vidas humanas é algo que não faz parte do raciocínio dele.
Aliás, esperar o que de quem se notabilizou por elogiar torturadores, pregar a morte de adversários políticos e por ter dito, logo que se elegeu deputado federal, trinta anos atrás, que a ditadura "devia ter matado pelo menos uns trinta mil, começando por Fernando Henrique Cardoso"?
Você pode pensar a bobagem que quiser sobre Lula, Dilma, Temer, FHC, Collor, Sarney, Figueiredo, Juscelino, Getúlio, Dom Pedro II, Dom Pedro I, Dom João VI ou mesmo sobre o índio mandão de antes da chegada dos portugueses, mas o fato é que nenhum desses está no governo do Brasil hoje.
O pré-adolescente que hoje nos desgoverna chama-se Jair Mentiras BolsoNero. A irresponsabilidade é dele.
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ATO II
Depois a Lurdinha me agradeceu e eu mesmo fiquei com a impressão de que eu houvesse praticado o chamado "mansplaning". Aproveitei para me desculpar e ampliar um pouco o meu "pitaco":
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"Ô, Lurdinha . Perdoe-me se pareceu 'mansplaning', não foi essa a intenção. Só mencionei seu nome porque a Magda se dirigiu a você. E, por sinal, você deu a ela a melhor resposta.
Minha intenção foi só comentar mesmo e aproveitar a oportunidade para passar informações aos seus leitores que, a meu ver, podem ajudar a desmistificar crenças que hoje integram o senso comum ('lularápio', 'dilmanta', essas bobagens que circulam pelas redes sociais).
Lula fez um governo excelente, Dilma idem, mas a política social de ambos despertou ódios e preconceitos porque incomodou a classe dominante, de índole inegavelmente escravagista. Por isso, era importante para essa casta derrubar a presidenta e desmoralizar Lula e seu partido.
Com apoio da mídia que a serve (aliás, os proprietários dessa mídia integram a casta), os que verdadeira e historicamente mandam neste país (os que detêm o poder econômico) conseguiram seu intento, no plano da narrativa.
Levou anos, mas é fato que a narrativa deles venceu, ou está vencendo até aqui.
Onde eles não vencem e jamais vencerão é no plano dos fatos. E os fatos expõem que Lula nada "roubou" (foi absolvido em todos, repito, TODOS os processos que não passaram pelas mãos sujas de Sérgio Moro - aliás, todos os processos só se iniciaram cinco anos depois que ele já havia deixado a presidência) e Dilma é uma mulher intelectualmente preparada.
Zombam dela, até hoje porque ela disse, num evento, de improviso, que 'ainda não temos tecnologia para estocar vento', como se isso fosse realmente um absurdo. Ora! Dilma tem formação superior em economia, com especialização em minas e energia. Antes de ser ministra (das Minas e Energia e, depois, chefe da Casa Civil), foi secretária de Minas e Energia do estado do Rio Grande do Sul, no governo de Alceu Collares, ao tempo em que o Brasil vivenciou o terrível 'apagão'.
E foi graças à competência dela e experiência na área que o Rio Grande do Sul foi o único estado brasileiro que escapou do apagão, porque ela havia criado as condições que evitaram a situação.
E 'estocar vento' nada mais é que uma forma simplificada de se referir ao armazenamento de energia eólica - coisa que, à época da sua fala, a multinacional Tesla vinha investindo milhões de dólares em pesquisas. E olha que ela disse 'ainda não temos' essa tecnologia disponível.
Outra fala que repercute até hoje é sobre a 'saudação à mandioca'.
Ela estava falando em tom de galhofa na abertura dos jogos indígenas e se dirigia ao governador Wellington Dias, do Piauí, que é de origem indígena e tem por apelido justamente "Índio".
Ela se referiu à histórica capacidade dos indígenas brasileiros que, muito antes da chegada dos portugueses, já haviam desenvolvido tecnologia para cultivo e consumo da mandioca, sobretudo para driblar a venenosa 'mandioca brava'.
E ela 'saudou' a mandioca exatamente como, nos nossos tempos de infância, saudávamos a cana-de-açúcar em desfiles cívicos em Capivari.
E outra fala 'polêmica' foi quando ela mencionou que 'trinta por cento de trinta por cento não são trinta por cento, mas nove por cento'. Uai, qual o resultado de 30% x 30% ??? Que respondam os matemáticos!
E, por último, a famosa 'a gente não estabelece meta, porque quando atinge a meta, a gente dobra a meta'. Ora, qual a dificuldade de compreensão?
Na verdade, ela estava se referindo à imprecisão de estabelecer determinada meta quando se sabe que, atingida esta, estabelece-se o dobro do atingido como nova meta.
Ela falava de 'meta em aberto'.
É fato, porém, que discurso não é o forte dela, ela às vezes tropeça nas palavras, não completa o raciocínio (completa no próprio pensamento e não o expõe; quem nunca?), mas chamá-la de 'anta' revela mais do caráter de quem assim a trata do que da própria Dilma.
Agora, compará-la ao limítrofe que nos desgoverna, aí já é demais, é inaceitável. É absoluta falta de noção e de senso de ridículo, 'data venia'..."
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(Luís Antônio Albiero, em Jacareí, SP, 23 de janeiro de 2021)