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29/08/2021

Nano, o Megaempresário

Nanoval é empresário. Convidado para ser sócio de uma empresa, assim se tornou. Ainda é pequeno, mas enxerga-se mega e sonha ver seu nome na lista de bilionários da Forbes.

Nano, como o chamam no clube dos falsos amigos, é exemplo da meritocracia dos bons relacionamentos.

Seu hobbie é cuidar de orquídeas, mas a planta a que dedica maior atenção é uma florzinha que cultiva no coração. Nano tem ódio de pobre.

Odeia seus empregados, suas domésticas e até mesmo seus gerentes e diretores que não se reconhecem como pobres, em cujos corações também viceja a venenosa flor do ódio.

Odeia particularmente Lula, a quem vê como representante do pobre que o próprio Nano foi um dia. Detesta sobretudo o filho dele, embora não faça a mínima ideia de quantos rebentos Lula tem, onde vivem, como vivem, de que se alimentam. Nano odeia Lulinha porque ficou milionário limpando cocô de elefante no zoológico e acabou sócio da Friboi. “Catando coco”, como escreve Nano, incapaz de compreender a importância da acentuação gráfica.

Apesar do sucesso conquistado à base de falcatrua, sonegação fiscal e apropriação da mais-valia, Nano continua um nanico cognitivo. Não duvido que ele creia que a Friboi venda carne de elefante vitaminada com o esterco do zoológico.

Nano inveja o sucesso de Lulinha porque este é dono do casarão da ESALQ, do iate do dono da rede TV! e de uma Ferrari folheada a ouro que deixa sob os cuidados de um xeique árabe que vive na Espanha – afora o fazendão que vai do Oiapoque ao Chuí.

Não duvidem, Nanoval é homem de muita fé, do tipo que faz questão de propagandear cada ato de caridade que pratica.

Certo dia, Jesus em pessoa passou diante de sua mansão. Nano viu-o multiplicar peixes e pães, distribui-los aos famintos, dar água aos sedentos, esperança aos desesperados e vida em abundância a milhões antes condenados a morrer de inanição ou viver na exclusão social. Mas as singelas vestes de Jesus denunciavam sua opção preferencial pelos pobres e Nanoval estremeceu. Chamou a polícia e Jesus foi preso.

Dias depois passou na mesma rua o diabo em carne, osso, rabo e chifres. Nanoval o viu pela janela da cozinha. Trajava roupas da cor do fogo, portava um tridente e um caprichado cavanhaque e fazia arminha com as mãos. Dizia coisas com as quais Nano se identificava, tanto que passou a chamá-lo de mito e o elegeu presidente.

Nanoval está radiante com o mito e até desistiu de produzir feijão. Resolveu investir em fuzis. O nanomegaempresário está certo de que agora chega à lista da Forbes.

(LUÍS ANTÔNIO ALBIERO, em Capivari, SP, aos 29 de agosto de 2021)

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