Há a inveja boa – a confessada, a que na verdade é admiração – e há a perversa, que produz engulhos na alma, que a corrói e leva o invejoso a sentir ódio daquele a quem, inconfessadamente, no silêncio de sua mente perturbada, tem por paradigma inatingível.
Eu, por exemplo, invejo – e confesso – quem tem o dom da escrita. Invejo, porque os admiro, Machado de Assis, Luís Fernando Veríssimo, José Saramago, Chico Buarque, por exemplo. Deles faço meus paradigmas na hora de escrever. Sei das minhas limitações, mas sei que, quanto mais os tiver como exemplo, como guias, melhor produzirei meus textos. Essa é a inveja boa, que nos impulsiona para a frente e para o alto.
Agora pense nos portadores da inveja perniciosa. Do sujeito que inveja o outro com a consciência de que jamais o alcançará e, por isso, se revolta contra ele. O fracasso diante do paradigma o leva a odiá-lo. Vejo aí, na inveja nociva, a origem desse ódio descomunal que as pessoas têm de Lula.
Lula é um homem simples, veio da miséria e, por seus próprios méritos, sem ajuda governamental alguma, chegou aonde chegou. Imagine a inveja que isso não causa nos defensores da meritocracia. Deve ser duro medir-se por ele e ver que, com tão poucos recursos, comendo o pão que o diabo amassou – aliás, pão que ele só conheceu e comeu aos sete anos de idade –, ele conquistou o cargo mais importante da República. Foi eleito, reeleito, fez a sucessora e a refez. Não deve ser fácil suportar essa comparação.
Imagine a inveja que dele não sentem os que passam horas e dias contemplando suas dezenas de diplomas que ostentam orgulhosos nas paredes de casa ou do escritório ao constatarem que, sem possuir nenhum, a não ser o de torneiro mecânico, Lula conquistou milhões de pessoas, no Brasil e mundo afora. Conquistou respeito e condecorações de governantes, lideranças e universidades, nacionais e internacionais, que lhe concederam dezenas – eu disse dezenas! – de títulos de Doutor Honoris Causa.
Até a honestidade causa inveja. Como é possível um sujeito entregar-se de corpo e alma à Política e ser honesto? Não ostentar pelo menos um iate, uma fazenda, um jatinho, uma mísera Lamborghini? Não, as pessoas não descreem – sentem inveja! Porque Lula põe à prova, a todo instante, o limite da honestidade de cada um. Quantos desses que o acusam sem fatos concretos, sem provas e a despeito de todas as provas em favor dele produzidas nos processos, quantos desses teriam tido força suficiente para resistir às inevitáveis tentações sobre quem tem, como Lula teve, sob seu comando trilhões em orçamentos? E tanto faz se são trilhões de reais, de dólares ou de euros. Um trilhão é um senhor trilhão em qualquer dessas moedas. Quantos desses teriam resistido à oferta de uma propinazinha, zero vírgula zero zero zero alguma coisa por cento, sobre um contratinho barato da Petrobras? É, essa força, essa capacidade de resistência de Lula é outro insuspeito objeto de inveja.
Quem, com todos os cursos e todo o conhecimento da língua portuguesa e de tantas outras línguas, de seus recursos linguísticos, das bibliotecas que pôs abaixo e devorou, dos romances e dos poemas que leu, das músicas que ouviu e filmes a que assistiu, pode suportar indiferente à capacidade oratória de Lula? Às suas múltiplas, inventivas e envolventes figuras de linguagem? Coisa do diabo? Não, coisa de Jesus! Não era Jesus que falava em parábolas? Pois é.
Quantos honrados pais de família, defensores da família e das tradições, suportam constatar que, ao contrário da realidade dos seus próprios lares, Lula viveu intensamente, por 43 longos anos, um casamento que é um verdadeiro conto de fadas? Você que me lê viu a foto dele, já de barbas brancas, abraçando Marisa, tendo ao fundo uma paisagem iluminada (na minha ignorância, confesso que não reconheci o lugar), beijando-a apaixonadamente? É a capa do meu perfil, veja lá. Viu o sorriso dela? Típica cena de filme de Hollywood! O que terão sentido, ao vê-la, esses que falsamente cultuam a família como valor?
A solidariedade é outro elemento de inveja. Solidariedade é a filha madura da caridade, essa coisa que os cristãos inventaram para aliviar a alma e o peso na consciência dos que muito têm e nada, ou quase nada, querem repartir. Solidariedade é o nobre sentimento que inspira um governante a criar um programa que tira mais de trinta milhões de pessoas da linha da miséria, que salva vidas, que leva um mínimo de dignidade às famílias, sem que elas precisem mendigar uma ajuda nos semáforos ou nas portas de restaurantes e igrejas à espera da caridade dos que vão à missa ou ao culto fingir-se de cristãos.
Integridade, tenacidade, sabedoria, inteligência, respeito à família, amor ao próximo e ao distante. Lula reúne todas essas qualidades. É muita coisa boa num homem só. Ele não pode ser real. Se é, como de fato é, eles o odeiam. E o odeiam visceralmente, porque o invejam e estão conscientes de que não conseguem e jamais conseguirão alcançá-lo.
Luís Antônio Albiero, 5 de fevereiro de 2017.
https://www.facebook.com/luis.albiero
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