10/02/2021

Conviccionismo: a Outra Face do Negacionismo

Acontece cada uma!

Companheirada, estou estupefato. Preciso dividir com vocês...

Uma estimada companheira, antiga faceamiga, petista aguerrida por quem nutria e sigo nutrindo profunda admiração, mas que, sei lá por que cargas d'água, tem birra com o Haddad (ela o ofende extremamente chamando-o de... "Adadi"!🤦🏻‍♂️🤭🤭🤭) postou, com o entusiasmo de um Arquimedes gritando "eureka!", que havia finalmente desmascarado o ex-prefeito da capital paulista.

Porque, seguinte.

Haddad deu entrevista, por estes últimos dias, a vários veículos de comunicação, começando pelo Brasil 247, dizendo que "no último sábado" ele teria tido uma conversa com Lula, na casa do ex-presidente, e que este ter-lhe-ia dito que era hora de ambos (vejam bem: ambos!) iniciarem um giro pelo país, com vistas às eleições de 2022. Foi quando ele, Lula, teria usado a expressão "hora de botar o bloco na rua", fato que eu mesmo comemorei aqui, neste meu modesto perfil.

Pois bem.

Hoje circulou a notícia de que Lula teria tido alta de uma breve internação que se iniciou justamente neste último sábado - três dias atrás. Uma bacteremia, nada mais preocupante. Tudo em ordem com a saúde de Lula.

Mas a pessoa - queridíssima por mim, reafirmo - extraiu desses fatos uma descoberta definitiva com potencial de provar o quanto Haddad estaria mentindo e conspirando contra Lula.

Ela já dizia, para minha estranheza, desde 2018, que Lula jamais teria indicado Haddad para ser candidato em seu lugar, quando sua candidatura se tornou juridicamente insustentável. Que teria sido mentira, uma tramóia do próprio Haddad em conluio com lideranças petistas que teriam tirado proveito da prisão e da incomunicabilidade de Lula para que o ex-prefeito pudesse se tornar candidato em seu lugar, naquelas circunstâncias de que todos bem nos lembramos, naquela fogueira danada de uma campanha extremamente curta, marcada pela comoção causada pela facada levada pelo concorrente.

Segundo a companheira, desta vez Haddad estaria mentindo porque Lula, internado no sábado, não poderia ter-se encontrado com ele, de modo que o ex-presidente não poderia ter-lhe dito sobre o "botar o bloco na rua", nem nada sobre ser o candidato etc. E que Fernando Haddad estaria apostando na morte - isso mesmo, na morte! - de Lula que, desse modo, jamais o desmentiria, de sorte que jamais saberíamos do verdadeiro teor do diálogo havido, ou supostamente havido entre eles... (😮😮😮)

Estranhei.

Não tenho nenhum dado objetivo que me permita duvidar da palavra de Haddad, que sempre me pareceu uma pessoa correta. E desde que Lula deixou a prisão política de Curitiba, já teve um milhão de oportunidades para denunciar a "tramóia", a "traição", a "conspirata" etc. Ao contrário, em todas as entrevistas que vi, e não foram poucas, Lula sempre usou de palavras amáveis para se referir ao ex-prefeito e sempre mencionou seu nome como importante pré-candidato pelo PT em 22.

Fui conferir.

A entrevista que Haddad concedeu ao 247 foi na noite de quinta-feira. Leonardo Attuch abre a entrevista dizendo "boa noite, são 21 horas do dia 4 de fevereiro..." E Lula foi internado no dia 6, sábado seguinte. Portanto, não era verdadeira a informação da companheira de que Haddad não poderia ter-se encontrado com Lula porque "no sábado" (dia 6) ele estava internado.

Eu, que não costumo duvidar da boa-fé de ninguém, muito menos da companheirada petista, fiz uma singela intervenção, num comentário em que disse a ela "relaxe" e segui explicando que a entrevista havia sido dada antes da internação, de modo que o "sábado" a que se referiu Haddad (no furo que deu ao Attuch) não poderia ser o futuro, naturalmente, mas o imediatamente anterior ou algum outro precedente.

Nossa! Uma geladeira caiu sobre minha cabeça.

Ela deletou meu comentário e me marcou para me dizer que eu não sabia quem era Haddad, a quem chamou de meu "crápula de estimação". E que se eu quisesse continuar sendo seu amigo, deveria parar de defendê-lo.

Aí veio outra, a quem sequer conheço, e iniciou uma saraivada de desaforos a mim.

Eu disse a elas que respeitava as suas convicções, já que, afinal, todos as temos, até o procuradorzinho das faces róseas da OrCrim da Lava Jato de Curitiba...

Expliquei que minha intenção era apenas repor a verdade, ainda que, pelo menos, a verdade lógico-sequencial dos calendários. E que continuava respeitando as convicções delas.

A outra, a dos desaforos, chegou a dizer que "ninguém vai internado sem estar mal antes"... E me chamou de "homo sapiens" (😱😱😱) e que eu deveria respeitar a "inteligência dos lúcidos" (😅😂🤣). E recomendou que eu "VSFD" com o "professor" (perguntei se "VSFD" significaria "Verdade Seja Falada Diariamente").

Convicções! Tão firmes que fizeram a moçoila esquecer da existência de males súbitos. E, de mais a mais, ninguém sequer ventilou a hipótese de que, enquanto esteve internado, Lula tivesse sido mantido incomunicável...

O negacionismo tem uma face oposta que é igualmente perversa: o "conviccionismo".

Enfim, cada qual que cultive as próprias convicções. Mas que o faça procurando respeitar, sempre e ao menos, a "inteligência dos lúcidos", particularmente deste "homo sapiens" que vos tecla.

(Em Jacareí, SP, aos 10 de fevereiro de 2021)

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