Nos anos Sarney e sua atabalhoada política de controle de preços - vã tentativa de barrar uma inflação que chegava a quase cem por cento ao mês -, tornaram-se célebres os autodenominados "fiscais do Sarney", gente do povo que denunciava à polícia comerciantes e estabelecimentos que descumpriam o tabelamento de preços imposto pelo governo federal. Isso em pleno período de retomada da Democracia.
Hoje vivenciamos algo parecido que reafirma e confirma a preocupação de Golbery. Incentivados pelo presidente eleito Jair Bolsonaro, o Messias, pessoas filmam e denunciam professores que, a seu ver, estariam tentando "doutrinar" seus filhos. São os "Fiscais do Bolsonaro". Sentem-se imbuídos de uma missão cívica e, mais grave, empoderados pela exortação de própria voz do presidente apenas eleito, que ainda sequer tomou posse, embora já tenha feito muitos estragos por conta de sua verborragia impensada e movida a preconceito ideológico.
Casos assim se multiplicam todos os dias e, quando os destaco a amigos que exerceram o direito de votar num candidato a ditador - o que respeito profundamente, embora não compreenda tamanho desperdício de oportunidade -, professores me acusam de "torcer contra" o Brasil. Explicar a essa gente que fazer oposição não é torcer, é lutar, e não contra, mas a favor do país, é tentativa vã e inglória. Não há o que os faça compreender. Déficit de democracia, talvez. Ou de cognição, diria Marilena Chauí.
E o futuro governo não está nem fazendo a "volta de apresentação", ainda. Imagine quando de fato e de direito for dada a largada.
Nuvens negras se formam no horizonte próximo, prenunciando dias sombrios, de raios, trovões e muitas pancadas fortes.
(Luís Antônio Albiero, em Capivari, SP, aos 17 de novembro de 2018)
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