É uma comédia de costumes em que se acentua a hipocrisia reinante em todos os lares e ambientes. Todos somos muito solícitos e nos irmanamos com alegria, até que chega aquela hora em que é preciso que um de nós descasque algum abacaxi verdadeiramente grande. Aí a coisa pega e cada um procura tirar o corpo fora.
Esse raciocínio, porém, não vale para Pedro Parente, ele que na semana passada deixou, tarde demais, a presidência da Petrobras. Parente é pau para toda obra! Precisa de alguém para fazer caca em favor do deus “Mercado”? Basta chamá-lo, ele está sempre disponível.
Nos anos 80, durante o desastroso governo de José Sarney, Parente estava instalado em cargo importante no Ministério da Fazenda, onde foi secretário-geral adjunto de 1985 a 1986. De 1987 a 1988, ocupou cargos elevados na Secretaria do Tesouro Nacional e, de 89 a 90, na Secretaria de Planejamento, que detinha status de ministério. Por esses tempos, segundo dados do IBGE, a inflação anual pelo IPCA passou de 79,66%, em 1986, a 363,41% em 1987, a 980,21% em 1988 e elevou-se a estratosféricos 1.972,91% em 1989. Era uma senhora inflação, convenhamos. Atendia pelo nome de “hiperinflação”. É verdade que nesse período Parente não ocupou cargos em que ele respondesse diretamente pela definição da política econômica, mas estava lá, compondo a equipe que o fazia.
Em 1990, quando Zélia Cardoso rapou a poupança de todos os brasileiros, ele ainda não compunha o governo de Fernando Collor de Mello, de triste memória, mas foi convocado em maio de 1991 para carregar o caixão. Parente ficou no cargo até 1992, ano do impeachment, e enquanto lá esteve participou da elaboração do orçamento da União.
De 1993 a 1994, durante o governo de Itamar Franco (PMDB), Parente estava do lado do inimigo, atuando como consultor externo do Fundo Monetário Internacional. Nessa época, a inflação ainda estava alta e o Brasil acumulava grande dívida externa. O FMI deitava, rolava e dava as cartas na economia do país.
Em meados de 2001, por conta da absoluta falta de planejamento e investimentos em geração de energia, houve um apagão elétrico marcado por blecautes que se repetiram por praticamente todo território nacional, iniciando uma crise energética que se prolongou até fevereiro de 2002. Todos os brasileiros foram obrigados a reduzir em 20% o consumo de energia, sob pena de pagar pesadas multas. Era então presidente monsieur Fernando Henrique Cardoso e adivinhe quem estava lá, em posição estratégica? Ele mesmo, Pedro Parente, que chefiava a Casa Civil (desde 1999) e foi escalado por FHC para coordenar um gabinete montado para tratar da crise, o chamado “Ministério do Apagão”.
Sua competência foi novamente colocada à prova (e de novo reprovada...) agora, no desgoverno Michel Temer, que, atendendo aos apelos e interesses do “Mercado” – esse sujeito nervoso e emocionalmente instável cuja cara ninguém conhece, mas faz ideia, atribuindo-lhe semelhança à do próprio capeta –, nomeou o tucano Parente presidente da Petrobras. Após mais de duzentos aumentos sucessivos nos preços dos combustíveis em apenas dois anos, eis que sobreveio o locaute das empresas de transportes e motoristas autônomos. Duzentos, enquanto durante os oito anos do governo Lula foram apenas oito aumentos, mesmo número nos seis anos em que Dilma presidiu a República. Parente foi atropelado pelos caminhoneiros. Depois de doze dias de paralisação, respirando por aparelhos, não resistiu e partiu da Petrobras para melhor. Após deixar o cargo, o valor das ações da estatal petrolífera caíram vertiginosamente, enquanto subiram as da BRF. Especula-se que o grupo comandado por Joesley Batista seja seu próximo destino nessa longa estrada da vida.
Entre blecautes e locautes, Parente faz jus à alcunha de “Ministro do Apagão”, o que torna inacreditável a relação de amor incondicional que o “Mercado” revela por ele. Parece alguém imprescindível, não importa os resultados que proporcione. É um ícone do tucanato, síntese perfeita do que representa para as camadas populares a alcandorada gestão tucana.
Assim como os filhos do casal do filme italiano, o “Mercado” também não existiria sem o povo, sem as pessoas que produzem, consomem e o alimentam. Porém, na hora em que o “Mercado” é chamado para cuidar dos “pais”, eis que – perdoem-me o “spoiler” – seu representante predileto explode a casa em que estes vivem. Com botijões de gás, como se espera de um profissional com experiência no ramo.
(LUÍS ANTÔNIO ALBIERO, advogado em Americana-SP, ex-vereador do PT em Capivari-SP)
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