02/01/2010

O Rio que Corta a Minha Aldeia

A recente cheia do Rio Capivari me inspirou a releitura do poema “O Tejo é Mais Belo”, do livro “O Guardador de Rebanhos”, de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. Diz o poeta português que, “porque pertence a menos gente, é mais livre e maior o rio da minha aldeia”.

“Poucos sabem qual é o rio da minha aldeia, / E para onde ele vai, / E donde ele vem”. Pois eu o digo. O Rio Capivari desce de Jundiaí, corta a minha aldeia e vai servir suas águas ao Rio Tietê, engrandecendo-o. Decerto, não é o maior do mundo, nem o mais belo, mas “pertence a menos gente” e, portanto, há de ser mais livre e maior que qualquer outro.

Nestes dias de chuvas intensas, o Capivari libertou-se de vez e transbordou muito além da conta. Só não causou tragédia maior porque não houve perda de vida humana, felizmente.

Tem sido assim desde que me conheço por gente. Em 1970, havíamos nos mudado de Rafard para a casa de meus avós maternos, no bairro Jardim América, eu mal completara sete anos, vi as ruas encharcadas a duas quadras de onde morávamos, próximo do Juventus. Lembro-me das canoas transportando pessoas em desespero, das mudanças às pressas, das cabras sobre as mesas e animais sobre os telhados, e da repercussão que o caso teve em âmbito nacional.

Depois disso, vi outras cheias na mesma região do Juventus, do Posto Shell, da ponte da rua 15 de Novembro, mas o ponto mais preocupante mudou para o lado do bairro Moreto. Ali, em área de proteção ambiental, migrantes atraídos de seus estados para o corte de cana e pelas promessas de uma vida digna, encontraram lugar para construir barracos e casas de alvenaria de baixo custo e qualidade. Não precisavam pagar pelo terreno, ou pagavam pouco por áreas nas imediações, e passavam a residir bem perto dos centros de Capivari e de Rafard, e do leito do rio. Aos poucos, a região foi contando com serviços e equipamentos públicos, transporte, escola, creche, posto de saúde, tornando-se cada vez mais atraente, cada vez mais populosa. Ano vai, ano vem, repetem-se as enchentes, a súbita e atabalhoada correria para abrigar os desalojados, o drama vivenciado por idosos, crianças, grávidas, arrancados de seus lares, a transferir residência para o ginásio de esportes ou para escolas municipais, a depender da generosidade e da boa vontade alheias. E tudo o que acontece é a renovação de promessas, que iterativamente caem nos esquecimento. Não há até hoje sequer um planejamento prévio de socorro para atender a uma situação sempre previsível, como cheguei a propor logo na minha primeira passagem pela edilidade local.

Parece que, nesses anos todos, as autoridades foram mesmo incapazes de pensar numa solução definitiva, sequer num paliativo de eficaz prevenção. Como no poema de Pessoa, “o rio da minha aldeia não faz pensar em nada / Quem está ao pé dele está só ao pé dele”. A cada novo governo, uma nova esperança, uma nova promessa, uma nova decepção.

Não basta construir casas para a população que se acha em área de risco, há que se planejar o que fazer para dar a essa área aproveitamento útil e, ao mesmo tempo, e sobretudo, para impedir que outras pessoas continuem a fazer dela uma opção de moradia de baixo custo. Se não houver um projeto para coibir novas construções, será inevitável, as pessoas vão ocupar o lugar, impelidas pela necessidade humana de viver sob um teto.

"Ninguém nunca pensou no que há para além / Do rio da minha aldeia", prossegue o poeta. Hoje, dizem, temos um prefeito com capacidade de raciocinar e planejar. Que desta feita ele, que está "ao pé do rio", no comando da situação, lá não esteja apenas para ver, lamentar, redigir instruções normativas, distribuir responsabilidades e prometer, mas que não perca a oportunidade de efetivamente pensar numa solução definitiva. E de executar o que há de ser feito.

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Texto publicado originalmente no blogue “Cantinho do Pensamento”, postado em 2/jan/2010 (http://luisalbiero.spaces.live.com/)

13/08/2002

Não acredite em bruxas

(Originariamente publicada na revista Perfil, de Capivari)

Eu não acredito em bruxas. Elas mentem demais, inventam cada fofoca, sem a menor preocupação com aqueles pobres coitados a quem cozinham em seu caldeirão de óleo quente.

Há, com certeza, uma bruxa em cada quarteirão, bem pertinho de você. Observe com atenção e verá. Se não for na casa da esquina, será um pouco mais para cá ou um tanto para lá. A principal característica que permite reconhecer uma bruxa a distância é a sua vassoura. Ela passa a maior parte do dia varrendo a calçada. Varre sem parar, deixa tudo limpinho, um primor, mas nunca está satisfeita. Parece um exemplo de dona-de-casa. Não se deixe enganar, porém. É só um expediente para que ela possa ficar de olho no que fazem seus vizinhos.

Já vi amizade ser desfeita por causa de uma bruxaria. A secretária de um conhecido meu era namorada de um amigo dele. Ele estava ensinando a moça a usar o computador; ela sentada, ele em pé, atrás da cadeira. A posição em que ambos se encontravam não era nada comprometedora, mas as mãos do sujeito apoiadas sobre o espaldar da cadeira davam a impressão de que ele tocava os ombros nus de sua vaporosa secretária.

Vendo a cena enquanto varria a frente de sua casa, a bruxa obteve os ingredientes necessários para fazer mais uma de suas receitas malignas. Com a vassoura, voou para onde se encontrava o namorado da moça e entregou o serviço rapidinho. O infeliz sorveu, num único gole, a poção mágica que a velha lhe servira. E ele o fez com tal volúpia que quase se afogou. Resultado: adeus emprego da menina, adeus namoro, adeus amizade.

Nos dias de hoje, anda alta a cotação da bruxaria. Basta ver o sucesso que fazem programas de TV especializados em bisbilhotar a vida alheia e excitar o sadismo de milhões de telespectadores, ávidos por uma pancadaria espetacular ou uma "pegadinha" nada original. Como num passe de mágica, os aparelhos televisores acabam sendo transformados numa imensa janela indiscreta.

O nariz comprido já não é uma característica das bruxas dos tempos modernos. Há umas que até têm narizinho bonitinho, bem feitinho, arrebitado, uma graça. Àquelas menos afortunadas pela natureza sempre restará a possibilidade de recorrer a uma cirurgia plástica corretiva; afinal, bruxa que se preza acompanha o desenvolvimento tecnológico. Ou estará fadada (bruxas detestam este termo) a ser uma eterna bruxa velha e decadente. De qualquer forma, a proeminência nasálica está presente, ao menos de forma simbólica, como emblema de quão elas são mentirosas, verdadeiros pinóquios voadores.

As bruxas adoram voar à luz da lua cheia., pois é na calada da noite que elas aprontam suas piores mandingas. Mas engana-se quem acredita que elas sejam seres exclusivamente notívagos. Elas têm uma vitalidade tal que nem precisam dormir. Atuam dia e noite, incansáveis.

Parece machismo falar das bruxas assim, no feminino. E é. Pois esse mal não é exclusividade das mulheres. Terrível injustiça, claro, porque há também os bruxos, seres ainda mais perversos do que as fêmeas de sua espécie.

E há os intermediários, sexualmente indefinidos. Mal amadas, algumas ainda virgens, essas bruxinhas são histéricas, acham tudo um tédio, adoram armar confusão, criar inimizade. Anos atrás, cruzei com uma delas pelas ruas do centro. Ela caminhava num ritmo cadenciado, bruxuleante, bumbum para cá, bumbum para lá, esforçando-se com algum êxito para aparentar a elegância de uma gazela. Uma delicadeza!

A bruxinha atravessou a rua bem à frente de meu automóvel. Histriônica e doidinha para armar confusão, a moçoila deu um salto tresloucado e pôs a boca no trombone. Rodou a baiana. Soltou aquele gritinho estridente próprio das bruxas, que quase me estourou os tímpanos. Desci para ver o que tinha acontecido. Absolutamente nada! Puro susto da menina, que, incontrolável, dizia aos berros que eu quase a havia atropelado. "Aaaaai , você quer me mataaaar, ô bofe?", esbravejava.

Há quem diga que elas têm mesmo essa mania de perseguição. Vêem ameaça em tudo. Um olhar mais sério, um gesto mais abrupto e pronto. Elas se borram de medo, são ariscas como uma marmota.

O melhor é não dar trela para elas. Se há uma bruxa em sua vizinhança, ignore-a. Não lhe dê mais do que um bom dia ou boa noite, e olha que já é muito. Acautele-se. Ponha proteção em suas portas e janelas, por mais altas que estas já sejam. Lembre-se de que a elas basta uma vassoura para que possam alcançar as alturas. E elas sempre poderão contar com o auxílio de um binóculo.

Se, contudo, for inevitável o contato, principalmente não acredite nas bruxas. Porque elas mentem uma barbaridade. E, impiedosas, fazem cada estrago!

15/07/2002

A Sabedoria do Mestre Exíbio

Mestre Exíbio não tinha a aparência de um profeta. Não era idoso, não possuía barba branca, tampouco cavanhaque ou olhos puxados como os de um monge chinês. Sujeito franzino, cabelos sempre alinhados, olhinhos miúdos e um sorriso dissimulado faziam dele um homem comum, um boa-praça, apenas isso. Mas era botar o paletó preto e ei-lo com um insuspeito ar de pastor evangélico.

Apesar da pouca idade, era O Mestre. Contavam-se nos dedos de uma das mãos as pessoas que o levavam a sério, mas era assim que ele se intitulava.

Como todo guia espiritual, Mestre Exíbio tinha seus seguidores. O mais próximo e mais constante era um indivíduo baixinho, de corpo desengonçado, a quem o mestre chamava de Pequeno Micuim. Contrapondo-se ao seu cérebro diminuto, Micuim era dono de protuberantes barriga e traseiro, que lhe proporcionavam uma certa e bisonha simetria. Algo como o côncavo e o convexo, como se as conchas do Congresso Nacional tivessem sido postas uma contra a outra, levemente deslocadas.

O andar de Micuim era lento como seu raciocínio. Enquanto conversava, costumava apertar o olho esquerdo, sem fechá-lo. Se se esforçava muito para pensar, aquele olho cerrava-se totalmente, enquanto o outro se abria mais do que o normal.

Os dois caminhavam pela manhã de uma sexta-feira qualquer, como de hábito. O discípulo indagou:

– Terá o Mestre algum inimigo?

– Pequeno Micuim – respondeu o outro, pausadamente -, reflita sobre estas palavras que vou pronunciar. Quem não está comigo, está contra mim. Aquele que não é meu amigo, meu inimigo é. E todo aquele que for amigo do meu inimigo, também nutrirei por ele a mesma inimizade. E dois inimigos meus, ainda que um não conheça o outro, considerá-los-ei amigos entre si.

Micuim não compreendeu nada daquele discurso. Porém, era seu costume elogiar o outro.

– Sábias palavras, ó Mestre!

Um pássaro passou muito próximo dos dois, num vôo rasante, enquanto Micuim olhava para o alto. Se quisesse, aquela ave não teria tido pontaria tão certeira. Uma substância branca com cobertura preta jorrou do animalzinho e alojou-se exatamente no olho esquerdo de Micuim, obrigando-o a fechá-lo de vez. O mestre soube tirar daquele episódio mais uma importante lição:

– Veja, Pequeno Micuim. Você, que sempre se proclamou amigo dos passarinhos, bem vê agora a antipatia que tais animais nutrem por você. D’agora em diante, como poderá você continuar considerando amigos os pássaros?

Limpando o olho atingido com a alça direita de sua camiseta sem mangas, com o outro Micuim fitava Mestre Exíbio sem perder o ar de admiração. Assim permaneceu mesmo quando se abaixou para, de joelhos e com a fralda da camiseta, limpar os respingos que haviam caído sobre o sapato do Mestre. Este era, para ele, um ídolo incontestável. Desmanchar aquele êxtase permanente, que os seres desprovidos de luz manifestam logo que vêem alguém a quem têm por superior, seria tão pecaminoso como um cristão pôr em dúvida a existência de Deus.

– Mestre, eu não tenho inimigos…

O profeta retorquiu, em tom de advertência:

– Então procure fabricá-los, meu caro. Não apenas um, nem dois, mas vários de uma só vez. Prefira os grandes. Um homem certamente ficará incomodado se uma formiguinha estiver acossando seu calcanhar. Ele terá que parar para afastar aquele inseto indesejável. Veja como isso é maravilhoso, Pequeno Micuim! Aquele homem, de pernas longas e passos largos, estará sendo subjugado por um bichinho quase invisível.

Pequeno Micuim jamais ousaria questionar as verdades que piamente acreditava contidas nas palavras mais fúteis de seu guia. Quando fazia perguntas ao Mestre, nunca era por duvidar do que o outro lhe dizia. Havia sempre o intuito sincero de aprender, de bebericar do que julgava ser a fonte do saber. Micuim só não fazia idéia do quão impura era a água daquele manancial.

– O que isso representará para a formiguinha, Mestre?

– Feliz indagação, meu aprendiz. Veja como isso será bom para aquele inseto: ele se sentirá tão grande e tão forte como o homem a quem incomodava. Por isso eu lhe digo: incomode! Incomode o maior número de pessoas que puder. Crie inimizades sem parar! A vida sem percalços não tem a menor graça.

– Não deveria eu perdoar os meus inimigos?

– Não, Pequeno Micuim. O perdão não é virtude, é apenas demonstração de fraqueza. O homem que perdoa quem o ofende pratica injúria contra si mesmo, renega a sua própria honra.

– Mas, Mestre. Não está nas sagradas escrituras que chegará o dia em que leões e cabritos, lobos e ovelhas abraçar-se-ão?

Mestre Exíbio não era leitor dos textos sagrados, senão eventual, de modo que foi tomado de surpresa com pergunta de tanta profundidade. Sem alterar o semblante, prosseguiu em seu lento caminhar, buscando no horizonte inspiração para responder ao discípulo. Então disse:

– Vamos com calma, Pequeno Micuim. As coisas não são simples como parecem. É certo que esse dia chegará. Mas, antes do grande acordo final, será sempre necessário acertar os honorários dos advogados…

Micuim ficou prostrado, boquiaberto diante do que cria ser uma sapiência inesgotável.

– Sábias palavras, ó Mestre! – foi tudo o que conseguiu dizer.

Assim prosseguiram naquela caminhada matinal, o mestre exibindo sua filosofia, em jorros de falácias, e o pobre Micuim embebedando-se delas.

(Publicado originariamente na revista “Perfil”, de Capivari, em agosto de 1998)

13/01/2001

A Tribo dos Tipoassins

- Nossa! Você também pertence à tribo dos tipoassins?!

Rolava um papo supersério com um chegado, que me passava detalhes de como seria seu divórcio, tipo eu vou ficar com a casa da praia e o carro importado mas tudo bem ela pode ficar com o cachorro e se quiser com a casinha dele também, quando eu o interrompi com essa pergunta.

Meu conhecido não é de origem indígena. Melhor dizendo, deve ter aquele fiozinho de sangue índio que corre pelas veias de quase todos nós brasileiros (não é à toa que os americanos imaginam que no Brasil, em qualquer rua de qualquer cidade, há silvícolas travando guerra de flechas o tempo todo. E americano costuma odiar índios e flechas e tupiniquins e latinos em geral).

Expliquei ao meu amigo que essa tribo nem os irmãos Vilas Boas, famosos indigenistas, chegaram a conhecer. Ainda não está sequer catalogada nos compêndios de antropologia. Mas não era a uma tribo indígena que eu estava me referindo. Hodiernamente (eta palavrinha odiosa esta, um tanto quanto hedionda. E obsoleta.), "tribo" designa qualquer agrupamento de pessoas que se distinguem por uma característica comum, sem que tal distinção seja por origem étnica, como a princípio pode parecer. Há a tribo dos esquinredes, dos fanques, dos revimétal (como será o plural disto?). São as mais conhecidas. E todas têm alguma consangüinidade ou afinidade ideológica com os tipoassins. Eu mesmo redigi com absoluta naturalidade o parágrafo que começa com "rolava um papo supersério" porque, em certa medida, também tenho laços com a tal tribo. Não renego minhas origens.

É fácil reconhecer um legítimo tipoassim. Basta ficar atento ao vocabulário das pessoas. Experimente, por exemplo, girar lentamente o daio (do inglês "dial", que significa daio) do seu rádio FM. Ao percorrer menos de duas ou três estações, se tanto, você logo ouvirá um locutor esgoelando-se, berrando com voz esganiçada a seguinte frase:

- E aí, galeeeeeeeera? (ai, meus tímpanos!)

Pronto. Você já achou um autêntico representante dos tipoassins. Mais do que isso, você acabou de encontrar um dos maiores propagandeadores da cultura e dos costumes dessa gente.

Nas ruas, nos ônibus, nas escolas, onde você estiver, com certeza haverá alguém por perto que pertence à tribo. Você mesmo, quem sabe, ou alguém de sua própria casa pode ser um deles.

Creio que os tipoassins são seres dotados de extrema inteligência; afinal, são bons entendedores. Meia palavra basta para que todos entendam tudo. Uma reticência é uma sentença. São minimalistas do raciocínio, adeptos ferrenhos da lei do mínimo esforço, especialmente mental.

Quando você for à rodoviária de Campinas, por exemplo, procure sentar-se naqueles bancos de espera, próximo a um grupo de estudantes. Não importa que sejam da PUC ou da Unicamp. Você os identificará pela grande quantidade de mochilas e pela vestimenta. Eles só vestem roupa "Versáti", ou seja, calças jeans e uma camiseta "básica", que servem para qualquer ocasião. Tudo é muito "versáti", eles dizem, referindo-se à "versatilidade" dessa espécie de vestuário. Note que logo chegará outro, amigo deles, que os cumprimentará com o indefectível "e aí, galera".

Fique muito atento ao "papo que vai rolar". A certa altura, um deles passará a explicar alguma coisa aos demais. Imaginemos, por hipótese, que ele esteja contando o que pretende fazer no final de semana:

- Tipo assim, acho que vou pro sítio do meu avô, sei lá. Tá a fim, galera?

Outro perguntará mais sobre o tal sítio. E a resposta será tipicamente tipoassim:

- Ah, tipo assim. Tem lagoa... mil coisas.

E virão novas perguntas em linguagem tipoassim:

- Seu avô, tipo assim, planta alguma coisa lá?

- Tipo assim, meio que parece que ele meio que planta cana, sei lá.

A essa altura, uma garota do grupo vai dizer que conhece o sítio, pois já esteve lá certa vez.

- Eu superadorei! É mó legal. É dez! Tipo assim, sei lá. É super.

O agourento do grupo, aquele que sempre é do contra, vai dizer:

- Aí, manera! Lance mais besta, galera! Perder o finzão de semana no meio do mato, pisando em m... de vaca, meu? Qual que é, dá um tempo. Tipo assim, meio que programa de índio. Sei lá.

Chega a hora de descer para a plataforma 5, que o Caprioli prepara-se para sair. Alguém diz:

- Vam’nessa, galera, que o buzão já tá roncando.

E lá se vão os tipoassins, em bando, cuidando da preservação de sua cultura. Siga-os. Discretamente, sente-se num banco à frente dos que eles escolherem. Os tipoassins costumam viajar nas poltronas do fundão. E vão zoando a viagem toda. Curta o passeio. Ouvido neles! Não se esqueça de, no final, antes de descer do ônibus, dizer-lhes:

- Valeu, galera! Foi super!

Fui.