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21/12/2021

Lula e a Consciência do seu Tempo

A realidade exige pragmatismo.

Lula tem consciência do momento e do papel que lhe cabe.

Que bom seria se pudéssemos apresentar uma chapa pura - Lula e Gleisi, Lula e Haddad, Lula e Dilma! Ou pelo menos de esquerda, Lula e Dino, Lula e Manuela, Lula e Freixo, Lula e Boulos...

Não agregaria nada, não geraria simpatias, muito pelo contrário. Seria demonstração de sectarismo, de arrogância, do PT ou das esquerdas.

Os movimentos que Lula vem fazendo têm-lhe aberto portas, as mais inesperadas. Veja-se o destaque que, súbito, as organizações Globo e toda mídia velha vêm dando a Lula, desde o giro pela Europa até o jantar do Prerrogativas.

Lula sabe que, mais do que juntar letrinhas e nomes fortes para ganhar uma eleição, ele precisa exortar a paz, resgatar a união das famílias e o respeito entre adversários políticos.

Ele sabe que enterrar o bolsonarismo, abortar o fascismo já em fase avançada de desenvolvimento, é condição necessária para que ele próprio, ou qualquer outro que venha a vencer a eleição, tenha um mínimo de tranquilidade para governar, tenha segurança política e jurídica.

O ódio disseminado por todo o país desde que se exacerbou o antipetismo, que na verdade significa "antipovismo", ódio ao povo, às conquistas sociais dos debaixo, dos antes condenados à senzala, só vai se esvair com doses mais fortes de governo petista.

É preciso avançar em iniciativas que signifiquem empoderamento do povo pobre, como as políticas de cotas nas universidades, Prouni, Ciência Sem Fronteira, por exemplo.

Sobretudo agora, quando se tornou imprescindível recuperar direitos e políticas públicas exterminadas pelos governos Temer e BolsoNero, como os direitos trabalhistas, o sindicalismo, a proteção dos trabalhadores, a par da revisão de toda política entreguista dos últimos governos.

Para isso é necessário mais do que apenas retornar ao comando do governo, é ter garantias de governabilidade. Aprendamos com a História, particularmente com os fatos mais recentes, como o golpe dos corruptos de 16.

Teremos de ampliar nossa representação no Congresso. Resgatar os direitos trabalhistas exigirá aprovação de uma PEC, vale dizer, obter os votos de mais de trezentos deputados e senadores. Viabilizar políticas de inclusão social, idem, pois será preciso derrubar o teto de gastos e, para tanto, modificar a Constituição. Só para evitar um impeachment são necessários quase duzentos deputados aliados e leais.

O Brasil é muito grande, os interesses são os mais diversos, nossa cultura política, sobretudo no que diz respeito ao exercício da democracia, é ainda incipiente e frágil. A par disso, nosso desenho político-institucional é complexo e exige do presidente negociar constantemente com o parlamento.

Antes tenhamos que dialogar com o ex-PSDB de Alckmin e FHC, com o MDB de Renan Calheiros, com o PSD de Gilberto Kassab, respaldados por PT, PCdoB, PSOL, PSB, PDT, PV e Rede, do que termos de ceder à truculência do bolsonarismo. E, por óbvio, só poderemos dialogar com aqueles, e não com estes, se os primeiros forem eleitos - de preferência, sem a presença significativa dos últimos.

(Luís Antônio Albiero, em Jacareí, SP, aos 21 de dezembro de 2021)

16/06/2018

Deus e o Diabo na Terra do Quá

 

Desacorçoado com todas as injustiças que Moro vinha praticando contra Lula, Deus resolveu que devia interceder.
O criador do céu e da terra levou em conta que Lula socorreu quase quarenta milhões de seus amados filhos que viviam abaixo da linha da miséria, antes condenados a morrer de fome ou à exclusão do meio social, e resolveu ir pessoalmente à vara de Curitiba. E o fez como mandam os protocolos humanos.
Com seu jeitão humilde e educado, chegou ao saguão do Fórum, apresentou-se ao oficial de justiça que atendia à porta do juiz, conversou com sua assessora pessoal e pediu uma audiência com o chefe da Lava Jato.
Maravilhada diante de tão ilustre personalidade, a loura simpática, atrapalhando-se com seus grandes óculos e a correntinha que os prendiam ao pescoço, disse a Deus, com muito jeito:
- Espere um instantinho, por gentileza, meu senhor. Vou estar vendo com o meritíssimo, volto já.
E Deus, em sua reconhecida bondade sem fim, sentou-se, perdoou-a em pensamento pelo gerundismo e aguardou.
Lá dentro, a assessora informou o chefe:
- Doutor, Deus está aí na antessala e aguarda sua autorização para uma audiência.
Moro, sem alterar o semblante, sem fazer um mínimo gesto que pudesse amarfanhar sua camisa preta, lançou para a moça um olhar frio e disse, com a estrídula voz que lhe rendeu a famosa alcunha:
- Hããã... Quem ele pensa que é?
E não o atendeu.
Interessante é que uns dias antes o próprio Lula já havia recebido, sem qualquer restrição das autoridades lavajatistas, outra ilustre visita. Do Capeta, também em pessoa.
O Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num instante todos os reinos do mundo.
Disse-lhe o Diabo:
- Dar-te-ei a liberdade. Se tu desistires de ser candidato a presidente, serás livre!
E lançou o Anjo das Trevas um tonitruante berro que ecoou pelo vale e se fez ouvir por todo o país:
- Lula livre!!!
O ex-presidente fitou-o com olhar matreiro, sorrisinho de lado, enquanto cofiava a barba branca, e perguntou ao Capiroto:
- Foi Gilmar Mendes que o mandou vir aqui, não foi?
O Coisa Ruim ferveu em ódio, avermelhou-se em brasa, mas não abriu o bico, cônscio de que a missão que cumpria era supremo segredo de justiça que não se vaza.
Lula, que vinha ocupando seu tempo na masmorra com leituras, recorreu a Vinícius de Morais. Lembrou-se de “Operário em Construção” e respondeu:
- Não!
O Tinhoso, revelando-se também iniciado em literatura, com gestos, trejeitos e eloquência de um ator em peça de Shakespeare recitou:
"- Dar-te-ei todo esse poder e a sua satisfação, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem bem quiser. Dou-te tempo de lazer, dou-te tempo de mulher. Portanto, tudo o que vês será teu se me adorares e ainda mais, se abandonares o que te faz dizer não."
Voltou-se para o presidente operário e aguardou-lhe a resposta a tão sedutora proposição.
Lula olhou com redobrada atenção para tudo que do alto do monte podia ver e, em cada coisa que via, misteriosamente havia a marca de sua mão.
O ex-presidente aquietou-se e, no longo silêncio, ouviu a voz de todos os seus irmãos, dos companheiros que morreram para que outros vivessem. Uma esperança sincera cresceu no seu coração e, na tarde mansa, agigantou-se a razão de um homem a quem quiseram pobre e esquecido. Razão, porém, que o fizera dum operário em construção um estadista construído.
E o operário disse:
- Não!!!
"E o operário fez-se forte na sua resolução.”
(LUÍS ANTÔNIO ALBIERO, em Crônicas & Agudas: https://www.facebook.com/147914562547688/posts/855821665090304/)
4.434
Pessoas alcançadas
1.261
Engajamentos
Pontuação de distribuição

19/12/2016

Sim, Roubou

Muitas pessoas me acusam de fanatismo porque ouso caminhar na contramão do fanatismo delas próprias.

Por exemplo, elas costumam dizer que têm certeza (convicção...) de que Lula roubou.

Nessas horas, eu costumo dizer a elas - cuidando para não as ofender - que o acusam certamente porque sabem de fatos criminosos e dispõem de provas, porque não posso partir do pressuposto de que ajam com leviandade.

Então, para que não sejam ou não se comportem como levianas, recomendo-lhes que sejam patriotas, que tomem uma atitude cívica, que comuniquem os fatos e encaminhem as provas ao MPF ou à Polícia Federal, que andam louquinhos para botar Lula atrás das grades.

Ultimamente, já de paciência perdida, tenho-lhes dito o seguinte, em "concordância" com o que dizem, como fiz há pouco:

"Sim, roubou. Só deve estar esperando passar desta para melhor para, no além-túmulo, usufruir de toda fortuna que roubou. Ou talvez aguardar uma nova encarnação e se lembrar de onde enterrou o tesouro."

(Luís Antônio Albiero, em Capivari, SP, aos 19 de dezembro de 2016)