Crônicas e Agudas

Coletânea de crônicas e contos.

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25/05/2025

O Inabalável Jota

 Jota não estava em seu gabinete quando o telefone tocou. A secretária atendeu e a notícia era grave: a mãe do poderoso chefão havia falecido. 

Sem pestanejar, Marta ligou para o celular do chefe. A ligação foi atendida por um dos seguranças. “Ele está no mar, andando de jet-ski”, respondeu Merci, um policial destacado para a atividade.

“É urgente”, insistiu Marta, passando os dedos por entre seus longos cabelos amendoados que lhe escorriam pelos ombros. Transmitiu a notícia em palavras atropeladas. “Vou ver o que posso fazer”, avisou o outro.

Merci pegou um jet-ski e foi ao encontro de Jota. Ao se aproximar, deu sinais para que parasse e o ouvisse, mas o chefe estava muito feliz com o passeio, nada poderia interrompê-lo. Merci gritava é urgente, sem que Jota o escutasse.

Demorou até que, enfim, Jota parou.

— Que foi, Paraíba? Que que ‘tá acontecendo? Morreu a mãe de alguém?

— Isso mesmo, senhor.

— Vai me dizer que morreu a mãe do Trump. 

— Não exatamente…

— Menos mal. Eu ficaria muito sentido se fosse a mãe do Trump. Qualquer outra, eu não teria o mesmo sentimento — disse, lançando uma risada engasgada, expondo os dentes cerrados, a meia boca esticada em direção às orelhas.

— Gosto muito do cara, ‘cê sabe — completou Jota.

Ambos retornaram com os jet-skis até se reunirem em chão firme.

— E então, morreu a mãe de quem? Do português da piada? Hahaha! Conhece a piada do português que veio para o Brasil? Não conhece? Vou contar, então. Ele deixou em Portugal um gato para ser cuidado pelo amigo Manoel. Hahaha. 

— Senhor… — tentou interromper Merci, sisudo.

— Calma, rapaz! Por que a pressa? Por acaso foi sua mãe que morreu? Se foi, pode ir embora, está liberado por hoje — disse, escarcalhando novamente. 

— Não, não foi...

Jota o interrompeu e prosseguiu:

— Então. O português veio pro Rio de Janeiro, ‘tava lá de boa curtindo uma praia, tomando uma caipirinha, mulherada em volta… Hahaha! De repente, toca o celular. Era Manoel. Joaquim! Teu gato morreu! Hahaha.

Jota enrijeceu a musculatura facial, travou o riso e alçou as sobrancelhas, à espera de uma reação do segurança, que não veio. Continuou: 

— O português desmaiou, foi levado pro hospital. Quando se recuperou, ligou pro compadre e deu-lhe uma bronca. Quase me matas, ó Menuele! 

Jota fez um movimento com o corpo como se mudasse de personagem, a mão à orelha, em concha. 

— Mas como eu deveria ter dado a notícia?, perguntou Manoel. Hahaha! 

Fez outro movimento com o corpo e mudou a mão de orelha:

— Ora, devias ter me preparado para a má notícia. Primeiro, tu me dizias, Joaquim, teu gato subiu no telhado. Um tempo depois, me avisavas que o gato caiu do telhado. Por fim, eu já com o espírito preparado, aí sim tu me contavas a fatalidade!

Jota olhou fixamente para Merci, esperando arrancar-lhe uma risada, uma expressão de surpresa, que de novo não se apresentou. Sem perder o ânimo, retomou a contação:

— Manoel então disse que havia compreendido e, tudo bem, aquilo não aconteceria mais, e Joaquim voltou à praia. ‘Tava lá tomando uma cervejinha, comendo um camarãozinho e coisa e tal, quando, de repente, toca o celular. De novo, era Manoel. Hahaha! 

Jota levou a mão mais uma vez ao ouvido:

— Ó, Joaquim! Tua mãe subiu no telhado! — e desabou em nova gargalhada.

Merci permaneceu impassível, confrangido. 

— Ô, Paraíba! Não achou graça? Ria, rapaz! Ô sujeito mal-humorado.

O segurança mal foi capaz de esboçar um sorriso contido. Já não sabia como dar a notícia. Sentiu-se tomado por um desejo mórbido de dizer senhor, quem subiu no telhado foi a sua mãe, mas o só pensar nessa possibilidade lhe causou o desconforto de um profundo remorso.

— Desembucha, rapaz! Fala aí, a mãe de quem morreu? Vai dizer que, por coincidência, foi a mãe do Joaquim? — e gargalhou com mais intensidade.

— Quase isso — deixou escapar Merci e se arrependeu imediatamente.

— Como assim, quase isso, oxente? — repetiu Jota, imitando-lhe o sotaque e debochando do auxiliar.

— Sua mãe, senhor. Sua mãe, infelizmente, ela… faleceu. Marta acabou de telefonar. Meus sentimentos.

O semblante de Jota alterou-se com vagar, do meio sorriso de dentes cerrados para uma fisionomia fechada, quase de surpresa. Lançou um olhar severo para Merci, desvencilhou-se da boia que ainda envolvia seu corpo e perguntou:

— Por que não me disse logo?

Merci preferiu não responder.

— Quando foi?

— Hoje. Talvez ontem, Marta não soube dizer. Ligaram há pouco do asilo.

Jota voltou para o hotel. Foi de helicóptero para a pequena cidade onde a mãe passara toda a vida. A aeronave pousou num descampado próximo do cemitério em que o corpo era velado. Tomaram o automóvel que já os esperava e rumaram para o velório.

— Vamos lá, Paraíba — disse Jota ao descer do veículo, ajeitando seus óculos escuros e alisando os cabelos. Merci fez o mesmo com os próprios óculos, deu batidas no terno, puxou-o para baixo a esticá-lo, ajeitou a gravata de listras verdes e pretas e seguiu o chefe.

O modesto edifício compunha-se de um amplo salão de entrada, uma pequena cozinha, dois banheiros, e se dividia em três câmaras desprovidas de janelas. Duas delas estavam vazias. Misturavam-se no ar aromas de café e chá de capim-limão. Jota caminhou até onde era velado o corpo da mãe. 

Merci e os outros dois seguranças mantiveram-se em seu entorno, o que despertava curiosidades e burburinhos entre os presentes. Poucas eram as pessoas no local. A falecida era bem avançada em anos, beirava o centenário; havia décadas que residia num asilo, onde o filho a visitara duas ou três vezes.

Perpedina, irmã caçula da defunta, observou o sobrinho caminhar com dificuldade, as pernas abertas como um montador de animais, o abdômen imenso, a cara amarrada que há vários anos acostumara-se a só ver pelo noticiário da TV e redes sociais. Acompanhou-o com o olhar desde que ele cruzou o portal de entrada até se posicionar ao lado do esquife, próximo da cabeça da genitora. Jota não chorou. A tia reparou quando ele, decerto em gesto de reverência, como se tirasse um chapéu da cabeça, retirou os óculos de sol e os segurou às costas. Notou quando ele fixou seus olhos no cadáver da mãe, sem que o tocasse. Nenhuma lágrima deixou escapar, nenhum fio de sangue avermelhou sua esclera. O cheiro das velas a queimar havia sobreposto os de café e capim-limão da entrada. 

Assim permaneceu Jota por cerca de meia hora, até que um homem alto, de meia idade, esguio e vesgo, metido num surrado terno preto de microfibra, a camisa branca amarelecida sobre a qual jazia uma gravata vermelha descorada pelo uso, pediu licença para colocar a tampa sobre o caixão. 

A irmã solicitou que antes pudesse fazer uma oração e assim lhe foi permitido. Ainda incomodada com a ausência de reação do sobrinho, Perpedina puxou três ave-marias e um pai-nosso. Notou que Jota não acompanhou a reza e não moveu um único músculo da face. 

— E levai as almas todas para o céu. Em nome do Pai, do Filho… — rezou Perpedina, acompanhada por quase ninguém. 

Terminada a encomendação do corpo feita de improviso, que mal durou dez minutos, o homem vesgo da funerária reaproximou-se e girou com firmeza um a um os parafusos dourados da urna mortuária. Certificou-se de que o serviço fora executado com perfeição, de modo a garantir a segurança necessária, recolheu as coroas de flores, uma delas ofertada pela própria agência funerária, a outra providenciada pela diligente Marta. Caminhou em direção à saída do prédio, diante do qual estava parado o veículo fúnebre. Abriu-lhe a porta traseira e deu sinal aos presentes de que já poderiam carregar o ataúde até ali. 

Embora fossem necessários seis carregadores, apenas cinco homens se apresentaram. Três eram Merci e seus colegas da segurança; os demais, um sobrinho mais velho do que Jota, com ar cansado, a quem o primo cumprimentara a distância, apenas por troca de olhares, e Pérez, um estrangeiro bastante idoso que residia no mesmo asilo da falecida. Viera a pé, sozinho, pois o asilo ficava a menos de dez quadras dali. Costumava dizer que o albergue onde vivia era um passo anterior ao cemitério. Não poderia faltar ao adeus derradeiro à amiga. 

Todos a postos, faltava um sexto braço forte e os olhares se voltaram para Jota, que se manteve impassível. Não havia outro homem no interior da câmara-ardente. Só quando tia Perpedina, expondo as dificuldades da idade avançada, se apresentou para carregar o caixão foi que ele, num ato semelhante ao de generosidade, sussurrou-lhe:

— Pode deixar, tia. Eu levo.

Caminharam uns poucos metros até o veículo, dentro do qual depositaram o caixão. O agente funerário fechou a porta traseira e conduziu lentamente o automóvel, acompanhado pelos presentes, que o seguiam a pé. 

O portão de entrada do cemitério ficava a uns cem metros do espaço destinado ao velório. Ao longo do trajeto, Jota perguntou ao segurança:

— Paraíba, que dia é hoje?

— Sexta-feira — respondeu Merci. 

— ‘Tô perguntando número, Paraíba. Que é sexta-feira eu sei. Sextou! — disse, contendo um riso inoportuno.

Merci respondeu que era 22.

— Olhe a placa do carro. Termina com 22. É um sinal.

O segurança não entendeu, tampouco perguntou a que sinal o chefe se referia. 

O veículo adentrou o cemitério, seguindo o tempo todo em velocidade que pudesse ser acompanhado pelos poucos que o seguiam, e parou a dez metros da sepultura.

O caixão foi baixado pelos funcionários do cemitério. Retiradas as cordas, eles cobriram a cova com placas de concreto, que vedaram com argamassa já preparada. Ninguém lançou flores sobre o ataúde. Em seguida, passaram a assentar alguns tijolos até vedar completamente o sepulcro. 

O agente funerário depositou as duas coroas sobre o jazigo. Seu olho direito insistia em olhar para o chão. Cumprimentou os que ali permaneciam e partiu. 

Só Perpedina chorava, com discrição. Jota ficou até que o último tijolo fosse assentado, sem dizer palavra. A tia o convidou para tomar um café em casa, mas ele recusou. Alegou falta de tempo, compromissos inadiáveis, sem contar que o café lhe provocava azia, do que resultava terrivel dor no estômago. Não se lembrou de perguntar à tia como tem passado. Ela o abraçou e se despediram.

Jota e os seguranças iniciaram o caminho de regresso. Os rapazes se distraíam lendo os epitáfios, maravilhados com a antiguidade de muitos dos jazigos. Algumas lápides registravam a chegada de imigrantes alemães e italianos à cidade no final do século XIX. Outras exibiam homenagens de filhos aos pais, de esposas aos maridos. Estátuas de anjo sobrepunham-se a sepulturas de caprichada construção em que se liam as datas de nascimento e morte de crianças, a maioria em tenra idade, ao lado dos nomes. Pérez vinha atrás, solitário em seu difícil caminhar.

— Você viu o número da sepultura, Paraíba? — indagou Jota, referindo-se ao sepulcro da mãe.

— Não, senhor.

— 22. Mais um sinal. 

Merci, de novo, nada disse. Não conhecera a mãe de Jota, mas trazia os olhos vermelhos e uma lágrima triste escorria-lhe pelas faces suadas, coradas pelo sol que se exibia pleno. Pensava na velha, na gelidez de seu rosto inerte, extinto; olhava para Pérez, cada vez mais distante, desaparecendo no declive, e refletia sobre o custo de uma amizade.

O automóvel os esperava à porta do cemitério. Jota sentou-se no banco ao lado do motorista e ordenou:

— Toca para uma casa lotérica.

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Postado por Luís Antônio Albiero às 02:50 Nenhum comentário:
Marcadores: #conto, morte, sorte, vida

30/03/2025

Sim, foi um grande dia (#20)

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Postado por Luís Antônio Albiero às 10:52 Nenhum comentário:

25/03/2025

Solidariedade cosmética

O salão de beleza fervilhava. Os cabeleireiros, uma moça de trinta e poucos anos e três rapazes mais jovens, esmeravam-se nos cortes e penteados. Cada qual atendia uma cliente, cujos maridos ou namorados esperavam sentados no espaço de entrada do estabelecimento, servindo-se das revistas e dos cafés postos à disposição. Uma seleção de músicas suaves envolvia o ambiente, embora abafada pelo falatório do lugar. Ainda havia três outras senhoras aguardando a vez, acompanhadas dos respectivos parceiros. Era um vozerio ensurdecedor num espaço pequeno, incompatível com o tanto de gente. 

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Na parede, logo acima de um dos grandes espelhos, havia uma frase, decerto com finalidade motivacional: “Uma mulher que corta o cabelo está prestes a mudar sua vida”. Vinha com assinatura da autora, Coco Chanel. 

Reprodução agência Brasil

A decana das clientes era a mais vaidosa. “Começaram a aparecer uns cabelos brancos aqui no meio”, dizia, preocupada. Pablo, o profissional de cabeleira azulada que a atendia, tentou ser agradável:

— Cabelos brancos são raios de sabedoria.

A velhota emendou:

— Cãs não fazem o ancião. Às vezes só revelam pessoas que envelheceram em vão.

— Que chique! Está inspirada hoje, hein! — observou Pablo, mantendo tesoura e pente suspensos sobre a cabeça da senhora.

Acima do espelho defronte o qual se encontravam, havia a frase “Seu cabelo é o vestido de festa que você nunca tira. Jo Robertson”.

— Os canalhas também envelhecem. Rui Barbosa — gritou do local de espera o marido, ele mesmo já avançado em anos, com a sapiência empírica de quem fala do que bem conhece.

— É uma frase budista, querido! — explicou a esposa em relação à que ela mesma havia citado.

— Aaaah, Budaaá! A-mô! — extasiou-se Hanri, o cabeleireiro de bochechas róseas e tatuagens que lhe cobriam braços e pescoço.

— Pinto os cabelos de preto para os encontros amorosos e de branco para as reuniões de negócios. Aristóteles — retrucou o idoso, em tom de galhofa, expressando ares de safadeza.

— Aristóteles? — estranhou o mais jovem dos cabeleireiros, um rapazola geralmente calado. Era o único cujo espelho não ostentava frase alguma. Em sua mesa de apoio, havia um modesto porta-retrato com a imagem de Sócrates, o filósofo, no qual ninguém jamais houvera prestado atenção.

— Aristóteles Onassis. Um milionário grego. Foi marido de Jackie, viúva de John Kennedy, presidente dos Estados Unidos assassinado em 63. Século XX. Esta juventude não sabe de nada, não conhece a História — resmungou o colecionador de frases de ocasião.

A cabeleireira estava cansada. Havia tido um dia intenso, pente para cá, escova para lá, agora a tesoura, e tinta acaju aqui, para esta a cor castanho claro, nesta, chocolate, na outra, louro, e o vozerio incessante, e a filosofia de salão; tudo a entediava. Perdera a conta de quantas cabeças haviam passado por suas mãos ao longo do dia.

Seu corpo exaurido estava no salão, mas suas preocupações continuavam em casa, onde deixara com parentes os dois filhos pequenos adoentados. Terminou às pressas a última tarefa. Mal se despediu dos colegas e da clientela. Ao atravessar a porta, ouviu um “tchau Debby, vá com Deus”. Não reconheceu de quem era a voz e nem se deu ao trabalho de responder. Pablo fez um comentário, como se sussurrasse aos ouvidos da cliente, alto o suficiente para que todos ouvissem:

— Pense numa pessoa distraída!

Embora aflita por causa das crianças, a fé era maior e Débora optou por dar uma passadinha primeiro na igreja, onde faria uma breve oração antes de seguir para casa. Sentia-se em débito com a divindade por conta de seguidas ausências às celebrações, razão provável de os meninos estarem um com bronquite, outro com sarampo. “Deus castiga”, lembrou-se do que lhe dizia a avó, na infância, sempre que se recusava a acompanhá-la nos cultos.

Ao chegar à porta do templo, porém, deparou-se com um intenso movimento de fiéis. Um homem com expressão nenhuma de simpatia organizava a entrada dos devotos e ela seguiu a indicação quando o sujeito lhe disse, irritado, “por aqui, por aqui”.

Débora acabou sendo levada para a parte dos fundos. Acomodou-se numa das poltronas, perdida. A não ser pelas fervorosas orações dos demais, nada ali lembrava a igreja, parecia algo como um ônibus.

— Todos trouxeram suas Bíblias? — perguntou uma moça de camisa branca, mangas compridas e lacinho vermelho escorrendo do pescoço, como uma gravata reduzida. Débora explicou que só queria fazer uma oração antes de voltar para casa, que estava cansada e que não tinha o hábito de levar a Bíblia ao trabalho; sua voz, porém, saiu abafada pelo alarido do entorno. Ainda assim, a moça deve tê-la ouvido, porque lhe atirou ao colo um exemplar barato das sagradas escrituras, uma bandeira nacional, outra de Israel, e virou-lhe as costas.

Os demais seguiam entoando hinos de louvor, num volume estrepitoso, e a moça da Bíblia passou a dizer coisas incompreensíveis, como se falasse numa língua estrangeira. A cabeleireira tentou novamente explicar suas intenções, mas o ônibus havia avançado, já estava numa rodovia movimentada.

Ligou para casa. A bateria do celular, entretanto, não resistiu sequer até que a ligação fosse ao menos atendida. Débora tentou pedir aos demais um aparelho emprestado. Todos estavam tão envolvidos nos cânticos sagrados, alguns em transe, que ninguém lhe deu ouvidos. Levantou-se para sair, mas dois ou três rodopiavam no corredor do coletivo. Resolveu esperar até que cessasse a cantoria. Encostou-se na poltrona para relaxar. O cansaço e o sono a derrotaram.

Horas e horas depois chegaram à capital da República. "Nossa, desmaiei”, disse a si mesma quando acordou, assim que o ônibus parou num local amplo, ao lado de gramados extensos. Por todos os lados havia pessoas vestidas de camisas verde-amarelas, bandeiras nas costas, nos ombros, nas cabeças.

A pessoa que ocupava a poltrona ao lado da janela forçou a saída de Débora, ainda sonolenta, que mais de uma vez perguntou onde estavam. Ninguém lhe respondeu. Saiu do veículo pela força dos empurrões. Ao pôr o pé direito no chão, foi colhida pela procissão que seguia compacta, caminhando em manada e gritando palavras de ordem que ela mal compreendia. Não teve forças para resistir, para tomar outro rumo. Passou-lhe pela cabeça voltar para dentro do ônibus, mas o vento sacudiu-lhe os longos cabelos dourados como se lhe indicasse que o caminho a seguir era mesmo em frente.

Perguntou o que estava ocorrendo a uma senhora toda envolta na bandeira nacional e ela lhe respondeu que “minha bandeira jamais será vermelha”. Dirigiu-se a um rapaz magricela, que ao seu lado simulava marchar à maneira dos militares, carregando uma bandeira em mastro sobre um dos ombros, que lhe disse “abaixo o comunismo“.

À sua direita, outra senhorinha com Bíblia na mão gritava “morte aos corruptos”. O homem ao seu lado bradava “prendam o cabeça de ovo!” Um grupo ostentava uma faixa em que estava escrito “intervenção militar já”. Bandeiras de Israel e dos Estados Unidos espalhavam-se em meio à turba, competindo com a nacional.

Estranhou uma garota solitária de cabelos desgrenhados, vindo na contramão, que segurava um cartaz, “Meu cabelo tem liberdade de expressão. Mafalda”.

“Que loucura isso tudo!”, pensou Débora.

A despeito da fúria visível nas expressões das pessoas, aquela gente toda parecia pacífica, talvez porque contasse com a organização dos próprios policiais que acompanhavam o cortejo e lhe abriam o caminho. Muitos deles tiravam fotos posando sorridentes ao lado dos marchantes. Era um domingo agradável, de sol exposto, sem nuvens no céu, e o povo parecia fazer um passeio coletivo ao parque formado pelas extensas pradarias do entorno e alguns edifícios cujas fachadas a cabeleireira conhecia da televisão.

As horas de sono profundo no ônibus não lhe permitiram os cuidados básicos que toda mulher tem com a própria aparência. Sentia-se suja, suada, mal podia suportar o mau-cheiro que de si exalava. O ofício de cabeleireira, entretanto, ensinara-lhe a não perder a elegância em situação alguma, por adversa que fosse. Lembrou-se da frase que encimava seu grande espelho, no salão, “Se seu cabelo está bem penteado e você usa bons sapatos, consegue se safar de qualquer coisa”. Abriu sua bolsa e do interior retirou um espelho minúsculo, uma escova e um batom.

Caminhou uns cem metros escovando seus cabelos compridos. Tentando concentrar-se na própria imagem refletida pelo espelhinho enquanto andava, acabou empurrada para a frente de uma estátua gigantesca. Foi tão forte o empurrão que projetou o espelho para o alto. Débora perdeu-o de vista e supôs que tivesse sido lançado sobre o colo da escultura, imagem de uma mulher sentada que segurava uma espécie de bastão acomodado sobre a longa saia.

Apoiada nos ombros da multidão ao seu redor, ela subiu e se pôs de cócoras sobre o ventre da estátua. De fato, lá estava o espelho, todo espatifado. A cabeleireira teve uma sensação de derrota e ficou prostrada por uns instantes na barriga da estranha mulher de pedra, pensando, querendo entender tudo o que lhe acontecera nas últimas horas.

Não fazia ideia de onde estava, não reconhecia uma só pessoa no amontoado humano que agora contemplava do alto. Não conseguira fazer contato com os filhos, as pessoas não lhe davam atenção. Sentiu-se perdida, desolada, abandonada em meio à multidão. “Que estupidez, que bobeira eu dei, que ‘mané’ eu fui. Como vim parar aqui?”, torturava-se.

Desistiu de passar o batom em seus lábios. Fixou o olhar sobre a pequena peça cosmética, buscando resposta na ponta chanfrada de cor vermelha, como se olhasse para uma bola de cristal, esforçando-se para compreender como foi que viera do salão de beleza onde trabalhava direto para o colo da estátua esquisita.

Desacorçoada, firmou os dedos sobre o batom, apertando-o, como se quisesse esmagá-lo, como se o culpasse pelo infortúnio. Sem muito raciocinar, deslizou-o pela barriga da estátua, sob os seios pontudos. Tomada por indignação, pelo ódio que sentia de si mesma por ter-se deixado conduzir até ali, rabiscou com força na pedra a frase que sintetizava sua dor: “perdeu mané”.

Disfarçando as lágrimas — odiava chorar em público —, desceu da escultura com ajuda de alguns da multidão. Até foi capaz de sorrir quando percebeu uma infinidade de aparelhos celulares apontados em sua direção. Alguém gritou-lhe: “sua Bíblia, moça!”

Ela apanhou o livro sagrado, que nem era seu, o exemplar antigo de surrada capa preta que a jovem do ônibus lhe houvera dado. É esse livro, entretanto, que hoje a conforta nas horas de solidão na prisão, onde cumpre pena de quatorze anos por ter pichado uma estátua. Não faltaram provas de seu crime, fartamente documentado em fotos e vídeos espalhados pela internet, jornais e telejornais de todo o país e mundo afora.

Dói-lhe a saudade dos filhos, ela chora pela ausência de amigos e demais familiares. Por sorte, Débora tem contado com a inesperada ajuda de pessoas famosas e anônimas, uma espécie de gente que, como numa epifania, viu-se assomada por súbito espírito de solidariedade e que agora, negando a própria história, passou a denunciar tortura nas prisões e a clamar por justiça e direitos humanos.

Distrai-se penteando, escovando, tingindo os cabelos das parceiras de cárcere, mas enfurece-se se alguma lhe pede para fazer-lhe a maquiagem. Débora nunca mais usou batom.

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NOTA: eventuais alterações podem ser feitas a qualquer momento pelo autor na publicação original, aqui.

Postado por Luís Antônio Albiero às 18:01 Nenhum comentário:

16/03/2025

Contribuição a uma proposta de reflexão

 


Minha contribuição à reflexão proposta por Stella Souzz, no texto Seus Deuses, Seus Políticos e Sua Idolatria, no Substack:


Antes de tudo, quero que você esqueça partidos.

Desculpe-me, mas não é possível debater política ignorando partidos. É por meio da organização de pessoas com pensamentos políticos semelhantes ou próximos em associações chamadas partidos que se exerce a política. Nenhum debate sobre política tem chance de ser conduzido à luz pelo caminho enganoso do preconceito. Lembra o lema das fatídicas jornadas de junho: “sem bandeira, sem partido!” (tratei do assunto nesta crônica de agosto de 2013). O sem-partidarismo nos trouxe ao bolsonarismo.


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Postado por Luís Antônio Albiero às 11:11 Nenhum comentário:

06/11/2024

Cainã, o Telecobrador

 


Faltavam segundos para as sete da noite quando Cainã viu surgir na tela do computador mais uma ligação a ser feita. Seria a última do dia, pois seu turno chegava ao fim. Estava ansioso por ir embora e odiou a inserção desse novo número de telefone que lhe fez a pessoa sem rosto que lhe supervisiona o trabalho, passa-lhe ordens e lhe dá as broncas por metas não atingidas. 

Enquanto tocava e ele, dedos cruzados, torcia para que o destinatário não o atendesse, pôs-se a reparar nos colegas. Todos expunham na fisionomia, nos gestos, na pressa, o cansaço de mais um dia de dissabores insólitos.

Odiou mais quando do outro lado alguém o atendeu.

(Para continuar lendo, clique aqui)


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Postado por Luís Antônio Albiero às 13:43 5 comentários:
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15/09/2024

Banho de Literatura

Descobrimos que os ingressos para a Bienal do Livro de São Paulo, no Anhembi, estavam esgotados somente quando chegamos na bilheteria do evento.

Estacionei o carro no Sambódromo, ao preço de R$70,00, e dali caminhamos uns 2km até a bilheteria.
No caminho, cruzei com o deputado federal do PSol Ivan Valente e o cumprimentei. Lembrei a ele que recentemente participamos juntos de uma videoconferência, a que eu inadvertidamente me me referi como "live" -- eu, ele, o também deputado federal Chico Alencar, do PSol do Rio de Janeiro, a advogada Talitha Camargo da Fonseca e mais uma pessoa (misssshtério!), mas me pareceu que ele não se lembrou de mim. E eu, claro, me esqueci de tirar uma foto! Mais um exemplo da minha deficiência no campo da tietagem, sobre a qual falei na postagem anterior.
Só depois de tudo isso foi que descobri que os ingressos estavam esgotados.
Felizmente eu não descobri antes. Porque, por óbvio, eu teria desistido de ir.
Na portaria, logo também descobri que eu não precisava pagar, porque sou... (argh!) idoso! Pessoas com idade acima dos sessenta não pagam (eu ainda não me acostumei com essa tal "melhor idade").
Mas minha esposa, por ser praticamente uma criança, porque "di menor" de sessenta anos, ainda teria de pagar e dependíamos de aparecer um ingresso.
Então fomos informados que muita gente pagou sem precisar (mais essa descoberta: eu não era o único desinformado a respeito) e que daria para negociar o ingresso de Luciana com eventuais desistentes.
Bem rapidamente, por sorte, chegou uma família que tinha meia entrada disponível, por conta de alguém que havia desistido de ir, e que outro da família que pagaria meia havia pagado por uma entrada inteira. Ou algo assim. Sei que fiz um PIX de 35,00 pro marido, entrei de graça, pela minha dolorosa "idosidade", e Luciana entrou no vácuo da meia já paga e da meia pela qual reembolsei o simpático sujeito, ou sei lá que cálculo foi usado. Sei que entramos.
Logo de cara, outra feliz coincidência. Num estande, vi uma menina de feições conhecidas conversando com um rapaz, um visitante, como nós. Achei que ela fosse, e era mesmo, a "booktuber" Isabella Lubrano e me aproximei. Também já falei a respeito desse encontro na postagem anterior.


Recentemente, compartilhei uma postagem do ex-ministro Renato Janine Ribeiro em que ele comentava que na abertura da Bienal, uma semana atrás, havia muito mais gente do que no fracassado 7 de Setembro de BolsoNero e do pastor e empresário da má-fé Silas MalaCheia, o que, dizia eu, era um bom sinal. E, de fato, pude comprovar, com estes olhos que um dia o formol há de preservar (pelamordidela, não inventem de me cremar! Quero ter a oportunidade de experienciar o "caro data vermibus" e ser eternamente lembrado pelo "verme que primeiro roer as frias carnes de meu cadáver", para assim homenagear Brás Cubas, o das "Memórias Póstumas" escritas por Machado de Assis), que o evento atraiu grande público, parecendo desmentir a crença de que brasileiro não lê, que não gosta de livros. Ora, como tudo no tal mercado, há nichos para todos os gostos e necessidades e o da literatura não é nada desprezível.
Caminhamos por mais de duas horas e nem o chão acarpetado do local, que muito aliviou o peso do meu corpo sobre meu fraquejado espírito, impediu que conseguíssemos ver apenas pouco mais da metade dos estandes. Foi o suficiente para nos cansarmos. Tomamos dois cafés e comemos dois pães de queijo no Fran's Café a R$80,00 (é, todos os avisos diziam que os preços dos alimentos eram elevados na Bienal...) e decidimos partir.
Antes, porém, vimos um interessante estande sobre Machado de Assis, com originais manuscritos e datilografados de seus textos e seu tabuleiro de xadrez, que se veem nas fotos adiante.


Num outro estande apinhado de gente, a maioria jovens, consegui comprar pelo menos "O Avesso da Pele", de Jefferson Tenório, e "Um Sopro de Vida", de Clarice Lispector. Só não comprei mais por conta, mesmo, do cansaço.
E não foi nada fácil a longa caminhada de retorno até o Sambódromo, onde, na parte mais distante, eu havia deixado o automóvel.
Na véspera, havíamos ido a um encontro presencial do meu pessoal do curso de escrita criativa "Preparando o Romance", comandado pelo professor e escritor Tiago Novaes, realizado no Teatro Casa das Utopias, na Lapa. Na parte da manhã, chegamos muito atrasados e nos deram cadeiras para nos sentarmos no corredor, e me pareceu tudo bem, bastante confortável. Após o almoço, porém, embora acomodados em poltronas como todos os demais, minhas costas passaram a doer muito. Eu não achava uma posição confortável e Luciana chegou a me advertir que eu estava com o "semblante muito pesado". De tanta dor que sentia.
Acabamos não indo ao esperado "happy hour", onde certamente poderíamos bater um papo mais descontraído com os colegas de minha turma. Fomos ao hotel e eu não resisti. Deitei-me na cama e só me levantei na manhã de hoje, para irmos à Bienal e passarmos por toda essa saga.
Foram dois dias difíceis, por conta dos efeitos da minha "idosidade", mas o banho de literatura que tomamos foi altamente reconfortante e suficiente para a plena recomposição dos ânimos.
Agradeço de coração à minha amada esposa Luciana, que se dispôs a me acompanhar nesse périplo, sem a qual eu não teria vivenciado esses dois dias da mais pura alegria e felicidade.
A fé na literatura é que me proporciona grande esperança nessa luta incessante contra o monstro do fascismo que nos assombra de quando em quando ao longo da História.


(A última foto é da frase que recebi no "biscoito da sorte" que veio com o frango xadrez que pedimos ao "China em Caixa" -- vocês sabem, já ouviram falar, certamente já consumiram algo dessa famosa rede de comida rápida chinesa, não preciso fazer a propaganda --, no hotel, na noite de sábado).

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Postado por Luís Antônio Albiero às 23:03 Nenhum comentário:

Adorável Coincidência

Vejam quem eu e Luciana encontramos na Bienal do Livro, hoje, logo que chegamos no centro de convenções do Anhembi!

A simpaticíssima Isabella Lubrano, a "booktuber" que é filha de minha querida amiga Rosinha Lubrano, colega dos tempos de departamento jurídico (Jurid) do Banespa. Éramos do Contencioso -- eu, Rosa e os saudosos Nelson Nakamura e Luiz Carlos Pereira, chefiados pelo Dr. Barbelli.
Isabella apresenta o canal "Ler Antes de Morrer", em que ela resenha e comenta livros de todos os gêneros, contemporâneos e clássicos.
Em dez anos, o canal já acumulou mais de 700 mil inscritos e não para de crescer. E Isabella é tão competente no que faz que em 2018 foi finalista do prêmio Jabuti no eixo "fomento à leitura" e há cerca de um mês chamou a atenção de Felipe Neto, que a convidou para uma parceria no projeto Clube do Livro, criado por ele recentemente.
Eu sou tão ruim de tietagem que quase não tiro a foto. Ela, mais ágil, tirou logo uma foto de nós e a enviou para a mãe pelo WhatsApp, que imediatamente me mandou um beijo!
E eu quase ia pedindo à Isabella, à moda antiga, que me enviasse a foto, até que me lembrei que eu mesmo poderia tirá-la do meu próprio celular!
(Outro exemplo da minha dificuldade com a tietagem. Ontem, em evento fora da Bienal, no Teatro Casa das Utopias, na Lapa, estive com os escritores Tiago Novaes, meu professor no curso de escrita criativa "Preparando o Romance" e autor do premiado "Baleias no Deserto", da editora "Rua do Sabão" -- a mesma que lançará o meu livro de contos "O Onomaturgo e Outras Histórias" --, e Virgínia Ferreira, que escreveu "Chumbo", da editora "Quelônio", e, claro, me esqueci de levar os livros para serem autografados por eles. E nem me lembrei de tirar uma mísera fotografia!).
No link adiante, a exibição mais recente do canal de Isabella, em que ela resenha os contos de Isaac Asimov que compõem o livro "Eu, Robô".
https://youtu.be/5vTbcOVhgK8?si=hqt5pscqO_vkZoyL

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Capivari, Jacareí e São José dos Campos (SP), SP, Brazil
Advogado público, ex-vereador em Capivari (SP) por dois mandatos (1989 a 1992 e 2001 a 2004), ambos pelo Partido dos Trabalhadores. Assessor jurídico da Liderança do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo de 2006 a 2013. Assessor especial legislativo da Câmara Municipal de Americana de 2015 a 2016 e procurador de 2017 a 11 de agosto de 2018. Procurador municipal desde 13 de agosto de 2018.
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