23/06/2023

Plot Twist

Era uma vez um juiz de certa capital agrícola de um modesto estado de seu país que tinha por esporte predileto maltratar advogados com os quais interagia nas lides judiciais.

Muito vaidoso, deu-se conta o pretor, certo dia, de sua insignificância. Inconformado, resolveu projetar seu nome empreendendo perseguição logo ao líder político mais amado da nação. Tal empreitada tornou-o, de fato, conhecido por todo o país e pelo mundo afora.

O juiz humilhou o líder mais amado, a quem condenou e mandou prender sem crime nem prova alguma, e, com o advogado deste, praticou o esporte de sua preferência.

Por tal proeza, passou o magistrado a ser tratado como herói nacional. Além da fama, amealhou muito capital promovendo palestras para ricos empresários em que expunha o seu cativo como se este fosse um ser humano exótico, a exemplo dos selvagens que, em séculos recentes, eram apanhados de tribos da América do Sul e da África e exibidos como monstros em espetáculos públicos na Europa.

Com seu modo peculiar de exercer a magistratura, sem qualquer limite ético ou legal, abriu e pavimentou o caminho para a eleição, ao cargo de presidente da República, de um opositor de seu enclausurado, um sujeito desprovido de qualquer brilho, espécie de palhaço sem graça conhecido por suas diatribes e verborragia extremista.

Eleito o adversário de seu prisioneiro, o juiz ofereceu ao vitorioso a própria alma, com a condição de que em retribuição lhe fosse concedido ascender à excelsa judicatura.

O presidente recém-empossado levou-o então para o seu governo. Deu-lhe status de ministro e muito poder, com promessa de conduzi-lo ao tribunal mais elevado do país. Não tardou, porém, para tratá-lo como cão sarnento e dar-lhe um insultante chute no traseiro.

Ainda assim, o ex-juiz, como cachorrinho desprezado pelo dono, para ele voltou correndo, rabinho entre as pernas e a cara pidonha dos animaizinhos carentes de afeto e ração. Com auxílio envergonhado do antigo dono e ainda valendo-se da fama que obtivera com a prisão do líder mais amado da nação, o venal ex-magistrado acabou eleito senador por seu estado de origem.

Já o mais amado, por conta das injustiças que contra si empreendera o ex-juiz, eis que fora enfim libertado da masmorra em que estivera confinado. No primeiro pleito seguinte, derrotou seu opositor e foi novamente eleito presidente da República. Logo indicou, para ocupar vaga na corte suprema, o seu próprio advogado, o mesmo que com galhardia e competência houvera enfrentado as arbitrariedades do antigo herói de renome internacional e pés de barro.

Para valer a nomeação, todavia, o advogado teve de se submeter a uma sabatina no senado, como determinava a Constituição.

Quis o destino que o primeiro a lhe dirigir perguntas fosse exatamente o cachorrinho, agora elevado à condição de senador da República, graças ao apoio do Calígula dos trópicos defenestrado da presidência, embora ele próprio prestes a perder o cargo em razão das ilicitudes que cometeu no trânsito entre a magistratura e a política.

Na câmara alta do Parlamento, o Incitatus tupiniquim, em sua versão canina, emitiu uns grunhidos, uns latidos tímidos, mais próximos do grasnado abafado de marreco, aos quais o fleumático advogado respondeu com argúcia e respeitosas sutilezas, esbanjando sabedoria. Para desalento do parlamentar que abdicara da toga em busca do sonho supremo, o causídico teve seu nome aprovado por ampla maioria dos senadores.

Plot twist: o cachorrinho, que tudo fizera para alcançar seu desejo de chegar ao tribunal mais importante da federação, eis que acabou atuando como coadjuvante na cena final em que ao cargo por ele almejado ascendeu justamente seu desafeto, a quem, em passado recente, houvera tratado como rábula ordinário, com imenso desprezo, desrespeito e humilhação.

Que baita enredo, que final inesperado! Que história sensacional!

(Luís Antônio Albiero, de Capivari, SP, em Jacareí, SP, aos 23 de junho de 2023)


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22/05/2023

Os Últimos Bolsonaristas-Raiz

Eles hoje são poucos, e menos aguerridos do que foram até há pouco tempo, mas alguns ainda resistem. É o caso do cidadão Donizeti Santos, um dos mais empedernidos defensores do genocida que hoje nos desgoverna com quem tenho o desprazer de me defrontar diariamente pelo Facebook.

Eu não o conheço pessoalmente, nunca havia ouvido falar dele até conhecê-lo num grupo de minha cidade. Não sei se é conterrâneo, se mora mesmo na cidade, sequer sei se existe de verdade ou se é "fake", mas ele está lá, todo dia postando algumas coisas a favor do seu "Micto" e muitas, mas muitas mesmo, contra Lula, contra o PT, contra Dilma e contra todos nós, petistas.

Quem chega de fora e entra no grupo "Eleições Municipais Capivari" imagina, pela frequência com que ele posta coisas contra o PT, que o partido deve estar no poder ao menos na minha cidade. O PT nunca, jamais governou Capivari. Teve apenas três vereadores (eu mesmo, por dois mandatos, o saudoso Derly Andriotti - meu companheiro de bancada no início dos anos 90 -, e Getúlio Pedro Ferraz, que me substituiu por três meses na câmara e hoje já não milita mais no partido, ausência pela qual muito sinto).

Enfim, o glorioso Donizeti, a quem chamo de Donizeti Mentiras Santos, ou simplesmente "Senhor Mentiras" - porque é um mentiroso contumaz -, é um incansável detrator do PT porque reconhece a força que tem o partido em âmbito nacional, mesmo sabendo que na minha cidade é frágil.

Hoje, em mais um ataque do infeliz a Lula (usando aquela imitação grosseira do ex-presidente sobre as "denúncias" de Antônio Palocci no Jornal Nacional), em que ele, em comentário, insiste na inverdade de que seu Micto "pelo menos não tem acusação de corrupção contra si e seu governo", deixei a seguinte resposta:

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"Prezado, é o seguinte.

O genocida está em pleno exercício do poder que lhe foi conferido. Aliás, 'pleno' não é a melhor palavra, porque ele se recusa a exercer os poderes mais espinhosos, aqueles que exigem maior senso de responsabilidade e comprometimento com o povo. Enfim, formalmente é o presidente e está na presidência.

Investigar um presidente enquanto presidente é muito difícil. Observe como as investigações sobre a morte de Marielle Franco pararam desde que ele assumiu o cargo.

Ele - ao contrário de Lula e Dilma - controla com rédea curta o Procurador Geral da República, a quem 'compra' com insistentes promessas de conduzi-lo ao STF. O PGR é a única autoridade no país, por definição da Constituição, com competência para denunciar o presidente da República por crime comum.

Afora a morte de Marielle, estão paradas também as investigações da corrupção praticada por ele próprio durante os 28 anos em que vegetou como deputado federal, corrupção fofamente chamada de 'rachadinha'.

Recentemente, eclodiu o 'bolsolão', ou 'tratoraço', que é a compra dos deputados e senadores, basicamente os do 'Centrão' (que ele jurou que jamais de uniria a eles...), com emendas do orçamento, destinadas principalmente à aquisição superfaturada de tratores.

O 'bolsolão' é infinitamente maior, em valores, do que se dizia do célebre 'mensalão'.

Comprados os agentes políticos que poderiam investigá-lo, impossibilitam-se as investigações.

Além de controlar seu principal investigador, o PGR, BolsoNero controla dentro de casa a Polícia Federal e todos os mecanismos internos que poderiam iniciar investigações contra ele e seus ministros, como a CGU, hoje praticamente extinta por ele e seu ex-ministro, outro 'herói nacional' (sqn), Sérgio Moro.

Fatos simples, como o passeio da alegria do Hélio Negão, do Max Moura, do Arnesto que não pediu desculpas, do Dudu Bananinha e do Fábio WajTarde a Israel, a tal viagem 'para não ver' o spray nasal, esse honesto governo que você venera decretou sigilo por cinquenta anos!

Além do sigilo da viagem, decretou o sigilo dos gastos expressivos com as férias do Micto, dos milionários gastos com cartões corporativos dele e Michelle e de tudo o que pode comprometer ou iniciar uma investigação sobre a 'honestidade' do seu despresidente.

Esse seu governo 'sem corrupção' tem feito o que pode para esconder dados e fatos suspeitos, burlando a lei de acesso às informações e a lei da transparência, ambas vigentes desde os tempos do "corrupto" presidente Lula...

Interessante o contraponto, não é mesmo?

Há ainda o já esquecido, a despeito de pouco explorado, episódio do escândalo de Itaipu, ao qual a mídia deu pouca atenção, mas que envolveu grana muito elevada.

Isso tudo, meu caro, começará a vir à tona com toda a força a partir do dia seguinte ao que ele deixar, por encerramento natural do mandato ou pelo inevitável impeachment, a presidência da República e perder o foro privilegiado - que ele e filhos tanto condenaram enquanto era 'para os outros' -, e perder as rédeas da Polícia Federal e do Ministério Público Federal.

Note - e talvez você não saiba, ou não se lembre, ou não queira se lembrar - que durante os oito anos em que Lula foi presidente ele, sem toda essa sanha controladora de BolsoNero, não foi alvo de NENHUMA investigação. Nem Dilma, que, aliás, sofreu poucas investigações e foi absolvida em todas.

Lula, meu caro, deixou o governo em 2011 e só em 2015 - portanto, quatro anos depois - surgiram as primeiras acusações, as primeiras investigações, já no bojo da antes feroz e hoje falecida 'Operação Lava Jato', levada a efeito pela Organização Criminosa de Curitiba que tinha por objetivos golpear Dilma, impedir Lula de retornar à presidência e extinguir o PT. Ou seja, apenas serviu de instrumento político de uma elite burguesa que já não tolerava mais os avanços sociais dos governos petistas. E que foi fundamentalmente útil para a eleição de BolsoNero.

E o que se tem hoje, depois de todo vendaval contra Lula e Dilma e o PT? Lula de volta ao cenário político, firme e forte, reconhecidamente inocente, liderando as pesquisas de opinião sobre a próxima eleição presidencial.

Mas não tema. Se seu santo Micto for mesmo honesto como Lula, como Dilma, por mais graves que sejam as injustiças que venham a cometer contra ele, no final das contas ele vencerá. Lula e Dilma venceram todas as falsas acusações, todas as mentiras, todas as feiquinius, toda a sordidez que lhes impuseram no caminho.

Tenha fé. Nada é mais forte do que a Verdade e do que a verdadeira Honestidade.

Força aí. Quero vê-lo na vigília diante da Papuda dizendo, meses a fio, faça sol ou faça chuva, enfrentando o frio e o calor, dizendo pela manhã 'bom dia, presidente BolsoNero', na hora do almoço 'boa tarde, presidente BolsoNero' e antes do sagrado descanso na barraquinha 'boa noite, presidente BolsoNero'!"

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PS.: Pesquisando no perfil desse Donizeti Mentiras Santos, vi que ele é de São Miguel Arcanjo, reside em São Roque e trabalha na empresa 3 Corações, em Araçariguama, às margens da Rodovia Castelo Branco. Não tem nada a ver com Capivari. Sequer tem amigos nesta cidade. Detectei um único "amigo em comum", da cidade de Rafard.


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07/05/2023

Desmascarando a Vizinha de Infância

Adoro meus amigos de infância. E sou sincero, adoro mesmo.

Gosto ao ponto de tentar fazê-los acordarem dessa catarse coletiva chamada "bolsonarismo".

Quando a amiga me diz "não quero saber das suas explicações", sei que ela quer dizer "não quero saber da verdade".

Mas eu insisto em levar a verdade aos meus amigos.

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C***, querida. Sou fã de sua simpatia transbordante, dessa sua elegância, da sua educação!

Acho interessantes vocês.

Ouvem ou leem uma feiquinius, têm ânimo para reproduzir a feiquinius, para sair comentando, para espalhá-la, mas na hora do desmentido fazem-se de desentendidos.

Para quem teve preguiça de ver o vídeo, espero que não a tenha para ler a reprodução.

Fiz especialmente para vocês!

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DESMASCARANDO:

Pessoal, eu queria abrir este vídeo da noite mostrando que a Bandeirantes cometeu um erro grosseiro, tá. Espalhou erro grosseiro sobre o preço do hotel do Lula. Essa feiquinius foi vasta... está sendo, né, vastamente utilizada pelos bolsonaristas. Então, foi uma vergonha total. E aí eles fizeram um editorial agora à noite se retratando. Não adianta.

O estrago já foi feito:

"REPÓRTER BAND (defronte o hotel): a informação que eu tenho é que o Lula e a primeira dama vão ficar hospedados na suíte real, no sétimo andar, e a diária pode chegar a 15 mil libras, o equivalente a quase 95 mil reais

LOCUTORA BAND (estúdio): Mas isso é cortesia da Coroa britânica ou a gente paga a conta?

LOCUTOR BAND (estúdio): só pra dormir?

OUTRA LOCUTORA BAND (estúdio): é, isso é importante (risos).

REPÓRTER BAND: pois é. A gente tá em contato com o governo brasileiro desde ontem, porque a informação que eu tenho é que é uma conta paga pelo governo brasileiro"

(CORTE)

"OUTRO LOCUTOR BAND (estúdio): o grupo Band havia divulgado ontem que o preço da diária do hotel em Londres onde o presidente Lula se hospedou poderia chegar a 95 mil reais. Mais tarde, no Jornal da Band, uma fonte do governo informou que não passou de 40 mil reais a diária paga. Agora está confirmado, o preço pode chegar a, no máximo, 37 mil reais. Lamentamos a distorção da notícia publicada antes".

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DESMASCARANDO: Bem, eu queria comentar duas coisas sobre isso. Primeiro uma reportagem de 14 de fevereiro do ano passado:

"Bolsonaro fica em hotel de 100 mil reais e banheiro de mármore. Viagem de Bolsonaro à Rússia acontece em momento de enorme tensão na região" (lendo o jornal Metrópoles).

E aí eu também sugiro uma matéria:

"FHC faz sua última viagem ao exterior", dia 8 de dezembro de 2002.

Sugiro a leitura porqué e é uma matéria em que o repórter, em tom totalmente amigável, né, o repórter mostra ali o quanto o hotel é bom, mostra as coisas, comenta as coisas que tem no quarto e tal, mas num tom muito ameno, inclusive tira uma foto do FHC mostrando a banheira lá do quarto do hotel.

Então, essa marcação especial com o Lula pode ter realmente uma origem na questão social dele, enfim, que ele teve uma origem simples, não sei. Porque, realmente, que existe uma pegada especial, uma cobrança especial em relação a ele...

Todo presidente do Brasil fica em hotéis excelentes. Agora, quando chega com ele, não pode

25/03/2023

Maldita Mídia Velha

“Eu me lembro com saudade o tempo que passou", cantava o jovem Roberto Carlos na virada dos anos sessenta para setenta do século passado, hoje expoente da boa e velha guarda da MPB, versos que o eterno rei completava com o refrão "velhos tempos, belos dias".

O adjetivo "velho" tem diversas acepções. Quando dizem de mim, por conta dos cabelos em neve e à porta da idade que me outorgará a condição oficial de idoso, em geral assim tachado por gente com bem menos tempo de juventude do que eu, costumo dizer que torço para que a natureza contemple meu interlocutor com a bênção da velhice, esta mesma com a qual ele crê me achincalhar, porque a única alternativa a ela será uma experiência sobre a qual ele não estará aqui para contar como terá sido.

Noutra acepção, como na bela canção do rei hoje octogenário, "velho" traz à mente algo bom, agradável, reconfortante, nostálgico. Essa concepção acaba me deixando incomodado sempre que leio ou ouço o tratamento que se dá ao jornalismo cativo como "velha mídia". Soa fofo e pode despertar uma nostalgia que não corresponde à realidade. Quem, como eu, acompanha desde tenra idade a mídia brasileira sabe como ela se comportou nesses anos todos. Ela, de fato, envelheceu, e envelheceu muito mal.

Não a trato, por isso, por "velha mídia". Basta uma singela mudança de posições e tenho o que considero uma construção melhor: "mídia velha". Os canalhas envelhecem e isso se deu também com o jornalismo comandado por meia dúzia de famílias que dirigem a Casa Grande.

Hoje, porém, vi-me obrigado a atribuir outro qualificativo: maldita.

Lula deu uma longa entrevista à TV Brasil 247, serena, responsável, proveitosa. Falou de sua saga no combate pela redução dos juros, de seu empenho em criar empregos, da promissora viagem à China, dos vários programas sociais que vem implementando e que pretende realizar - um manancial de informações a serem exploradas pelos espectadores e pelos demais veículos de comunicação do país.

De uma entrevista de quase duas horas, a mídia velha destacou menos de dez segundos em que, em dado momento, o presidente permitiu-se rememorar o que dizia a procuradores que o visitavam na carceragem de Curitiba, lá entre 2018 e 2019. Quando lhe perguntavam se tudo estava bem, ele respondia que "estará bem quando eu ‘f***r’ o Moro". Contou isso com serenidade, rindo, depois de um momento de emoção ao relembrar a dor que o ex-juiz lhe impingira ao submetê-lo a um processo de desmoralização e destruição de sua imagem.

Processo que, a reboque, levou-lhe a esposa, morta por conta da hipertensão causada pelas mentiras que contavam Moro e a mídia velha sobre o marido e filhos. Que lhe custou não poder ir ao velório do próprio irmão e ter de ficar tempo mínimo no do neto de sete anos de idade. Que também levou à morte da indústria naval, à destruição da construção civil, de milhões de empregos, da economia nacional e do estado democrático de direito. E que ainda retirou da corrida presidencial o candidato que liderava as intenções de voto porque encarnava a esperança do povo brasileiro pela volta das tantas alegrias dos velhos tempos, dos belos dias de crescimento econômico, inclusão e ascensão social.

Moro promoveu a maior fraude eleitoral da história e, literalmente, “f***u” Lula e o Brasil.

Com muita perseverança e invejável capacidade de resiliência, contando com uma defesa judicial aguerrida e competente promovida pelo próximo ministro do STF Cristiano Zanin e equipe, Lula deu o troco. Desmascarou o juiz parcial e odiento que extrapolou todos os limites éticos e jurídicos para “f***r” o petista. Enfim, Lula, sem ultrapassar os limites do devido processo legal, praticou a justa vingança só admitida pela sociedade moderna se e quando praticada pelo Estado, que detém o monopólio punitivo, com plena observância das leis e princípios jurídicos. Assim foi que ele se vingou. E, realmente, “f***u” Moro.

Na entrevista, portanto, Lula referiu-se a um desejo e a uma promessa já cumpridas e apenas contou o que era sabido por todos, ou ao menos intuído. Quem, que não tenha sangue de barata, não diria em privado que gostaria de “f***r” um seu algoz de tal magnitude em semelhante situação? Quem, senão alguém que fosse capaz de flutuar acima dos demais seres humanos?

Lula é humano, demasiadamente humano, e por mais que pregue a paz e não guarde ódio, nem alimente espírito de vingança, tem também seus momentos de desabafo em que se dá ao luxo de exteriorizar resíduos de ressentimentos ainda não completamente cicatrizados.

A mídia velha, no entanto, teve a audácia de abrir a Moro e seu dalanholzinho amestrado tempos jamais concedidos a Lula quando estes o “f**iam” dia sim, dia também. Não bastasse, essa mesma imprensa comprometida com o capital e isenta de qualquer compromisso com a verdade e com a vontade popular ainda se deu ao desplante de atribuir a Lula a condição de “desequilibrado”, com ameaças até de “impeachment”.

Ora, ausência de equilíbrio revelou o hoje senador paranaense já ao tempo em que essa característica lhe era exigida por lei, por dever de ofício. Um desequilibrado político, então maldisfarçado sob a toga, que condenou o então ex-presidente por um crime inexistente, inocorrido, improvado. Que fez malabarismo jurídico para o condenar por corrupção passiva porque uma empreiteira “atribuiu” a Lula um certo imóvel que este recusou. “Atribuir” não corresponde a nenhum dos três verbos que tipificam o crime em questão (art. 317 do Código Penal), que são “solicitar”, “receber” ou “aceitar” (a promessa de receber) vantagem indevida (propina; no caso, o tal apartamento tríplex no Guarujá). Lula não “solicitou”, não “recebeu”, nem “aceitou” promessa alguma, mas o canalha togado afirmou, na sentença, que o condenava porque a OAS havia “atribuído” o imóvel a ele.

Insuficiente o fundamento, ainda assinalou na mesma sentença que o condenava por “atos de ofício indeterminados”. Incapaz de apontar um ato de ofício ou uma omissão em relação a dever de ofício que Lula houvesse praticado ou deixado de praticar para favorecer a OAS de modo a justificar o apartamento “atribuído” a ele – uma exigência do tipo penal –, o canalha apelou para a indeterminação dos atos.

Ainda carente de sustentação sólida e vendo que não havia como caracterizar a posse do imóvel pelo ex-presidente, muito menos a propriedade do imóvel em favor de Lula, porque escritura não houve, porque registro imobiliário não houve, porque desfrute do imóvel não houve (nem por si, nem por outrem), o mesmo canalha recorreu à criatividade e inventou uma tal “propriedade de fato”, que não é propriedade, nem posse, nem coisa alguma.

Canalha, canalha, canalha! Três vezes canalha, como disse Tancredo Neves ao presidente da Câmara que cassou o mandato de João Goulart em 1964 por estar “ausente do país” num momento crítico, quando na verdade Jango se encontrava no interior do Rio Grande do Sul. Algo parecido com o que se tentou fazer em 8 de janeiro deste ano, sem sucesso, quando a Democracia brasileira foi salva graças à tecnologia do whattsapp e à argúcia do ministro Flávio Dino, experiência – a de 1964 – que pode voltar a se repetir durante a viagem de Lula à China. Mantenha-se alerta, ministro!

Mas três vezes canalha não é a medida exata de Sérgio Moro. A despeito de ter sua vida salva por uma pronta, eficiente e competente ação da Polícia Federal do governo republicano liderado por Lula, sob a batuta do ministro Dino, o ex-juiz suspeito e sempre canalha aproveitou-se da fala do presidente da República para atacar quem salvou a si e à sua família. Um ingrato, um desalmado, um injusto e, sobretudo, ele sim, um desequilibrado, porque foi à mídia velha dizer que ao mencionar que, no passado, Lula alimentava o desejo já realizado, o presidente estaria terceirizando aos seus seguidores a tarefa de promover algo grave contra o atual senador e familiares, associando a fala aos planos da quadrilha do PCC. Algo surreal e desconcatenado que não resiste a um raciocínio minimamente lógico e inteligente, mas faz todo o sentido para os que habitam a terra plana em constante estado de desequilíbrio emocional e cognitivo.

E com maior desequilíbrio agiu o ensandecido ex “preocupador da República”, aquele que seguiu o exemplo de seu “coach” de toga e também abandonou carreira jurídica sólida para aventurar-se no terreno movediço da Política, o ungido das faces róseas a quem foi concedido espaço e tempo igualmente longos na mídia velha para associar a fala de Lula à quadrilha desbaratada e presa pela Polícia comandada, em última instância, pelo atual presidente.

Um bando de canalhas desequilibrados que arruinaram a própria biografia e hoje estão desesperados por conta de sanções que vêm sofrendo por parte do CNJ e do TCU, por conta dos excessos cometidos. Dallagnol chegou ao cúmulo de caracterizar o CNJ, o TCU e o presidente da República como extensões do “crime organizado” associado ao PCC. Isso em meio ao prende-e-solta do doleiro Alberto Youssef e às vésperas do depoimento do advogado Tacla Duran ao juiz Eduardo Appio, na próxima segunda-feira, com potencial para promover estragos irreparáveis à desmoralizada OrCrim da Lava Jato. O medo, de fato, leva a atitudes descontroladas.

E a quem a mídia velha resolveu tachar de “desequilibrado”? Exatamente ao presidente Lula, sobretudo depois que este, em nova entrevista, esta concedida “no meio da rua”, abriu os olhos da Nação para a armação do circo e do palanque que Moro resolveu montar juntando a frase dita ao Brasil 247 ao plano da quadrilha do PCC desvendado pela Polícia Federal. Logo Lula, que em cada aparição pública faz questão de frisar, com evidente sinceridade, que não guarda ódio no coração, que não age por vingança. Exatamente ele que havia acabado de dar um “pito” na companheirada radical de Pernambuco que, num evento da presidência da República, vaiou e deu as costas à governadora Raquel Lira só por ela ser do PSDB, que lá estava a convite do presidente, gestos que o reafirmam como estadista detentor de absoluto equilíbrio.

Ao longo desses anos todos em que atacou desmedidamente Lula e o PT, a mídia velha deixou cravado na História do jornalismo brasileiro o quão desequilibrada é capaz de ser e, de fato, foi e continua sendo. Mídia velha, carcomida e maldita! “Apesar de você”, como segue cantando outro ícone da velha guarda da MPB, é pelas mãos do seu “desequilibrado” Lula que estão retornando todas as alegrias dos belos dias, dos bons e velhos tempos.

(Luís Antônio Albiero, em Capivari, SP, aos 25 de março de 2023)

29/01/2023

Coisas Idiotas

Uma conhecida de minha cidade, de prenome Ana Paula, chamou-me de "imbecil", "hipócrita" e que escrevo "coisas idiotas" numa publicação de minha prima M* P*, e reservou os piores "elogios" a Lula. Enfim, coisas tão estúpidas que me recuso a reproduzir. E que mais dizem sobre ela própria do que sobre aquele a quem ela pretendeu atingir.

Deixei lá, na postagem da prima, o seguinte comentário:

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"É curioso.

Lula tem quase oitenta anos, acabou de se casar, sofreu perseguição, ficou preso injustamente por 580 dias, mas era o único brasileiro capaz de vencer o fascismo crescente no país.

Poderia estar curtindo a lua-de-mel, poderia estar curtindo a velhice com a família, com a esposa, filhos, netos e bisneta, viajando mundo afora, mas ele tinha consciência de que era o único capaz de derrotar o fascismo.

Não titubeou.

Ele, sim, entregou a vida que lhe resta para servir ao país.

E tem-se esforçado em transmitir amor, sinceramente desejoso de fazer este país voltar à normalidade civilizatória. Para que as famílias voltem a conviver em paz, respeitando as diferenças de ser e de pensar de cada um.

Apesar de todo o esforço, os rancorosos insistem em devolver a ele todo ódio que com tanto zelo cultivaram em seus corações.

Que os céus se apiedem dessas pobres almas."

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10/01/2023

O Médico que Virou Caminhoneiro

O médico da minha cidade que foi a Brasília justamente no dia da "Revolta dos Manés" - olha que coincidência! - emitiu uma nota esclarecendo a situação, que achei muito crivel. Afinal, trata-se de gente de bem, cristã e pacífica.

No afã de colaborar com ele, sugeri apenas que faça alguns retoques.

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Meu caríssimo Dr. A***, esse seu álibi precisa de uns pequenos ajustes.

Você saiu de Capivari ("partiu Brasília", há vários prints espalhados pelas redes sociais locais) na véspera da "Revolta dos Manés". Na nota, afirma que foi visitar o filho que lá reside. Na sequência da viagem, no domingo, foi ao restaurante com a mesma camisa e o mesmo boné com que saiu da terrinha... Restaurantes em Brasília devem ser chiques. Imagino o constrangimento do doutor por ter de ir com a camisa suada da viagem. Se foi de carro, o amigo rodou 920km, 11h46min de estrada. Uns pequenos retoques serão suficientes, acredito.

Só ficou sabendo dos acontecimentos pela mídia e foi à praça de guerra "só pra ver". Perfeito. Fez questão, porém, de gravar um vídeo debaixo da cúpula invertida da Câmara dos Deputados, em que xingou as mães dos policiais militares que, cumprindo seu dever, haviam espargido gás lacrimogêneo para tentar dispersar a patuleia ignara e enlouquecida, e ainda afirmou com todas as letras que "tem mesmo que matar esses caras". Devia ter ouvido seu advogado antes de gravar, mas acho que ainda dá para consertar.

Afirma na nota que "socorreu uma senhora" que havia sido atingida pelas bombas de efeito moral "até a ambulância chegar". Não duvido, nem um pouco. Só acho estranho é que nos incontáveis vídeos da quebradeira geral que os "pacíficos" manifestantes praticaram, que eles mesmos gravaram e fizeram questão de espalhar pela internet (que falta faz um advogado!), não vi uma única ambulância por ali... Não descreio da sua palavra, porém.

Imagino que o amigo esteja com alguma dificuldade, pois não teve outras camisas para levar na mala de viagem de visita ao filho. Isso me fez lembrar de tê-lo visto com os caminhoneiros organizando as manifestações que trancaram rodovias nos dias seguintes à vitória do presidente Lula. Até pensei, coitado, teve que mudar de profissão, virou caminhoneiro... É, a vida está difícil para todo mundo. Tempos melhores hão de vir, tenha fé. Aliás, já se iniciaram.

(Foto: Real Furgões)

Quanto aos outros - falo dos outros, não do doutor -, eles aprenderam na marra que atentar contra a Democracia, contra as instituições, não é mole não. Os golpistas bolsoterroristas hão de pagar por tudo o que fizeram, pelos prejuízos materiais e pelos imateriais. Espero que o amigo se livre dessa. Conselho de advogado, no entanto: melhore esse álibi, pois há considerável risco de os federais não o levarem muito a sério.

Abraços.

Por nada.

09/01/2023

Os Patriotas e Sua Batalha de Ásculo

Pensando bem, os autoproclamados "patriotas" conseguiram seu objetivo.

Sem um propósito claramente definido, eles adentraram de modo forçado às sedes dos três Poderes da República, como há tempos desejavam. Um feito inestimável.

Arrebentaram tudo o que puderam. Quebraram enormes estruturas de vidro, rasgaram estofados, esfaquearam obras de arte, arrombaram portas, roubaram armas, destruíram computadores e documentos. Com igual fervor patriótico, atiraram o Brasão da República ao chão, deixando-o ao relento, expulso de um dos palácios. Tão à vontade se sentiram que urinaram e defecaram pelos corredores. Fizeram, ora pois, uma "cagada" federal.

Saíram da gloriosa empreitada carregando diversos troféus, como a porta do gabinete do ministro Alexandre de Morais e a versão original da Constituição de 88. Gravaram vídeos e tiraram selfies em animados colóquios com soldados do exército e da polícia militar. Deixaram, enfim, a praça dos Três Poderes felizes e cantando vitória, convencidos de que haviam alcançado seu intento, fosse ele qual fosse.

Como cães que rosnam para pneus e correm atrás de automóveis, porém, não souberam o que fazer quando o carro parou. Eles subjugaram o Legislativo, o Executivo e o Judiciário do país. Vandalizaram e tocaram o terror. Chegaram ao ápice de adentrar o gabinete do presidente da República, palco das mais importantes decisões da vida nacional. E o que, afinal, fizeram com toda essa conquista? Mudaram alguma coisa na estrutura institucional do país? General Heleno é o presidente? Há uma junta militar a nos governar? BolsoNero voltou triunfante do esconderijo para o qual fugiu como gatinho assustado?

Não, nada disso.

O episódio serviu ao menos para acabar com a fantasia dos patriotários alimentada por setenta dias de acampamento diante de quartéis. Por mais violentos que eles sejam capazes de se mostrar, não passam de um bando de equivocados, abilolados, imbecilizados pelo fanatismo que dedicam a um ídolo de pés de barro. A esta altura, com mais de mil deles detidos na Academia da Polícia Federal de Brasília aguardando o momento de prestar depoimento, já devem ter a consciência de que de fato e de direito o Brasil tem um novo governo e que o presidente atende pelo nome de Luiz Inácio Lula da Silva, hoje mais forte do que no dia da eleição.

A "Tomada de Brasília" revelou-se uma reedição tupiniquim da célebre "Batalha de Ásculo". Repetindo o gesto do rei de Epiro e da Macedônia, felicito a todos os soldados "cabeças-de-papel" por essa histórica e tragicômica vitória de Pirro.

(Luís Antônio Albiero, em Jacareí, SP, aos 9 de janeiro de 2023)

(Imagem: "A Vitória de Pirro", Wikipedia)

03/12/2022

De Companheiro para Companheiro

Confesso que tenho dificuldade em me relacionar e debater com quem nem sempre é capaz de manter a habilidade necessária para expor um pensamento sem desqualificar o interlocutor. Conheço uma infinidade de pessoas queridas que certamente não percebem o grau de agressividade que vez ou outra suas palavras contêm.

Não raro eu procuro deixar no vácuo quando me deparo com exemplo dessa hostilidade que, no fundo, sei que não foi fruto de maldade, nem foi percebida por quem a cometeu.

Certamente um erro meu, mas, nesses momentos, prefiro esperar a poeira baixar e que a fogueira se apague. Não vale a pena estressar-me com amigos do coração, sobretudo companheiros e companheiras de partido ou que comigo ocupam o espaço à esquerda no espectro da Política.

Integro um partido em que nos tratamos como “companheiros”, palavra que significa “aqueles que dividem o pão“. Vem de “cum panis”, “com o pão”. Significa que entre comensais, entre aqueles que comungam da mesma mesa, hão de prevalecer o respeito e a confiança, ou ninguém comerá coisa alguma, haja vista que sempre haverá o temor de que a pessoa ao lado tenha colocado veneno no prato do vizinho de cá.

Já antes das eleições de 2018, por exemplo, quando Lula nem tinha sido preso e eu dizia que, embora preferisse Haddad candidato a presidente, era o ex-presidente quem tinha votos, amigos do coração vieram me dizer que era preferível apostar na renovação e que eu idolatrava a pessoa de Lula, seguido de um discurso oco sobre “idolatria a um político de estimação”.

Essa visão a meu respeito eu detesto, porque visa a me depreciar, como se fosse um fanático, alguém que se posiciona apenas por paixão exacerbada, quando tudo na minha vida procuro pautar pela razão. E há uma enorme distância entre idolatrar alguém e ter por ele ou ela admiração por força de razões concretas, objetivas.

Num partido político, assim como em qualquer agrupamento humano, institucional ou não, há de existir esse liame de confiança e de respeito entre seus integrantes.

Eu bem me lembro das discussões sobre o PT apoiar o PSDB na eleição da ALESP, das desconfianças suscitadas à época. E de outros casos semelhantes, como apoiar o Rodrigo Maia para presidente da Câmara Federal.

As pessoas têm compreensível dificuldade de entender as relações intraparlamentares. Os partidos precisam de espaço nos parlamentos, e isso envolve negociações que nem sempre são deglutíveis à maioria das pessoas.

O fato é que aquelas discussões pareciam ter o potencial de implodir o partido. Passou-se o tempo e, no entanto, ele se mantém íntegro e mais forte e muitos sequer se lembram dos motivos pelos quais se rebelaram contra parlamentares e seus apoiadores. Uma virulência que só serviu para prejudicar a imagem da agremiação e de suas lideranças perante os que já nos odeiam por diversas razões menores.

Agora é a vez da aprovação que a bancada do PT na Assembleia Legislativa paulista deu, por unanimidade, ao projeto que elevou os subsídios do futuro governador Tarcísio de Freitas. Ora, se toda a bancada votou de forma uníssona é de se supor que tenha havido discussões profundas que culminaram nesse consenso. Suposição calcada na confiança e no respeito.

O subsídio do governador representa o teto do funcionalismo do Estado, o que limita a possibilidade de elevação de salários de todas as áreas, desde os dos secretários estaduais até diretores de escola, por exemplo.

Sei que num país em que a imensa maioria ganha um salário mínimo, e muitos nem isso, é difícil explicar a necessidade desse aumento. De todo modo, eu prefiro que a bancada venha a público e dê suas explicações. Que até agora não vi.

Questionar a atuação de uma liderança política, de um partido ou de uma fatia deste, como sua bancada legislativa, é sempre legítimo, é próprio da Democracia. Expor desconfiança sobre a lisura do comportamento alheio, porém, é sempre temerário, de modo que a prudência recomenda aguardar as explicações formais da bancada.

É recomendável, sobretudo, respeitar quem com tal cautela prefere agir, o que desautoriza tomar-nos a todos como "cegos", "fanáticos" ou "idólatras". Sigamos tratando-nos uns aos outros como companheiros e companheiras que somos. Filiados ou não.

(Luís Antônio Albiero, em Jacareí, SP, aos 3 de novembro de 2022)

27/11/2022

O Pum é Todo Seu

Há quem creia não ser conveniente dar palpite em postagens alheias. Quando o autor não é faceamigo, sim, concordo.

Quando, porém, o autor é amigo no Facebook e posta um comentário com o selo de "público", a boa e velha razão nos certifica que o sujeito está abrindo ali um debate. Ou estou equivocado?

Pois bem. Um biconterrâneo de Rafard e Capivari, colega advogado e amigo meu de longa data - da vida real -, postou em seu Face o comentário de que "as autoridades supremas ainda não entenderam que os caminhoneiros não irão retroceder até que haja uma solução para o 'impasse' que elas criaram".

Assim aberto o debate, e por se tratar de meu amigo e de uma informação que reputo equivocada, expus minha opinião - e é exatamente para isso que serve a "liberdade de expressão" -, a título de informar que eles já estão retrocedendo e que não se trata de caminhoneiros, mas de meia dúzia de grandes empresários do ramo de transportes e do agronegócio. E que, como ele bem sabe por dever de ofício, se trata de locaute, iniciativa que a lei veda expressamente.

Para minha surpresa, eis que a "conja" do meu amigo vem e posta:

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"Nossa R. S., acho que tem alguém (além de mim) que dorme e acorda pensando em vc, pq tô vendo que vc não pode dar um 'peido' sem ser notado por essa pessoa !!! Ou a rede social dessa... não tem amigos da laia dela... para que se interajam entre elas a mesma ideologia que pregam... Eu hein ?

(Imagem: blog "Disparada", de Gilberto Marangoni)

E de dar nojo mesmo... Em qualquer amigo seu ter q suportar tanta idiotice de tal pessoa ... Pelo amor ... Faça uma faxina eu seu Facebook... No meu já comecei fazer ... Pessoas tóxicas que morram sozinhas ou acompanhadas de seus amigos cabeças ovos"

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Minha réplica:

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"B. P., sou amigo do R. e gosto de debater com ele, especialmente as provocações que ele faz. Quanto ao p****, ele é todo seu! Eeeeca, que nojo!

...

B. P., quanto aos meus amigos, gostaria imensamente de convidá-la para você se juntar a eles, mas neste momento é impossível.

Estou praticamente no limite dos 5000 que o Facebook permite e uma fila imensa de solicitações de amizade.

Quer saber mais a meu respeito, o que penso, como se comportam meus amigos, acesse:

(Postei o link para meu Facebook)

É o que costumo dizer: Informe-se primeiro para não passar vergonha em público."

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Aí ela me veio com a joia da coroa - que ele lamentavelmente deletou:

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"Luís Antônio Albiero você pode ter certeza que amigo dele você não é... Não passa de apenas conhecido... Isso posso te garantir, e outra coisa... Ele é educado com vc, e não gosta nenhum pouco de debater com vc, convivo com ele todos os dias, e você é uma pessoa que poderia ter bom senso e sair da página de amigos dele, assim vc libera mais um que tenha estômago. .. Por educação ele não tira vc... Vc deveria se colocar eu seu lugar... E devem procurar quem tem o mesmo pensamento...

Estou falando e repito

Ele é apenas educado com vc... Mas amigo??? Passa longe

E não se dirija mais a palavra a minha pessoa...

Sobre sermos amigos!!! Não tenho interesse algum, nem em sua amizade e mto menos em sua vida ... Diferente de vc, só me relaciono com pessoas que eu gosto de conversar

Não me importo com números de amigos em Facebook... E sim com qualidades.. por isso estou fazendo uma grande faxina... Ilude-se vc

Que vou querer alguém assim como amigo

... Exclui todos de meu Facebook... Pena que não posso excluir do dele tbm

Pq toda vez que vejo o Facebook dele tenho que toda vez suportar essa sua cara comentando as postagens dele ...

Vc deveria mesmo é ir comemorar com seus amigos

Não ficar aqui sendo chato e incoveniente.

Qto a outro comentário seu, aí vc mostra o tipo baixo e escroto que é.

Sem educação e sem respeito.

E me faça um favor.

Não se dirija a minha pessoa ...

E se tiver um pouco de bom senso

Nem a ele ... Você não convive com ele... E não vê o qto está sendo ridículo e sem noção sua manifestação no Facebook dele

Boa tarde e até nunca mais"

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Eu então:

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"B, convido-a também para conhecer minha página de crônicas, chamada de 'Crônicas & Agudas'.

Este link levará você para uma crônica de 2018, que recentemente turbinei e hoje, 27 de novembro de 2022, conta com mais de 2200 curtidas.

Abraços e bom domingo a todos aí.

Só recomendo que você não faça feijoada, ou batatas doces, porque, se sem isso, meu amigo R. já anda conspurcando o ar debaixo dos seus lençóis, imagine com!"

*************

A bem da verdade, já ultrapassou as 2400 curtidas e conta com mais de oitocentos comentários.

Prossegui:

*************

"Bi.P. S., queira você ou não, R. é meu colega advogado e amigo de longa data.

Eu, pelo menos, tenho essa consideração por ele. E nada peço em troca, nem sequer igual consideração.

Tenho-o praticamente como um amigo do peito.

Já amigo do pei*o, de fato, meu é que ele não é.

Fique com esse todinho para você.

De novo, bom domingo.

Só não se arrisque na feijoada!"

*************

E encerrei:

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"B. P. S., estimada.

Seguinte.

Primeiramente.

Foi você quem mencionou a palavra "p****", que o elevado grau de educação que minha mãe me deu me impede de reproduzir.

Você veio com suas indiretas "só-que-não" me chamando de "pessoa tóxica", que não tenho amigos, que meus textos são "idiotice", que meu amigo R. deveria me cancelar. Depois me chamou de "sem educação", "sem respeito", "chato", "inconveniente", "ridículo", "sem noção", "baixo", "escroto" - se não esqueci de nenhuma ofensa que você me fez; depois vou conferir nos "prints" que fiz por segurança.

Eu adoraria que você, a exemplo do que eu acabei de fazer em relação aos seus comentários, me apontasse em que pontos eu faltei com a educação ou com o respeito a você ou ao R..

Por gentileza, é só o que lhe peço. Até para meu aprimoramento como ser humano e cidadão. Obrigado."

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Claro que ela não conseguiu apontar nada.

26/11/2022

Solange, uma Leitora

Minha crônica de quatro anos atrás, que estava parada em torno de umas trinta curtidas, bombou nesta semana e alcançou mais de duas mil reações.

O mais interessante é que, diferentemente do que acontecia com todas as minhas crônicas antes da eleição presidencial, desta feita a maioria esmagadora dos comentários é elogiosa, positiva. Claro que não faltam as críticas de bolsonarentos e extremodireitistas enrustidos.

Uma deles, de nome Solange Savi, da vizinha e aprazível Itu, chamou meu texto de ridículo, disse que havia aparecido para ela "do nada" e me chamou de burro. Ela me disse que com burro não se conversa, serve-se palha e, por fim, ainda teve a petulância de dizer que eu a teria desrespeitado.

Mandei-lhe a seguinte resposta:

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Solange, filha... vou explicar a você como se estivesse explicando a um burro, embora eu saiba que burra você não é. Será apenas uma palhinha, talquei?

Seguinte. Meu texto não apareceu "do nada" para você.

Estamos num ambiente chamado Facebook. No momento em que aderimos, em que entramos nesse meio, aceitamos as regras que a empresa de Mark Zuckerberg criou. Correto?

No âmbito dessas regras e meios por ele disponibilizados há um mecanismo que Zuck chama de "turbinar a publicação".

Funciona assim. Eu paguei R$26,70 para o Facebook fazer propaganda deste meu texto por cinco dias.

Ou seja, assim como aparecem diversos anúncios com a legenda "patrocinado" em seu Facebook, apareceu meu texto

Da mesma maneira eu recebo todo o tempo anúncios de lançamentos imobiliários, de cadeiras, de serviços de informática, de editoras, enfim, de produtos e serviços os mais diversos, e eu clico naquilo que me interessa, também você recebeu o anúncio desta minha crônica.

Por alguma razão aí da sua cachola, você achou interessante, clicou e veio até aqui.

Seja bem-vinda, portanto. É um prazer recebê-la, mas, se você não gostou, não se sente à vontade num ambiente intelectualizado, dizia minha avó: a porta da rua é serventia da casa.

Com absoluto respeito eu apresentei a você meu texto. Com absoluto respeito eu respondi a seu comentário. Respeito é bom e todos gostamos. Então, por gentileza, mantenha-se respeitosa neste ambiente ou sirva-se da porta de saída.

Bom domingo a você.

*************

Link para a crônica: Coração Verde e Amarelo

20/11/2022

Do Twitter ao Koo

Elon Musk, tantas você fez que o brasileiro puxou para nosso lado o Koo indiano.

O Twitter tem como emblema um pequeno pássaro e o nome é uma mimologia, figura de linguagem - conta-me o Google, oráculo do século XXI - mais conhecida como onomatopeia. Um "tweet" representa o trinado de um canário, de um periquito como o "tuim", por exemplo, diria eu, diriam nossos homens e mulheres dos campos.

O Koo tem ou pretende ter a mesma formatação. Representa o pio da coruja, o arrulho do pombo, o grasnado do pato ou da gaivota, o crocitar do corvo, o pipilar do pavão (que mais parece um miado, digo-vos de cátedra, vizinho que sou de alguns nesta terra dos jacarés), o grassitar de aves de maior porte, como o gavião, o falcão e o milhafre.

E eu que não sabia que milhafres grassitam, e nem faço ideia do que seja um milhafre ou que som possa ter o grassitar deles!

Enfim, uma mensagem enviada pelo Koo é um pio, o pio do Koo.

Foi um passarinho que me contou.

Idos

Estava tentando responder uma a uma as felicitações que os amigos e amigas me endereçaram por conta dos meus 25 anos completados ontem (sei que esta minha carinha de 18 engana, mas é a dura realidade). Não tive fôlego, porém.

Muitíssimo obrigado a cada um de vocês que dedicaram um instante da vida para alegrar o dia deste escrevinhador, palpiteiro ordinário de feicebuque e outras redes.

Ano que vem, daqui a exatos 365 dias, estarei ingressando em caráter oficial no patamar dos idosos.

Idoso é quem acumula muitos anos "idos" - daí a palavra. "Entrado em anos", diriam Machado e os antigos. E eu, vocês sabem, tenho tentado de todo modo segurar o tempo.

Permitam-me, portanto, continuar curtindo meus 25! Como se dizia nos tempos jurássicos, de ilusão também se vive.

Sigo, pois, acumulando juventude.

(Luís Antônio Albiero, em Capivari, SP, aos 20 de novembro de 2022)

15/11/2022

Latindo para o Pneu

No WhatsApp, fiz a seguinte reflexão quando a companheira Lurdinha mencionou que o que querem os amalucados que estão lotando as frentes de quartéis e tiros de guerra é a tal intervenção militar:

*************

Sim. Mas como funcionaria essa intervenção?

BolsoNero teria o mandato prorrogado? Com base em que legislação? Por quanto tempo? Haveria eleição após esse período ou ele ficaria até morrer, como um monarca?

Ou os militares indicariam um interventor? Quem seria? Qual seria o tempo de mandato? Como seria a sucessão?

Ou os militares anulariam a eleição por "fraude"? Qual fraude?

Como eles se sobreporiam à autoridade competente, que é o TSE?

Seguiriam as regras de cassação de chapa eleita, ou seja, assumiria a presidência da República por três meses o presidente da Câmara (Artur Lira) até que se realizassem novas eleições?

E se Lula vencer de novo?!?

Enfim, essa gente está como o navio que bateu hoje à tarde na ponte Rio-Niterói. Totalmente à deriva.

São como o cachorro que late para a roda do carro. Se o carro parar, eles não saberão o que fazer (além de bater continência e cantar o hino nacional para o pneu, claro*).

Chamar a esse "movimento" de insanidade é pouco.

(*) Editei para acrescentar.

(Luís Antônio Albiero, em Capivari, SP, madrugada de 15 de novembro de 2022)

07/11/2022

Fênix e a Primavera

Não foi uma vitória qualquer. Foi o desfecho de uma sequência de vitórias que começou pela sobrevivência à fome e à seca, à miséria, à perseguição que lhe impôs a ditadura militar, a consecutivas derrotas eleitorais e perdas dolorosas no âmbito pessoal; ao assassinato de reputação que tentou impor-lhe a mídia, servil ao poder econômico.

Empreenderam-lhe uma perseguição implacável. Foi processado, condenado e preso sem crime e sem prova por um juiz ladrão, corrupto, parcial e incompetente. Com Supremo e com tudo, impediram-no de vencer em 2018, mas em 2022 não resistiram à sua força descomunal.

Sábio, ele compreendeu que era preciso unir os diferentes para enfrentar o antagônico, o fascismo em franco desenvolvimento.

Generoso, foi ao fundo do poço do ostracismo e de lá resgatou antigo adversário para ser seu vice. Inovou na arte culinária e, para garantir a comemoração, fez do chuchu a cereja do bolo.

Gênio, foi preciso no cálculo e venceu.

De pária do sistema, sagrou-se o salvador da Pátria, o redentor da Democracia.

Sem ele, não haveria vitória. Tinha que ser, qualquer outro não teria vencido, mas cada aliado, do vice aos adversários de primeiro turno, passando pela militância, por cada apoiador famoso que se empenhou, ou anônimo como este humilde escrevinhador, todos fomos fundamentais para o êxito. A vitória é nossa e é especialmente dele.

O triunfo de um e de todos deu nó nas vísceras intestinas que formam o cérebro de uma espécie animal bípede e mamífera, semelhante aos primatas, que, incapaz de se adequar ao ambiente democrático, chegou a bloquear com caminhões as rodovias de todo o país.

Democraticamente, eles clamam pelo fim da Democracia. Querem uma ditadura que possam chamar de sua e que lhes cale a boca, para nunca mais clamarem por coisa alguma.

Essa gente abilolada comemorou três ou quatro “prisões em flagrante” do ministro do tribunal eleitoral e não cessa de festejar cada vez que a tia do WhatsApp informa que, de novo, “foi confirmada a fraude”, da qual o Micto há tempos insiste em dizer que “tem as provas”.

Uma turba amalucada que não se acanha de cantar o hino nacional para um pneu, tenta segurar caminhão na unha bancando o Super-Homem e se ajoelha no asfalto molhado para rezar um terço puxado por uma religiosa de festa junina, versão feminina do padre de “Arakelmon”.

A patuleia acredita com fervor que o Micto está mictando à ré, “mijando para trás”, em seus raros pronunciamentos, mas “de mentirinha”, apenas para enganar o ministro ingênuo, o mesmo que não para de ser preso em flagrante. E vai ao delírio cada vez que ouve que o Micto precisa de 72 horas para dar o golpe – tempo que se conta a partir de cada novo anúncio.

Revoltam-se quando informados de que Paulo Freire será o ministro da educação do novo governo, mas se reanimam quando lhes contam que o finado educador pernambucano também foi preso. Em flagrante, claro.

Vão em multidão à sede do exército do Rio de Janeiro ou em porciúnculas diante dos Tiros de Guerra, como, para minha vergonha, fizeram ridículos conterrâneos de minha amada Capivari, para marchar como soldados cabeças-de-papel, bater continência aos meninos fardados a cada vez que hasteiam e arriam a bandeira e pedir intervenção militar, a que chamam de “intervenção federal” (cuidem-se, governadores!) em defesa – pasme, caro leitor! – da “liberdade de expressão”.

Alucinação generalizada, alienação coletiva, “remake” tupiniquim do Templo dos Povos, seita liderada por Jim Jones em 1978 que, iniciada nos Estados Unidos, teve seus ramos em terras de Pindorama (Belo Horizonte e favelas do Rio) e desfecho trágico na Guiana.

A cada amigo que vejo mergulhado nesse transe coletivo – que lamentavelmente não são poucos – indago: já chorou? Já esperneou? Já lambeu as feridas? Fez bem. Agora engula esse choro, cesse os soluços, respire fundo e se prepare para a próxima, que já tem até data marcada: 4 de outubro de 2026. Assim é na Democracia. Aceite, que lhe será menor a dor.

Podaram uma rosa, podaram duas, podaram dez, mas não foram capazes de impedir que a Primavera retornasse triunfante. Com ela, a ave fênix, de exuberantes penas vermelhas e garras douradas, ressurgiu soberana das próprias cinzas.

Lula está eleito, babaca!

(Luís Antônio Albiero, em Capivari, SP, em 7 de novembro de 2022)

De Facas e de Cebolas

Eva preparava o almoço quando viu, pelo vitrô da cozinha, Jesus em pessoa defronte à sua residência. Ouviu-o falar em paz e amor e viu-o multiplicar peixes e pães, saciar a fome e a sede dos que encontrava pelo caminho, levar dignidade, esperança, oportunidades e vida em abundância a mais de trinta milhões antes condenados à exclusão social ou a morrer de inanição. Assustou-se, porém, ao notar que ele estava acompanhado de uma gente preta vinda das favelas, de miseráveis maltrapilhos, prostitutas, ex-prisioneiros e homens efeminados. Sentiu medo. Descansou a cebola e a faca sobre a pia e telefonou à polícia. Jesus foi preso.

Ao cair da tardinha, viu o próprio Capeta na calçada oposta. Olhos avermelhados de sangue e portando um tridente, ostentava ele vistosos chifres e serpenteava exuberante rabo de dimensões extraordinárias. Cercado de homens brancos e bombadões que gritavam "mito, mito", ele fazia arminha com as mãos e se dizia o Messias. Encantou-se Eva com o que viu e ouviu e, no ímpeto de ir ao encontro do outro, cortou-se ao livrar-se da faca e da cebola com que preparava o jantar. Às lágrimas e com sangue escorrendo entre seus dedos, juntou-se à turba e elegeu o Capiroto presidente da República.

Não tardou para que a nação começasse a sofrer na pele o resultado da escolha maligna. E quanto mais escura a pele, maior o sofrimento.

Por vingança dos céus ou mera coincidência, viu-se o mundo tomado por uma peste que só no país de Eva arrebatou setecentas mil almas, a maioria porque o Trevoso optou por incitar os compatriotas a enfrentarem a moléstia de peito aberto, em aglomerações em seu louvor e sem máscaras. Ele falava em imunização de rebanho enquanto negociava vantagens indecorosas para adquirir vacinas a peso de ouro.

Fingia enfrentar o mal nomeando diversos ministros que fizeram da pasta um autêntico ministério contra a saúde. Um a um foram todos caindo, do maneta ao pesadelo em forma de general, até que só sobrasse... "Que droga!", resignou-se o Tinhoso à falta de melhor opção.

Em seu governo, nada era a favor da nação. A regra era ser contra. Contra tudo e contra todos. A favor, só da família presidencial.

Os ministros contra a educação também se sucederam, culminando com uma tríade de pastores que, por inegável inspiração cristã, pediam oferendas para si como ouro, incenso e mirra para que verbas fossem liberadas.

Houve ministros contra a cultura, os quais desnudaram a ópera bufa que foi o governo do líder das Trevas. Começou com uma encenação de orgulhar Goebbles, passou pelo pum de talco espirrado da bunda do palhaço, e assim foi mudando de mãos e de bundas até terminar em malhação. Não a do Judas, das mais celebradas festividades populares. Malhação do próprio histrião que só soube fazer pum, mictar e defecar durante todo seu escatológico reinado.

O Cramulhão criou o Ministério Contra os Homens de Cor, para o qual nomeou seu mais fiel capitão do mato. Para o ministério contra a Justiça escolheu o juiz ladrão que trocava sentenças por cargos.

Seu ministro contra as relações exteriores foi um lunático que bradava contra o globalismo, na defesa de que a terra era plana. Se bem que quem passou os anos todos no mundo da lua foi o astronauta, ministro contra a ciência e tecnologia. Dizia-se à sorrelfa no baixo escalão que ambos dividiam a condição de ministros das relações extraterrestres.

Houve uma ministra contra a família e contra os Direitos Humanos que descria da laicidade das goiabeiras e do Estado e agia para que meninos usassem azul e meninas, rosa, zelosa para que estas, se estupradas, deixassem crescer a barriguinha.

O ministro contra o meio ambiente empenhou-se em passar o trator e a boiada, incendiar florestas, extrair árvores, pedras preciosas e peixes impunemente, inclusive matar índios e jornalistas mal vistos, enquanto o povo se distraía com a peste.

O mais importante foi o ministro contra a economia, apodado Posto Ipiranga pelo presidente em razão de seu gosto insaciável por elevar o preço dos combustíveis dia sim, dia também. Sabia ele como bem aplicar suas próprias economias, as quais mantinha no exterior, resguardadas da corrosão inflacionária, embora vulneráveis às frequentes oscilações da moeda internacional que ele mesmo controlava.

Ao fim de quatro anos, Eva estava satisfeita. Considerava que o Coisa Ruim havia feito o que pode para enfrentar a pandemia. Afinal, ele não poupara combustível em frequentes motociatas que organizava em homenagem a si próprio e para festejar suas vítimas. O importante, pensava Eva, é que a pátria estava salva, estreme de extremados extremismos extremos, embora ainda restasse enfrentar a extrema-imprensa e a Corte Extrema.

Até que veio a notícia de que o parlamento pretendia instalar comissões de inquérito. O governo então anunciou o contra-ataque: criaria uma comissão para investigar os oposicionistas. Sua intenção era desvendar tudo que pudesse ser alcançado, desde quem matou um insepultável prefeito, passando pelo crime da rua Toneleros e pelo assassínio de Júlio César pelos senadores, até quem matou quem nos primórdios da humanidade, se Caim a Abel ou vice e versa. Foi então que Eva ponderou que, naquele universo machista e misógino onde e quando ainda só havia quatro exemplares da espécie humana, talvez ela não devesse ter-se deixado encantar pela serpente que servia de rabo ao Capiroto.

Súbito, Eva compreendeu de quem era a culpa por toda a desgraça que se abateu sobre o país, desde o dia em que escorreram lágrimas de cebola de seus olhos e sangue de seus dedos.

(LUÍS ANTÔNIO ALBIERO, em Jacareí, SP, madrugada de 7 de julho de 2022)

04/11/2022

A Mais Querida da Infância

Resposta a uma amiga conterrânea:

"M..., querida, como vai?

Já deu uma olhada em quem está do lado do seu Micto?

Sabe quem é Valdemar da Costa Neto? Lembra de Roberto Jéferson? De Eduardo Cunha? De todo o pessoal do tal Centrão - aquele mesmo sobre o qual o impoluto só-que-não general Heleno cantava "se gritar pega Centrão..."?

Já viu o patrimônio acumulado por seu Micto ao longo de três décadas só na exploração da franquia eleitoral do sobrenome da familícia?

Conhece Flávio Bolsonaro e sua mansão adquirida por 6 milhões de reais, por baixo, em plena pandemia? Jair Renan, sua mãe e respectiva mansarda?

E Fabrício Queiroz? Já descobriu por que ele depositou 89 mil reais na conta da Michele?

Já examinou a compatibilidade entre os rendimentos da familícia e a aquisição de C E N T O E S E T E imóveis, dos quais C I N Q U E N T A E U M foram pagos em dinheiro vivo?

Você faz ideia do porquê de pagar imóveis em dinheiro vivo?

Já calculou o volume de 6 milhões de reais em notas de cem?

Estimada, vire esse disco arranhado. Não se apequene tanto.

Não se iguale a essa gente abilolada que já comemorou três ou quatro "prisões em flagrante" do Alexandre de Moraes, que não cessa de festejar cada vez que a tia do WhatsApp informa que já "confirmaram a fraude" e que o Micto "tem as provas", as mesmas que há anos ele vem dizendo que tem.

Nao se imiscua com essa gente amalucada que canta o hino nacional para pneu, que tenta segurar caminhão na unha bancando o SuperHomem, que se ajoelha no asfalto molhado para rezar um terço puxado pela descompensada Cássia Kis, que vai ao delírio por ouvir que o Micto precisa de 72 horas para dar o golpe - e esse tempo que não passa!

Que acredita com fervor que o Micto está mictando à ré, ou seja, "mijando para trás", mas é só "de mentirinha", só para enganar o Alexandre de Moraes, o mesmo que não para de ser preso em flagrante...

Que vai em multidão à frente da sede do exército do Rio de Janeiro ou em porciúnculas diante dos Tiros de Guerra, como fizeram os ridículos conterrâneos desta amada Capivari, para pedir intervenção militar, a que chamam de "intervenção federal" (cuide-se, Rodrigo Garcia!) em defesa - pasme! - da "liberdade de expressão"!

Não lhe ocorre que algo muito errado não está certo nessa lambança toda? Nessa alucinação generalizada? Nessa alienação coletiva? Nesse "remake" do episódio da seita liderada por Jim Jones em 1978?

Olha com que tipo de gente você se envolveu, rasgando sua biografia a ponto de por em xeque sua reconhecida inteligência cartesiana!

Por falta de aviso meu é que não foi!!!

Não se prenda ao passado. 'Bora caminhar para a frente que a fila andou.

Lula venceu, vai governar pelos próximos quatro anos. O time do Micto vai para a oposição. É assim na Democracia!

Vamos pensar no futuro.

Vamos pensar no que interessa ao povo pobre, que quer comida na mesa, três refeições ao dia, emprego, salários valorizados. Dignidade, esperança, oportunidades e vida em abundância, como Lula já proveu aos mais necessitados nos dois primeiros mandatos, ao que Dilma deu sequência.

Deixe que a polícia e o Ministério Público cuidem das cuecas e dos pneus preenchidos com dólares, do ouro cobrado pelos pastores do ministério da educação para liberar recursos, da tentativa de faturar R$1 de propina por dose de vacina adquirida em plena mortandade da pandemia.

Já chorou? Já esperneou? Já lambeu as feridas? Fez bem.

Agora engula esse choro, cesse os soluços, respire fundo e se prepare para a próxima.

Que já tem até data marcada: 4 de outubro de 2026.

Aproveite este momento tragicamente hilário para reler "O Alienista" e boa sorte da próxima!

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(Luís Antônio Albiero, em Capivari, SP, madrugada de 4 de novembro de 2022)

24/10/2022

Ligando Pontos

Quatro experientes policiais federais foram tranquilamente à casa de um sujeito sabidamente armado, sabidamente disposto a tudo - como registrado por ele mesmo em farto material audiovisual espalhado pelas redes sociais - para prendê-lo.

Lá chegando, calmamente tocaram a campainha e esperaram que ele abrisse a porta, obviamente seguros de que ele se entregaria.

Todavia, algo deu errado e o meliante começou a usar seu espantoso arsenal bélico. Atirou cinquenta vezes contra os policiais e soltou duas granadas. Dois policiais foram feridos e correram risco de morrer.

Por que raios os policiais foram cumprir a ordem de prisão assim, de forma tão despreocupada? Sem reforço, sem retaguarda, a peito aberto, absolutamente expostos?

Quem viu as cenas ao vivo mostradas pelo próprio delinquente, vistas do monitor das câmeras posicionadas do lado de fora da porta da casa, sentiu que algo estava errado com aquela forma de abordagem. Eu senti.

Suspeito que tenha havido prévio acerto entre o ex-deputado, o presidente da República e o ministro da Justiça. BolsoNero chegou a anunciar publicamente que havia destacado o ministro para resolver o caso.

Tudo acertado, o ministro deve ter dito aos policiais: "vão lá tranquilos porque já negociamos e ele vai se entregar". Um acordo político que certamente precedeu ao cumprimento da ordem judicial.

Os policiais foram enviados para uma arapuca!

BolsoNero e seu ministro expuseram quatro agentes da polícia federal à fúria de um bandido ensandecido sabidamente disposto a tudo.

É por isso que a Polícia Federal hoje está em pé de guerra com o candidato BolsoNero.

Depois de desmoralizar as Forças Armadas, desta feita BolsoNero expôs todo seu descaso à polícia federal. Gravemente. De modo imperdoável.

(*) Em Jacareí, SP, aos 24 de outubro de 2022