17/11/2021

Tentativa de Despertar Empatia

Sem jeito para despachar uma pessoa que andava me aperreando, por quem nutria e nutro sincera simpatia, enviei a ele a carta que segue, para só depois bloqueá-lo.

É um empresário de minha cidade, cuja identidade prefiro preservar. Nossa troca de mensagens começou no perfil de um amigo comum, da vida real e daqui do Facebook, mas foi em infinitas mensagens privadas que eu perdi a paciência.

Foram meses em que eu dizia a ele verdades sobre Lula, que toda pessoa de bom senso e razoavelmente informada já sabe, mas ele não só se recusa a reconhecê-las como insiste em ofender o ex-presidente.

Achei esse jeito de me despedir sem fechar de vez as portas, tentando despertar nele empatia através da inversão especular dos personagens, em que ele próprio passa a ser a vítima das mentiras que ele vive a espalhar sobre Lula.

Osvaldo é nome fictício, evidentemente. Só o prenome, se eu publicasse, todo mundo de Capivari reconheceria.

A resposta que ele me deu foi inacreditável. Estou tentando encontrar um jeito de publicar, mantendo o sigilo de sua identidade. Por ora, segue apenas minha "carta", que enviei ao "Osvaldo".

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"Meu caro Osvaldo,

Ontem precisei bloquear um amigo no meu Facebook, e por sua causa. Para você ter uma ideia, ele veio me dizer umas coisas a seu respeito que eu não gostei. E você sabe a estima que tenho por amigos como você.

Começou chamando você de "novidedo". Não sei o que significa "novidedo", mas ficou na cara que ele quis ofender você.

Depois passou a chamar você de ladrão, de corrupto. Até criou um apelido pra você, "osvaladrão". Claro que aí já encrespei. Disse a ele que você não é nada disso. Até perguntei "ladrão por quê? O que foi que ele roubou? Quais as provas?" Ele não soube dizer, mas continuou acusando você.

Quando eu disse que você foi absolvido em dezoito processos, ele rebateu jurando que foi graças aos amigos que você tem no STF. Também foi em vão que eu lembrei a ele que esses tais amigos deixaram você preso em Curitiba por 580 dias, mesmo tendo consciência de que o juiz que o condenou era suspeito, parcial e incompetente. Um "juiz ladrão", como disse o deputado. Juiz ladrão que acertava as jogadas com o técnico do time adversário, aquele dalanholzinho metido, de faces róseas e traços longílineos, muito honesto, tão honesto que esconde dólares debaixo da banheira - segundo a mãe dele, mas como confiar na palavra de uma mãe quando se refere ao próprio filho, não é mesmo?

Ele - esse meu amigo que bloqueei por sua causa - disse então que você tinha sido condenado em duas instâncias. Eu insisti que os processos foram anulados, ele insistiu em dizer que os juízes eram seus amigos. Tentei argumentat que você foi absolvido em quatorze processos, todos julgados por juízes de primeiro grau, todos de carreira, concursados e que não devem nada a você, como nada devem a prefeito, governador, presidente ou empresário algum. E que só outros quatro haviam sido anulados por seus "muy amigos" do STF.

Não adiantou. Ele finge não entender. Ou não entende mesmo. Suspeito que ele tenha algum déficit cognitivo, uma certa dificuldade de compreender raciocínios complexos.

Ele é desse tipo de gente que acredita na justiça do país só até a página dois. Acredita no juiz de Curitiba e no TRF 4. Quando chega no Supremo, não vale mais, ele desacredita.

E ficou repetindo e repetindo que você é ladrão, é corrupto, é "novidedo" e o chamando de "osvaladrão". E de cachaceiro, imagine você!

Bloqueei. Sem dó.

Ah! Parabéns pelo discurso de ontem no Parlamento Europeu. Achei ótimo você lembrar que aqueles parlamentares representavam países que num passado recente viviam em guerra uns contra os outros, mas que em um dado momento foram capazes de compreender suas diferenças, aparar as arestas, e ali estavam juntos, civilizadamente, mostrando que a paz é possível, que um mundo novo é possível.

Vibrei quando vi aqueles parlamentares todos aplaudindo você em pé, e por vários minutos.

Legal ver você, um brasileiro, levando essa mensagem de paz mundo afora. Dá um orgulho na gente.

Gostei também do seu discurso no instituto SciencesPo. Você estava leve, solto, como se conversasse em casa com amigos. E com a habilidade de um professor falando com seus alunos. E na casa do Saber! Da nata da intelectualidade francesa e de todo o mundo. Você é o cara, Osvaldo! Obama estava mais que correto.

E depois o encontro com o Macron, o presidente da França! Com a prefeita de Paris! E amanhã com o primeiro-ministro da Espanha. E já esteve com o chanceler alemão que vai substituir a Angela Merkel. Você não é fraco, não. Enquanto isso, o outro desperdiça tempo e dinheiro público passeando em Dubai e tramando com ditadores. E fazendo arminha, claro.

Sabe, Osvaldo, bloqueei o cara só por sua causa, mas não tenho raiva dele, não. Sei que só está com o coração amargurado, por alguma razão lá da vida pessoal dele, que não me interessa. O sujeito angustiado, frustrado, que visivelmente morre de inveja de você, acaba cultivando a planta venenosa do ódio no próprio coração. Avisei a ele: esse seu ódio não fará mal algum ao Osvaldo. O Osvaldo nem sabe da sua existência. Tanto rancor só fará mal a você mesmo.

E ele se diz cristão. Do tipo que vai à missa (disse que faz três anos que não vê Fernando Haddad na missa, e eu nem sabia que Haddad era católico e que frequentava a igreja ali do bairro onde ele mora, no interior) e faz caridade. E que faz questão de propagandear a caridade que faz. "Não saiba a mão esquerda o bem que faz a direita", eu disse a ele.

Bloqueei. Gosto dele, gostaria de aprofundar a amizade, ele me parece bastante simpático e pelo jeito está precisando de amigos sinceros, mas temo acabar me contaminando com essa toxicidade que ele emana pelos poros.

Abraços, Osvaldo. Beijos à Janja. É bonito ver vocês dois juntinhos, esbanjando amor e alegria. Não se esqueça de me convidar para o casamento. E ano que vem, já sabe, o Brasil inteiro sabe: é Osvaldo lá!

Do seu amigo de sempre,

Luís Antônio Albiero, de São José dos Campos, sp, aos 17 de novembro de 2021."

15/11/2021

Pérolas na Minha Página

Onde eu treto mesmo, a valer e com gosto, é na minha página "Crônicas & Agudas".

Tudo o que lá posto eu compartilho aqui e em diversos grupos dos quais faço parte, voluntariamente ou neles incluído sem minha prévia permissão.

Além disso, algumas das crônicas eu impulsiono, ou seja, pago um valor ínfimo, vinte ou trinta reais, e o Facebook promove uma "propaganda" do texto, que aparece nos perfis com a marca de "publicidade". A crônica obtém um alcance muito maior, com garantia de bom retorno. Só que, por mais que eu tenha restringido o alcance desse mecanismo a um contingente que o próprio Facebook chama de "público inteligente", invariavelmente a "propaganda" vai além desses contornos e chega a leitores nem tão dotados assim da inteligência esperada.

Vocês precisam ver as pérolas que me aparecem! E, modéstia às favas, as respostas que dou, sempre procurando interagir de modo civilizado com quem nem sempre cultua a civilidade.

Este é só um exemplo, e me deixou severas preocupado.

Vocês vão entender a razão.

Na imagem, o comentário de alguém de nome Meire Menezes, que é público e, por isso, não vou me preocupar em resguardar sua identidade.

Abaixo, minha resposta:

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Meire, de que grupo você fala?!?

Compartilhei o link em diversos grupos dos quais faço parte, na maioria "enfiado" neles sem minha vontade, que não faço ideia de em qual deles eu pareceria "infiltrado".

De todo modo, sua fala, recheada de pré-concepções e coalhada de "feiquinius", me deixou realmente preocupado.

Afinal, você diz que falo "como um de direita". E a direita, pelo tanto e pouco que vi, deu para perceber que é o seu "lugar de fala".

Se você me reconheceu entre os seus iguais, Deus me livre!, é de fato preocupante. Tomara que seja só pela empatia que usualmente procuro empregar em meus relacionamentos.

De todo modo, preciso repensar ao menos meu modo de me expressar, para não parecer que me deixei contaminar pelo modo de ser da direita... Tesconjuro!

Enfim, muito obrigado por ligar minha luz de alerta.

E também por acessar o link que deixei no seu grupo e vir à minha página prestigiar minha despretensiosa crônica.

Fique à vontade, volte sempre que quiser.

É do diálogo que se faz a luz.

Beijo no coração.

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13/11/2021

Vão pra Cuba!

Acho engraçado quando bolsonaristas, sempre equivocados, berrando nas ruas (como fizeram com Guilherme Boulos dia desses na aprazível Rio Claro) ou em caixa alta nas redes sociais, nos "xingam", segundo eles acham, de "comunistas" e nos mandam para Cuba ou Venezuela. E nos mandam para lá morarmos em definitivo, do tipo nunca mais voltem!

O Leandro Karnal diz, numa de suas palestras disponíveis na internet, que quando alguém o chama de "filho da puta", a reação dele é de indiferença, pois sua genitora não é prostituta e, portanto, o chamamento não é para ele. E, se ela fosse, o sujeito estaria apenas fazendo a constatação de um dado da realidade, de modo que não o ofenderia.

Eu não sou comunista, de modo que, ao se referir a mim como tal, o mal educado não me afeta, pois não me diz respeito, e passa longe de me ofender. E se eu fosse mesmo comunista, só me caberia responder civilizadamente ao cumprimento a quem aos berros me chama porque, afinal, está - estaria, fosse o caso - me reconhecendo em meio à multidão, seja esta real ou virtual. "Olá! Tudo bem?", retribuiria eu, com serenidade.

Ou seja, nada mais inócuo do que xingar alguém do que quer que seja. Puro desperdício de bile, adrenalina e saliva. Ou de movimentos dos dedos. O malcriado só expõe mesmo é a pobre mãe e o próprio pai, que decerto terão falhado na criação de tão infeliz rebento.

O que será, afinal, que esses doentes entendem por comunismo? Ontem vi um vídeo incrível em que um exemplar dessa espécime "denunciava" o McDonald's, templo sagrado do capitalismo, de "comunista", porque construiu banheiros individuais em seu estabelecimento de Bauru, SP. Isso mesmo. Banheiros individuais, para homem, para mulher e para terceira via. E a prefeita de lá, bolsonarista igualmente enferma, endossou e formalizou a denúncia!

Fosse guerrinha entre o delicioso bauru, lanche que, a despeito do nome, nasceu numa conhecida lanchonete da capital paulista (como referência a um freguês natural da cidade interiorana que o adquiria frequentemente), e o importado e nocivo BigMac, meu nacionalismo nada extremado até me levaria a hipotecar todo meu apoio, mas não é o caso.

Quando me mandam "morar em Cuba" ou na Venezuela, eu respondo que sou brasileiro, acentuo que sou feliz onde moro e indago por que raios eu deveria me mudar. E por que não me mandar para a China, Japão, Portugal, EUA, Argentina, Chile, Austrália, Egito, Afeganistão...? O mundo é tão grande, ora pois pois!

Esse povo tem é fetiche por Cuba e Venezuela. Deveriam eles, pois, mudar-se para lá. Ou ao menos ir a passeio, coisa que ainda pretendo fazer no tempo que me resta sobre esta Terra, que não é plana, a despeito da convicção dessa gente que adora se deixar enganar.

Se forem, me mandem notícias. Ao menos um cartão postal. E sejam felizes. Vou quando puder. E se quiser. E lá ficarei o tempo que me aprouver.

(Luís Antônio Albiero, em Capivari, SP, aos 13 de novembro de 2021)

12/11/2021

Marreco à Cabidela

Sentindo engulhos, ouvi integralmente o discurso do ex-juiz federal Sérgio Moro, a quem o deputado Glauber Braga eternizou como "juiz ladrão" e o STF, como parcial e incompetente, no ato de filiação ao Podemos. Resisti. Sobrevivi.

O discurso foi mesmo de candidato a presidente da República. Fala bem articulada que durou uma hora quase cravada. Já até me acostumei com o grasnado que tornou famoso seu epíteto de "Marreco".

Moro não pode ser desprezado, como desprezamos (eu também!) o ogro que hoje nos desgoverna. Vem com respaldo do governo estadunidense e apoio da grande mídia - Rede Globo à frente.

Decola como um marreco de fato, ou seja, com expectativa de voar alto - ele já larga na faixa dos 8%, segundo pesquisa recente, desbancando o vetusto Ciro Gomes, candidato de longa jornada e eternos 12%, hoje em declínio -, mas, a meu juízo, tende a acabar fazendo um voo de galinha, baixo e curto.

Pense num sujeito rasteiro. Dissimulado, falso, fingido. Digno desse meu excesso de pleonasmo, pelo qual peço escusas ao distinto leitorado.

Fala em inclusão social, geração de empregos, erradicação da pobreza, como se nada tivesse a ver com o cenário de terra arrasada que ele e sua OrCrim da Lava Jato nos legaram.

Não entendo esse pessoal da Lava Jato. Parece que não estão satisfeitos com a desmoralização que já sofreram e querem mais. Álvaro Dias já anunciou que Deltan Dallagnol será o próximo a filiar-se à sua sigla e atrás dele devem vir outros ex-procuradores da mesma organização criminosa que se hospedou, como parasita, nas entranhas do Ministério Público Federal. Ao abandonarem os cargos, passaram recibo às acusações de que, no exercício das funções públicas, agiram sempre com claro objetivo político; com as filiações, reconheceram as firmas em cartório.

Essa gente largou carreira das mais valorizadas, que lhes assegurava altíssimos salários, vitaliciedade e outras garantias de liberdade funcional, para se aventurar no terreno movediço da política institucional. Deixaram o "partido judicial" que bem poderiam chamar de "Podemos Tudo" para, em regressão, filiarem-se ao só "Podemos". Ali adiante vão acabar percebendo que foram tragados para o buraco do "Nada Podemos".

Ou entendo. Sabem que serão alvos de tiros, porradas e bombas de todos os lados na campanha presidencial que se avizinha e que não terão quem os defenda. Então, vão eles mesmos dar a cara a bater. Melhor assim. Que saibam que vão apanhar a não mais poderem.

Não temos como adivinhar se Moro se sustentará, se chegará de fato a ser candidato ou se terá estofo para um eventual segundo turno. Que sirva ao menos para bater em BolsoNero e irrigar voto deste para Lula, abrindo ensanchas para a vitória do petista em primeiro turno.

E que venha mesmo. Temos, mais que preparado, o candidato ideal e afiadíssimo para fazer picadinho de marreco e o preparar ao famoso molho à cabidela, aquele feito do próprio sangue da ave servida. Lula sempre disse que queria muito debater com Moro e Dallagnol e derrotar o "candidato da Rede Globo". Eis que se aproxima a hora.

(Luís Antônio Albiero, em Capivari, SP, na madrugada de 12 de novembro de 2021)

08/11/2021

Tome um chá de rosas

Empresário da minha cidade vem dialogando comigo há dias. Suas últimas mensagens (em privado):

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Aqui ficou claro que vc tem político de estimação

Segundo, jamais citei sua idoneidade, você já me chamou de tudo o que é pejorativo, acho que vc tem que rever seu ponto de vista, não ficar cego e ver que até a companheirada em depoimento acusou seu maior ídolo, petróleo mensalão e tufo que é ao, não é eu que digo, tem gente do seu partido presa que confessou, como sempre, nunca soube de nada,

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Minha derradeira resposta:

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Quanta tolice.

1. Não o chamei de nada "pejorativo". Tudo o que fiz e insisto foi exortar a você que pare de espalhar essas mentiras sobre Lula, que você insiste em fazer. Quem atenta contra a própria idoneidade é quem teima em espalhar mentiras para atingir a idoneidade alheia;

2. Não tenho como "rever" o que eu vi: cada processo contra Lula, cada acusação falsa, cada resultado - em TODOS ele foi absolvido. Releia o tanto de coisas a respeito sobre as quais já lhe informei. Não tenho como alterar o que meus olhos de profissional do Direito há 33 anos viram.

3. A cegueira não é minha. Recomendo-lhe uma consulta urgente com Dr. Rovilson ou Dr. José Annicchino (em Piracicaba). Só não sei se eles ainda estão na ativa.

4. Não tem ninguém do meu partido preso. Ninguém! Procure informar se antes de espalhar mais essa mentira. E quem havia sido condenado foi absolvido.

5. Nunca neguei que tenho políticos de estimação. Faço questão de tê-los e de contribuir para que continuem se elegendo. Tenho alta estima por grandes políticos como Lula, Dilma, Haddad, Mercadante, Suplicy, Genoino, Zé Dirceu, nossos saudosos professor Delçon, dona Nadyr Monticelli. São muitos e já lhe falei sobre isso, mais de uma vez. Cuide dessa memória também.

6. Lamento por pessoas como você, que não cultivam estima por político algum e na hora do voto têm de se agarrar a qualquer dejeto político que surge na curva do rio, como Collor, Aécio e BolsoNero.

7. Esse seu ódio não atingirá Lula, que nem sabe da sua existência. Só fará mal ao seu próprio coração. Arranque dele essa flor venenosa que você parece cultivar com tanto zelo. Até porque não servirá para nada. Ano que vem Lula será eleito e, se tudo correr como espero, Haddad será governador do Estado de São Paulo. Queira seu ódio ou não queira. Prepare-se para, como empresário, lidar com essa realidade.

8. Por fim, poxa, como é difícil arrancar de você uma palavra positiva! Você só vomita bile! Tome um chá de rosas, dê leveza à sua alma!

Bom dia, boa semana.

(Em Capivari, SP, aos 8 de novembro de 2021)

28/10/2021

Descanso Mental

Acabei de postar no perfil de um conterrâneo por quem eu nutria admiração, fruto de antiga, embora discreta amizade.

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Jorge, você é tóxico. Vocês bolsonaristas são tóxicos.

Vocês perderam o senso de humanidade, a razão, a capacidade de enxergar a realidade.

Você me faz mal, vocês fazem mal ao planeta.

Vou me dar um presente. Vou me afastar de você.

Não era isso que eu queria. Queria mesmo era podermos debater civilizadamente, mas é impossível.

Você, vocês bolsonaristas interceptam qualquer mínima possibilidade de um debate racional.

Seu negacionismo, seu ódio, seu preconceito. Seu desapego à verdade, seus pendores à injustiça, tudo converge para a impossibilidade de um diálogo sadio.

Infelizmente eu tinha razão quando, lá atrás, às vésperas da eleição presidencial, eu dizia que era a hora de decidirmos entre a civilização e a barbárie. Vocês optaram pela barbárie.

Ano que vem, espero, teremos a chance de retomarmos o caminho da civilidade. Terei então o maior prazer em retomar nossa velha, embora discreta, amizade.

Em janeiro de 2023, se tudo correr bem, ou uns dias antes, assim que se confirmar o resultado eleitoral e o fim dessa triste era BolsoNero, seja lá quem for o vitorioso - qualquer um é melhor que esse moleque limítrofe e desalmado -, eu o desbloquearei. É meu compromisso.

Para mim, será um descanso mental, um alívio espiritual.

Espero que para você seja a oportunidade de uma profunda reflexão e, ao fim e ao cabo, seu reencontro com a razão, com a humanidade, com os valores cristãos, com o desejo de um país democrático e, como tal, que efetivamente permita oportunidades para todos.

Abraços.

Do seu amigo Luís Antônio Albiero.

20/10/2021

Valdemar e os Demais

BolsoNero, o sincerão, disse ontem que quem não estiver satisfeito com seu desempenho na presidência deve procurar alguém melhor do que ele na próxima eleição.

Lembrei-me do colega Norberto Raimundo de Góes, advogado de Capivari que foi presidente da subseção local da OAB e a quem sempre tive como referência de profissional competente e pessoa digna. Foi ele quem me contou a história que narro adiante.

Estavam no famoso Bar do Papai um outro colega advogado - também amigo meu, por sinal, razão por que deixo de identificá-lo - e um açougueiro de prenome Valdemar, ambos muito conhecidos nas terras de Tarsila. Por minutos que pareceram horas sem fim, o doutor da lei enumerou ao companheiro de copo dezenas de casos bem sucedidos de sua longeva carreira jurídica.

Eis que, a certa altura, o magarefe, vendo que o causídico não pararia de gargantear, interrompeu-o com a sem-cerimônia de quem tem habilidades no talhe das carnes e desferiu uma observação incisiva que lhe perfurou como faca afiada o ego avantajado:

- Doutor, cheguei a uma conclusão. O senhor é, de fato, o segundo melhor advogado de Capivari.

O comentário pegou o meu amigo e colega bacharel no contrapé e ele afogou-se com a bebida que ingeria. Depois de algumas tossidelas e breve arrumação, desengasgou-se e indagou, confrangido e despeitado:

- Mas, Valdemar, então me diga, quem é o melhor?

Com a calma de quem amola o instrumento que acabara de usar, o talhador engoliu a última dose de cachaça, deu a bafejada própria de quem sente queimar da goela ao estômago, limpou os lábios com o dorso da mão e tascou:

- Os demais!

O saudoso Norberto contou-me essa história, absolutamente verdadeira, em mais de uma ocasião e em todas elas terminou disparando uma sonora e deliciosa gargalhada.

Por onde andará o carneador Valdemar? Nesta hora, seria bastante oportuno que ele dissesse a Jair Messias BolsoNero quem, dentre os demais candidatos a presidente da República, de Daciolo a Lula, passando por Ciro, Marina, Doria, Eduardo Leite e todos os outros duzentos e treze milhões de nativos - aí inclusos eu e você que me lê -, é melhor do que ele para governar este país.

(LUÍS ANTÔNIO ALBIERO, em Jacareí, SP, aos 20 de outubro de 2021)

11/10/2021

Efeito Especular

Enviei pelo WhatsApp, para alguns amigos por quem tenho elevada estimada, o vídeo em que um catador de recicláveis entrega a Lula uma cópia de sua monografia, em agradecimento ao fato de o ex-presidente ter-lhe proporcionado a oportunidade de se formar em Direito numa universidade federal.

O vídeo está no primeiro comentário.

Um dos destinatários, amigo de infância, respondeu:

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[11/10 16:18] LFC:

Mais um que passou no gargalo..kkk

Não sei como passou com as orelhas de jumento.

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[11/10 16:23] laalbiero:

Mais um sujeito preconceituoso, exclusivista, racista, que odeia pobres e negros e se acha privilegiado pela natureza. Decepção profunda.

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[11/10 16:33] LFC:

Teatrinho barato.

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[11/10 17:48] laalbiero:

Eu lhe enviei para mostrar o quanto e o porquê o povo é grato a Lula, que, sim, queira você ou não, governou em favor dos mais necessitados.

Ao invés de compreender o óbvio, o que você fez?

Expeliu todo seu ódio e preconceito contra o homem simples do povo beneficiado pelas políticas inclusivistas implementadas por Lula.

Não sei se é e onde está o seu "teatrinho", se é "barato" e se deveria ser caro, mas uma coisa eu sei, e muito bem: o valor que tem na vida de um pobre, como eu mesmo fui um dia, a conquista do estudo superior.

Falta a você empatia.

Falta-lhe sentimento de humanidade.

Decepção profunda.

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[11/10 17:51] LFC:

Juvenal também passou no gargalo. Foi mais longe e não ficou chato..kkk

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[11/10 18:47] laalbiero:

Ser ou não ser chato depende da chatice da pessoa com quem se está a interagir.

Juvenal passou no gargalo, como eu também, e espero que não tenha perdido a humildade, a empatia, a humanidade, a capacidade de se alegrar com a felicidade alheia, como parece ter sido o seu caso.

Enfim, só queria lhe dizer que o governo Lula ampliou intensamente o gargalo, permitindo que mais pessoas passassem por ele - inclusive os negros, o filho do pedreiro, o filho da empregada doméstica, o catador de rua -, mas você prefere ofendê-los, chamá-los de jumentos...

Cara, os recursos sociais não podem ser privilégio de uma casta, como se fossem um direito divino.

Não!

Os meios e recursos sociais a todos pertencem e, por isso, todos têm de ter direito e oportunidade de acessá-los!

Você poderia apenas ter lido e desconsiderado a mensagem recebida.

Você poderia ter respondido com uma crítica madura e inteligente à política de inclusão social adotada por Lula.

Mas, não.

Você - você, sim, portando-se como um autêntico chato - teve que vir com quatro pedras na mão e, de modo preconceituoso, teve de atirá-las contra o valoroso catador que, superando toda sorte de dificuldades imagináveis e inimagináveis, conseguiu - graças a incentivos do governo Lula - formar-se numa faculdade.

E eu é que sou chato.

Sim, talvez a realidade que expus o tenha chateado. E as razões de você se chatear com a ascensão dos mais pobres você deve buscar consultando sua própria consciência.

Seja empático. Não seja chato, antipático.

Bom feriado.

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[12/10 09:59] L F C:

Juvenal chegou bem mais longe, nunca se sentiu vítima, excluído, coitadinho...

Nunca viu gargalo..isso é coisa de manualzinho da esquerda..precisam se vitimizar.

E dizem que gado são os outros..têm que seguir o manual de conduta. Os outros são livres para pensar e fazer o que quiseram. Juvenal foi mais longe pois não tinha o peso do cabresto, do manual..

Companheiro..kkk

Eu tive amigos negros, que buscaram seu lugar ..

Eu tive e tenho amigos gays..

Eu tive amigos filhos de pedreiro e que se tornaram pedreiro e não se achavam vítimas..alguns são meus amigos até hoje. E relembramos a nossa infância como "tempo bom"!

O gostoso é se sentir igual, não superior.

Agora, vamos falar a verdade, humilde você nunca foi, por isso carrega essa amargura..precisa de terapia..

Podem fazer terapia os companheiros?

O manual permite? Ou é coisa de elite branca exploradora e preconceituosa?

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[12/10 13:32] laalbiero:

Engraçado você se incomodar com o fato de Juvenal ter ido mais longe do que você.

Nem sabia que vocês disputavam.

Parece que você se dirige a mim olhando-se no espelho. É só trocar "manual de esquerda" por "manual de direita" e eis você!

Efeito especular.

Se quiser, posso lhe indicar bons profissionais de terapia.

Será útil para, quem sabe, incutir-lhe empatia e resgatar seu senso de humanidade, que tenho certeza que ainda jaz em seu espírito como brasa dormida.

Tenha um bom feriado! Ah! Feliz dia das crianças!

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[12/10 20:47] L F C:

Disputar com Juve?Disputar com vocês? Não precisei passar pelo gargalo. Torcemos muito por Juve.

Essa tática de inverter as coisas tá no manual do pt ou do advogado?

Outra coisa..esquerda, direita e os demais..Quem falou que sou direita?

Mas eu consigo deixar você MUITO irritado..isso me diverte..kkk.. Agora vou por você de castigo. Ano que vem desbloquear..kkk

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[13/10 12:55] laalbiero:

Dissecando sua última mensagem:

***"Disputar com Juve? Disputar com vocês?"***

Uai, foi você que mencionou que Juvenal "foi mais longe". Certamente você está se referindo a "mais longe" do que você, pois eu não estou em disputa com ele, nem com você, nem com ninguém.

E mais: quando se quer comparar a trajetória de "A" com a de "B", isso faz pressupor que se conheçam ambas as trajetórias.

Como a afirmação é sua, me faz supor que você conheça a trajetória de Juvenal, de onde foi, aonde chegou e onde está. E compare com a sua, pois imagino que você, que fez a comparação, não faça ideia de onde cheguei e onde estou.

Enfim, é pura bobagem.

***"Não precisei passar pelo gargalo."***

Hein?!? Não passou pelo gargalo? Uau! Nunca soube que você pertencesse à casta dos privilegiados. Será que você é o mesmo L*** que conheci na infância?!?

E você se orgulha de ter obtido alguma conquista sem luta?!?

***" Torcemos muito por Juve."***

Sim. Torcemos muito.

***"Essa tática de inverter as coisas tá no manual do pt ou do advogado?"***

Uai, uai. O que foi que inverti?

Foi por eu ter detectado que você fala em "amargura" minha quando quem expressa amargura é você? E não é verdade?!?

Cara, vou lhe dizer uma coisa.

Esse vídeo, enviei para muita gente. A maioria ignorou, alguns retornaram com elogios ao exemplo de superação do catador de papel, um ou outro elogiou os programas de inclusão social de Lula.

O único - repito: o único! - que retornou agredindo, não a Lula, nem a mim, mas ao catador que se superou e conquistou a universidade foi você!

É expressão de amargura ou não?!?

Minha ou sua?

Portanto, véi, quem se valeu do efeito especular (de "espéculo", espelho) fui eu ou você?

Onde lhe ensinaram isso? No manual da direita ou no curso de Farmácia? (Agora quem abusou do efeito especular fui eu... Que nota você me dá, mestre?)

***"Outra coisa..esquerda, direita e os demais..Quem falou que sou direita?"***

Ahahahaha! Boa essa. Os direitistas haviam saído do armário, agora você se recolhe de volta?

Amigo, ninguém precisa sair por aí anunciando "sou de direita", "sou de esquerda". Essa classificação diz respeito à classificação do modo de pensar de cada um.

Está nos "manuais" (para usar sua expressão) das ciências sociais, da ciência política, da filosofia, da sociologia.

***"Mas eu consigo deixar você MUITO irritado..isso me diverte..kkk.."***

Irritado, eu?!? Tsc, tsc. Por quê?

Nosso diálogo é todo feito pela frieza dos textos, você não está vendo minhas reações faciais, corporais... Como pode saber se estou ou não irritado?

Só porque não uso "KKK"?

Vou lhe dizer: eu não uso "KKK" justamente porque esse recurso é usado quando faltam argumentos, o que leva o sujeito a crer que o interlocutor realmente possa estar, como você diz, "irritado".

Mais um exemplo do efeito especular em que você é mesmo mestre.

Você certamente ficou irritado e jogou essa realidade para mim, como se eu fosse seu espelho!

***"Agora vou por você de castigo. Ano que vem desbloquear..kkk'***

Olhaí, se tenho ou não tenho razão!!!

Eu não o bloquearia por conta de um debate político, feito até aqui com absoluto respeito, apesar da sua forma agressiva de se referir ao catador, chamando-o de "jumento".

Eu só o bloquearia se efetivamente você tivesse me irritado, e profundamente.

Portanto... 🤭😅😂🤣🤦🏻‍♂️🤦🏻‍♂️🤦🏻‍♂️

Abraços!

*****

02/09/2021

Metralhas no Planalto

Meio século levei para aprender como se chamam personagens que marcaram minha infância. Desde meus sete anos leio e curto os Irmãos Metralhas e nunca desconfiei que eles tivessem nomes. Acabo de ver na Wikipedia: Bruto, Briguento e Burguer, na versão brasileira. Em Portugal, eles são Chico Esperto, Pula e Hambúrguer.

Três irmãos malvados e desastrados, por vezes patéticos, conhecidos por números. Lembram a prole de um certo presidente de uma república bananeira ao sul do Equador que chama os filhos de Zero Um, Zero Dois e Zero Três. Como os Metralhas, são três, mas por vezes aparecem quatro, cinco...

Todos têm em comum o dezessete no início dos números que os identificam: 176-671, 176-761 e 176-176.

Na página da Wikipedia, os “Beagle Boys” (no original inglês) são catalogados como da espécie “cachorro”, ocupação “ladrões” e característica “atrapalhados”. Têm por amigos o Mancha Negra, o Bafo-de-Onça e o Lobão - enfim, a milícia toda. Pense em Hélio Negão, Fabrício Queiroz... O Lobão já se retirou da turma. Lágrimas no escuro.

Bruto é o Zero Um. Não é Chico, mas é Esperto, como na versão lusitana. Tão esperto que se elegeu senador depois de tornar-se famoso por defecar nas calças e desmaiar durante um debate para prefeito do Rio de Janeiro.

O mais briguento é o Briguento, a quem o pai chama de Zero Dois. Suas maiores façanhas consistem em fazer ataques enigmáticos pelo Twitter que obrigam adversários a ocupar a semana tentando decifrar o que ele quis dizer. Briguento gosta mesmo é de quebrar o pau. Acuado, abre seu vistoso rabo de pavão – um luxo! - e pula nos braços de um misterioso primo. Pula!

O Zero Três é o Burguer. É tão bom em fritar hambúrgueres que o pai quis nomeá-lo embaixador nos Estados Unidos. A intenção era servir as delícias pessoalmente ao amado presidente do país do norte, mas, apeado Trump do poder, não rolou a mesma química com Biden. Notem que em Portugal esse Metralha atende pelo nome de... Hambúrguer! No Brasil, tornou-se conhecido pela falta de outras qualidades, como a que lhe rendeu o apelido de Dudu Bananinha.

A Wikipedia menciona outros parentes dos Metralhas, como o Primo Azarado, cuja numeração é 1313, vejam só! De coincidências também se vive. Carl Barks, criador dos personagens, certamente já antevia a presença de certo índio na familícia que passou a vida ocupada em roubar a Caixa-Forte de Patópolis.

Nos próximos cinquenta anos que me restam ainda vou descobrir que o pai de todos eles chama-se Jair Bafo-de-Onça.

(LUÍS ANTÔNIO ALBIERO, em Jacareí, SP, aos 2 de setembro de 2021)

29/08/2021

Nano, o Megaempresário

Nanoval é empresário. Convidado para ser sócio de uma empresa, assim se tornou. Ainda é pequeno, mas enxerga-se mega e sonha ver seu nome na lista de bilionários da Forbes.

Nano, como o chamam no clube dos falsos amigos, é exemplo da meritocracia dos bons relacionamentos.

Seu hobbie é cuidar de orquídeas, mas a planta a que dedica maior atenção é uma florzinha que cultiva no coração. Nano tem ódio de pobre.

Odeia seus empregados, suas domésticas e até mesmo seus gerentes e diretores que não se reconhecem como pobres, em cujos corações também viceja a venenosa flor do ódio.

Odeia particularmente Lula, a quem vê como representante do pobre que o próprio Nano foi um dia. Detesta sobretudo o filho dele, embora não faça a mínima ideia de quantos rebentos Lula tem, onde vivem, como vivem, de que se alimentam. Nano odeia Lulinha porque ficou milionário limpando cocô de elefante no zoológico e acabou sócio da Friboi. “Catando coco”, como escreve Nano, incapaz de compreender a importância da acentuação gráfica.

Apesar do sucesso conquistado à base de falcatrua, sonegação fiscal e apropriação da mais-valia, Nano continua um nanico cognitivo. Não duvido que ele creia que a Friboi venda carne de elefante vitaminada com o esterco do zoológico.

Nano inveja o sucesso de Lulinha porque este é dono do casarão da ESALQ, do iate do dono da rede TV! e de uma Ferrari folheada a ouro que deixa sob os cuidados de um xeique árabe que vive na Espanha – afora o fazendão que vai do Oiapoque ao Chuí.

Não duvidem, Nanoval é homem de muita fé, do tipo que faz questão de propagandear cada ato de caridade que pratica.

Certo dia, Jesus em pessoa passou diante de sua mansão. Nano viu-o multiplicar peixes e pães, distribui-los aos famintos, dar água aos sedentos, esperança aos desesperados e vida em abundância a milhões antes condenados a morrer de inanição ou viver na exclusão social. Mas as singelas vestes de Jesus denunciavam sua opção preferencial pelos pobres e Nanoval estremeceu. Chamou a polícia e Jesus foi preso.

Dias depois passou na mesma rua o diabo em carne, osso, rabo e chifres. Nanoval o viu pela janela da cozinha. Trajava roupas da cor do fogo, portava um tridente e um caprichado cavanhaque e fazia arminha com as mãos. Dizia coisas com as quais Nano se identificava, tanto que passou a chamá-lo de mito e o elegeu presidente.

Nanoval está radiante com o mito e até desistiu de produzir feijão. Resolveu investir em fuzis. O nanomegaempresário está certo de que agora chega à lista da Forbes.

(LUÍS ANTÔNIO ALBIERO, em Capivari, SP, aos 29 de agosto de 2021)

28/08/2021

A Obra-Prima do Micto

Do reino “monera” ao “animalia”, não conheço ser vivente mais descolado da realidade do que o cidadão Jair Messias, a que chamo de BolsoNero – pela óbvia razão de que, como o imperador de Roma que incendiou a cidade que governava, o daqui brinca de destruir o Brasil.

Ao chamar de idiotas os que preferem comprar feijão a fuzil, nosso desgovernante-mor escancarou toda sua miséria humana. Um sujeito que não parece fruto de uma relação entre um homem e uma mulher a que pudéssemos chamar de “amor”, mas uma coisa expelida por alguém que mictou e defecou algo com parecença física de um bebê. Daí chamá-lo – eu – de "micto e defecado", tema de crônica recente.

Ele não tem noção nem da necessidade, muito menos da dificuldade que o brasileiro médio tem de comprar um mísero quilo de feijão. E muito menos faz ideia da absoluta desnecessidade e da impossibilidade material de esse mesmo brasileiro comprar um fuzil. O pobre cidadão mal pode adquirir um quilo do alimento básico, que lhe custa R$8,00 para continuar vivo por mais uns dias, como vai pensar em comprar uma arma que lhe custará 1500 vezes mais do que o quilo que ele já não consegue pagar?

Diz o Micto que um povo armado jamais será escravizado e que com uma arma o cidadão poderá garantir trabalho e alimento.

Imagine a cena: o cidadão, desempregado e faminto, adquire um fuzil 762 por módicos 12 mil reais (no crediário das Casas Bahia, em 36 parcelas a juros extorsivos, se é que a empresa atua nesse ramo), gasta mais um tanto para obter um tiquinho de munição e vai até o empresário mais próximo, empunha o troço, aponta para a cabecinha do outro e diz: “ou me dá um emprego ou morre!”

Sai dali com o emprego garantido, mas, ainda liso, porque o primeiro salário só virá no mês que vem, passa no mercadinho do bairro que cansou de lhe vender fiado, aponta para as fuças do compadre dono do estabelecimento e diz: “ou me dá um quilo de feijão ou eu atiro!”.

Orígenes Lessa legou-nos como sua obra mais famosa um romance que tem por título “O Feijão e o Sonho”. BolsoNero, que jamais leu um livro na vida, acabou de publicar sua obra-prima: “o Fuzil e o Pesadelo”.

E isso tudo no rastro de um evangelismo pseudocristão que ele acabou de fundar, em que o “Cristo” de ocasião há de ser uma figura mítica que, segundo as sagradas escrituras ainda não escritas, teria dito: “armai-vos uns aos outros como eu vos armei”. E passai fogo no próximo, irmão, e mandai o vagabundo pros quintos dos infernos, talquei!

(LUÍS ANTÔNIO ALBIERO, em Capivari, aos 28 de agosto de 2021)

21/08/2021

Armado Até os Dentes

Um amigo colocou a foto de uma garota portando arma, em meio a diversas armas expostas, e fez um comentário, que julgo irônico, dizendo que "Bolsonaro é fogo" e que ela estaria "entrando na onda".

Deixei lá meu comentário e acabei tretando com outro navegante destes mares feicebuquianos, a quem sequer conheço.

Domingo é um bom dia para uma treta político-religiosa, né não?

Segue o resultado.

29/07/2021

Jogo Olímpico de Inverno

Esse é jogo duro. Só é bom mesmo nos jogos olímpicos de inverno, praticando "bobslad". Ou comentando na SporTV. Porque de política e atualidades, é como brasileiro disputando esqui.

Ele me fez uma daquelas provocações abiloladas de sempre (ver as imagens).

Minha resposta:

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"Ricardo, você é assim mesmo, tão ignorante, ou age de má-fé?!?

Advogados não são juízes, porque as atividades são incompatíveis.

Nenhum Ministro do STF é ou foi advogado do PT.

O mais próximo disso é José Antônio Dias Toffoli, que, como eu, foi assessor jurídico da bancada do PT (ele na câmara federal, durante a Constituinte, eu na Alesp, mais recentemente).

Eu fui advogado do PT (diretório estadual de SP, PT de Americana; PT de Capivari); ele, jamais.

Depois foi Advogado Geral da União, cargo a partir do qual se credenciou ao Supremo. Mas era tão "amigo do PT" que cometeu a injustiça de condenar José Genoino no Mensalão.

Dos demais, nenhum jamais teve qualquer proximidade com o PT.

Informe-se, para que do seu teclado não mais jorrem fezes para todo lado.

Lula foi absolvido em onze processos, julgados por diferentes juízes, todos concursados, todos juízes de carreira. Nenhum deles deve qualquer favor a Lula.

Lula só foi condenado - pres'tenção, mané! - só foi condenado em dois processos.

Dois.

Coincidentemente, nos dois o juiz incompetente, parcial e corrupto chamado Sérgio Moro pôs suas mãos sujas.

Os dois processos, mais outros dois em que ele também pôs suas mãos corruptas, que ainda não haviam sido concluídos, foram todos anulados por ter sido reconhecida a parcialidade de Moro.

Parcialidade que ficou evidenciada quando ele, em evidente ato de corrupção passiva, vendeu a sentença que condenou Lula e o impediu de ser candidato a presidente, abrindo e pavimentando a avenida que garantiu a eleição de BolsoNero.

E mal BolsoNero foi eleito ele correu para receber a propina combinada, o primeiro cargo a ele prometido (em conversa com Paulo Guedes, entre o primeiro e o segundo turnos da eleição presidencial), de Ministro da Justiça.

O segundo cargo prometido, de ministro do STF, ele não conseguiu. Recebeu um pé-na-bunda muito bem dado por BolsoNero, única atitude digna de aplauso.

Deixe de ser mané.

Traga argumentos sólidos, sérios, se quer mesmo debater como adulto.

Ou se mantenha assim, pueril, feito criança birrenta brincando e brigando no parquinho..."

25/07/2021

Borba Gato Subiu no Telhado

Sinal dos tempos. Ando me comunicando muito por memes. Criei no Facebook uma sequência deles somente tendo por tema o incêndio da estátua do bandeirante Borba Gato.

Gostemos ou não, trata-se de uma obra de arte. Um artista - um falecido escultor de nome Júlio Guerra - empreendeu seu talento, sua técnica, seu imaginário, sua visão particular de mundo e a concebeu. Deve ter-lhe custado horas, dias, meses até completá-la.

O mesmo Júlio Guerra é autor, por exemplo, da bela escultura "Mãe Preta", localizada no Largo do Paiçandu, também na capital paulista. Bela e significativa. Contradição? Talvez.

Obras de arte são bens juridicamente protegidos. Existe até lei especial para isso, a dos direitos autorais. Tem tipo específico no Código Penal (art. 184) para a violação dos direitos de autor, como é o caso da destruição de obra de arte. Dá cadeia, embora o valor do bem que a lei visa proteger pareça infimo, já que a pena é das mais brandas: detenção, de 3 meses a um ano. Isso sem contar, claro, que se trata de depredação de patrimônio público, mas aí já é outra história.

Penso que estátuas e obras que enaltecem genocidas e outros criminosos históricos - ditadores sanguinários, por exemplo - deveriam ser todas retiradas, mas não destruídas e, sim, levadas a um museu. Alguém sugeriu o "Museu da Vergonha". Concordo.

Ou, se mantidas expostas em praças públicas, deveriam estar acompanhadas de grandes painéis em que letras garrafais denunciassem as atrocidades que o "homenageado" cometeu. A sugestão é de meu amigo jornalista e radialista Wilson Reganelli. Pelo menos foi ele quem me passou. Seria uma denúncia constante e um desagravo permanente às vítimas.

A estátua de Borba Gato representa, antes de tudo, a figura nefasta do genocida que escravizou e seviciou sem piedade índios e negros. Tal qual fizeram com a obra que o homenageia, o bandeirante incendiou aldeias indígenas e quilombos. Matou e torturou. Foi responsável por atrocidades impublicáveis que resultaram numa limpeza étnica em nome do desenvolvimento econômico.

Não vejo sentido ético no clamor, que em maioria vem curiosamente da direita, por conta do que foi feito contra a estátua quando os incêndios que ele praticou na sua atividade, digamos, profissional foram muito mais graves e exterminaram vidas humanas, não apenas objetos de pedra e ferro, sem alma, sem sangue. Os índios e negros que nas mãos dele sucumbiram, é bom lembrar, eram de carne, osso e espírito.

Essa inusitada gritaria é algo tão surreal que só faltou essa gente, absolutamente indiferente às vítimas do genocida e de genocídios em geral - como este que vivenciamos em terras tupiniquins -, passar a defender os direitos humanos do próprio Borba Gato. Ou, pior, de sua estátua.

Por outro lado, o episódio pode ser visto como uma legítima manifestação de um segmento da sociedade identificado com as vítimas do sertanista exterminador, indignado com a permanência incômoda em praça pública de uma obra que o exalta como heroi.

Mas será que o ato tem mesmo esse grau de legitimidade? Será que os autores são de fato integrantes do segmento social identificado com os alvos preferenciais das ações eugenistas e higienistas do (mais um...) falso heroi nacional?

Coincidentemente, a ação se deu num dia de manifestações contra o genocida de carne e osso que insiste em atear fogo em nossas matas e nos matar. Que vem nos matando de roldão e baciada diariamente, há dois anos e meio, por conta de sua inatividade e de sua passividade próprias de uma estátua.

Coincidentemente, a guarda civil metropolitana, que guarda diuturnamente a estátua, não estava lá.

Coincidentemente, a polícia militar nada fez.

Parece que havia um propósito. Era a cena de vandalismo e violência que não havia, que faltava nas manifestações, marcadas pela pacificidade.

Parece que era preciso introduzir esses ingredientes na narrativa pró-presidencial.

Parece. Não sei, não tenho certeza, não tenho como afirmar.O que sei e que importa é que os genocidas começaram a cair.

Há uma vetusta piada de português (perdoe-me o leitor se soa politicamente incorreto) em que um gajo lusitano deixa com o compadre, em terras d'além-mar, seu gatinho de estimação, enquanto vem ao Brasil a passeio. Súbito, na praia, ele recebe uma ligação do outro que o informa da morte do gato. Indignado, o português repreende o compadre pelo susto que quase o mata. Este o indaga sobre como, afinal, deveria ter dado a notícia. "Primeiro, tu me dizes que o gato subiu no telhado", diz o viajor. "Mais tarde, tu me ligas para dizer que o gato passa mal", prossegue. "Só depois tu me contas da tragédia!". Passados mais uns dias, o turista recebe nova ligação do amigo: "compadre, tua mãe subiu no telhado!"

Supondo que os autores do incêndio da estátua sejam mesmo manifestantes contra o que ela representa, parece que o Gato bandeirante subiu no telhado. Que seja prenúncio da queda do genocida que nos desgoverna. E que nos mata com a indiferença das estátuas.

(LUÍS ANTÔNIO ALBIERO, em Capivari, SP, aos 25 de julho de 2021)

Esse Seu "Ladrão" Roubou o Quê?

Notícias sobre minha incursão pelo mundo do agrobusiness. O negócio agora é mexer com escondidinho de patinho moído. Esse descongelou.

Na postagem de um amigo comum, meu antigo colega de trabalho fez o comentário que aparece na imagem.

Enviei-lhe a seguinte resposta:

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"Meu querido e honrado amigo e vizinho José Cláudio *** Cláudio , se você me disser, com provas sérias , idôneas, o que foi afinal que esse SEU "LADRÃO que dizem ser ex-presidiário" roubou, eu agradeço.

Porque se for quem eu estou pensando, ele foi investigado exaustivamente desde que entrou na vida pública - ou seja, por mais de QUARENTA ANOS! - e, na Lava Jato, foi investigado por TODOS os meios, legais e ILEGAIS, e não encontraram NADA! Nem um centavo irregular numa mísera conta no exterior ou no Brasil, nem em nome dele, nem dos familiares, nem de amigos, assessores ou laranjas - tanto que um juiz corrupto, parcial e incompetente vendeu uma sentença e o condenou por uma singela REFORMA num apartamento classe média que nunca foi, não é e jamais será ou seria dele.

Em TODOS os outros processos que o juiz corrupto NÃO PÔS as mãos sujas, ele foi absolutamente ABSOLVIDO - e não por ministros "amigos" do STF, mas por diferentes JUÍZES DE CARREIRA, concursados. E os únicos dois em que esse juiz pôs as mãos e que resultaram em condenação, e mais dois outros não concluídos, foram TODOS anulados pela mais alta Corte do país em razão da parcialidade do juiz corrupto.

Se você me apontar e me disser o número do processo e o trânsito em julgado d roubo que ele fez e a respeito do qual SÓ VOCÊ talvez saiba - e imagino que tenha provas -, você estará fazendo um favor a mim, à nação brasileira e se livrando da acusação de estar sendo leviano.

Porque eu me recuso a acreditar que o amigo, colega e vizinho Claudinho, a quem conheço de longa data, tenha perdido na trajetória da vida aquele senso de justiça, aquele apego à verdade do qual eu sou e serei sempre testemunha."

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Em réplica, ele fugiu do cerne da questão e, previsivelmente, me repreendeu por ter-me intrometido numa conversa para a qual, de fato, não fui chamado. Mas era uma conversa pública, no perfil de um amigo comum, e que chegou até mim...

Eis a réplica dele:

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"Luís Antônio Albiero caro amigo, agradeço às considerações, você sabe que sempre houve reciprocidade de minha parte, pois nunca tive motivo algum para que fosse diferente. Me assusta no entanto, sua imposição impetuósa em minha direção, visto que fiz um comentário numa postagem de outra pessoa amiga, onde não marquei ninguém e, muito menos fiz referência a alguém. Logo, meu caro amigo, o Sr. tirou suas próprias conclusões. Pelo respeito mútuo, espero que aceite meu posicionamento, assim como sempre aceitei o seu e de todos. Afinal uma amizade sincera e, de longa data não pode ser abalada por suposições. Abraço."

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Minha tréplica:

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"Meu caro e educado amigo, colega e vizinho Cláudio ***. Foi com absoluto respeito que me dirigi a você, e o fiz com serenidade, com educação, com reconhecimento do seu bom caráter.

Não fiz em tom afrontoso, não fiz com acinte, não agi com a impetuosidade a que o amigo se refere.

Ao contrário, fiz com humildade, no desejo sincero de saber o que, afinal de contas, o seu "ladrão" roubou.

Nem foi um desafio a você - desafio que tenho feito a muitos, e há muito tempo, e sigo sem resposta -, mas com a humildade sincera de quem quer saber a verdade que talvez você saiba, justamente porque o conheço há tantos anos, pessoa digna de minha mais absoluta admiração, que duvido que se permitisse um comportamento leviano de chamar alguém de ladrão sem saber de fatos e provas concretas.

É com humildade que espero por sua resposta. Humildade de quem sabe que não tem o monopólio da verdade e está disposto a ceder as próprias convicções em face de provas reais, fatos bem definidos.

Confesso que não esperava essa sua resposta, que me causa muita estranheza.

De fato você não se dirigiu a mim, nem marcou ninguém nesse seu comentário, mas o fez publicamente, numa postagem de um amigo comum, nosso bom e velho Jorge *** *** .

E ele - seu comentário - chegou até mim, resplandesceu diante de meus olhos, sobretudo por conta da desproporção entre o que contém de mentira e a honestidade do seu autor - a sua honestidade!

E foi em nome de nossa velha, sincera e franca amizade que me achei no direito - perdoe-me pelo abuso - de questioná-lo com uma pergunta que é básica e que exige uma resposta singela: que o tal ladrão roubou isto, e a prova é esta.

Enfim, o amigo não me marcou, nem me chamou para o debate, mas seu comentário invadiu minha visão e me impôs a necessidade de restabelecer a verdade.

Nada obstante, continuo sem saber e deixo aqui a pergunta, singela, a exigir resposta de igual singeleza: afinal, o que foi que esse seu "ladrão" roubou?

E mais. Quando? Quanto? Onde está o fruto desse "roubo"? Qual ou quais as provas?!? Qual o processo? A sentença? O trânsito em julgado?!?

Aguardo serenamente."

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Sigo aguardando.

Serenamente.

Pacientemente...

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P.S.: DESDOBRAMENTOS DA TRETA

Ele me respondeu. Não, não respondeu o que o tal "ladrão" roubou, mas para dizer que eu o chamei de "leviano". Ou melhor, que eu o estaria assim chamando caso ele não atendesse ao meu questionamento.

Respondi:

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Cláudio, meu amigo, bom dia.

Hoje estou de folga, é feriado em São José dos Campos, por isso tenho tempo para respondê-lo (embora, a despeito do feriado, há prazos correndo e vou cuidar deles daqui a pouco, aqui de casa mesmo).

Não o acusei, em momento algum, de ser leviano. Longe de mim ter com você um comportamento leviano como o que eu critico nos outros.

Você apontou com tanta convicção que o personagem em tela é "ladrão" que quase me convenceu, e eu só lhe pedi para me indicar fatos concretos e provas idôneas, já que, depois de quarenta anos de Investigação, depois de toda ilegalidade praticada contra ele na lava jato, nada encontraram.

E eu fiquei convencido de que você teria esses elementos de prova que faltaram à justiça.

Eu não disse que você seria leviano caso não atendesse ao meu questionamento.

Eu só disse uma coisa óbvia: que sair por aí chamando alguém de ladrão sem um fato concreto, sem prova, é leviandade.

Ou não é?

Como você qualificaria a conduta - a conduta, não o caráter - de quem saísse por aí dizendo "ah, o Claudinho é ladrão!" ?

A primeira coisa que eu diria a quem me dissesse uma barbaridade como essa seria "duvido", porque conheço você, meu amigo.

Mas a segunda - ou mesmo a primeira, supondo que eu não o conhecesse tanto assim - seria: "mas ladrão por quê? Roubou o quê? De quem? Quando? Quanto? Como foi? Onde está o fruto desse roubo?"

E eu diria ao seu acusador "ou você me dá essas respostas ou vou concluir que não passa de leviandade de sua parte".

Será que eu estaria agindo mal, nessa hipótese?

Eu, por exemplo, posso lhe dizer concretamente por que acuso o juiz incompetente, parcial e corrupto de ser incompetente, parcial e corrupto. "Juiz ladrão", como bem definiu o deputado Glauber Braga, fazendo analogia ao futebol.

Incompetente porque não tinha competência para julgar um caso que, como ele próprio reconheceu em embargos declaratórios, não envolvia recursos da Petrobras (uma questão técnica; se você estiver disposto, posso dissertar a respeito); que dizia respeito a fatos supostamente ocorridos em Brasília e que envolviam imóveis em Guarujá e Atibaia - absolutamente fora, portanto, do raio jurisdicional de um juiz de Curitiba. E a incompetência foi reconhecida, ao fim e ao cabo, pelo STF, que por ampla maioria referendou a decisão monocrática do ministro Edson Fachin.

O Fachin, você sabe, é de Curitiba e, no Supremo, foi o tempo todo ardoroso defensor da Lava Jato (lembra dos meninos da Orcrim da Lava Jato, especialmente Deltan Dallagnol, comemorando com o já célebre bordão "aha, uhu, o Fachin é nosso!" ?). Pois é...

Parcial porque ele agiu o tempo todo com inescondível parcialidade. Que também restou reconhecida pela maioria da 2ª turma do STF, que anulou os quatro processos em que esse juiz pôs as mãos sujas - decisão também referendada pelo plenário do Supremo.

E corrupto porque condenou um réu sem crime real, sem prova, de olho numa vantagem indevida - um cargo vitalício no STF. E que entre o primeiro e o segundo turnos negociou essa "propina" (o cargo no STF, depois; primeiro, o cargo de Ministro da Justiça) com o então futuro ministro da fazenda, Paulo Guedes. Que, como combinado, às vésperas da eleição tornou pública uma delação sem pé nem cabeça que nem o MPF (no caso, a Orcrim da Lava Jato), nem a polícia federal levaram a sério, e com isso pavimentou a avenida que levou à eleição de BolsoNero.

E que, logo em seguida, serviço sujo feito, foi efetivamente buscar a propina e aceitou "de prima", sem pestanejar, o cargo de Ministro da Justiça, abandonando vinte anos de magistratura, cargo (o de juiz federal) que lhe garantia ganhos elevados, estabilidade e vitaliciedade (depois levou um belo pé no traseiro, única atitude digna de aplausos de BolsoNero).

Esses são os fatos que me permitem chamar o "juiz ladrão" de incompetente, parcial e corrupto. Que hoje, cinicamente, colhe os frutos de ter, com suas decisões, destruído a indústria naval e a construção civil do Brasil, e a própria Petrobras, para favorecer interesses de empresas estadunidenses. (Digo cinicamente porque hoje trabalha para recuperar as empresas que ele próprio, na condução da Lava Jato, destruiu).

É isso que espero de você: que me diga, como eu fiz, que o tal "ladrão" é ladrão porque roubou isto e as provas são estas...

Só isso!

Qual a dificuldade, afinal?

Meu caro Cláudio, eu só quis mesmo provocar a sua consciência.

Acredito no seu bom caráter e o reafirmo; acredito na sua honestidade, inclusive a chamada honestidade intelectual.

Eu sei que você não é leviano e que, portanto, não sairia (nem mais sairá) por aí espalhando o que hoje se dá o nome pomposo de "fake news", mas que não passa da velha e nada boa "mentira", ainda mais uma mentira que prejudica a honra alheia. E prejudicar a honra alheia, você sabe: é crime! Calúnia, injúria, difamação. Dá cadeia e indenização por danos morais. Ou seja - e é isso apenas que quero lhe dizer - é coisa séria, muito séria, para ser tratada assim, com diletantismo.

Você não é disso e tenho certeza de que não me negará a resposta.

Ou, se acaso não a tiver (e começo a admitir que de fato talvez você não a tenha, ou já a teria dado), sei que se conformará com a realidade, por mais que ela, a realidade, o desaponte, o desagrade, por não corresponder aos seus desejos.

Até porque há um sério e muito bom risco de o personagem em questão voltar a ser o presidente deste país. Queira Deus!

Afinal, alguém terá que liderar a reconstrução deste país depois dessa tragédia que se abateu sobre nós. E nada melhor do que quem já provou que é bom, que sabe o que faz e o que tem de ser feito, que é respeitado pela imensa maioria do seu povo e que tem ampla credibilidade internacional. E que é comprovadamente honesto no trato da coisa pública.

Um grande abraço a você e a toda sua família. Pena que não pude ficar em Capivari, pois, apesar de feriado hoje e amanhã em São José, minha esposa trabalha no Banco do Brasil de Santa Branca, cidadezinha aqui perto de Jacareí, onde o expediente é normal. Senão, poderíamos nos reunir em casa para tomar uma cervejinha, uma cachaça, uma caipirinha, bater um papo e aparar essas arestas todas.

Confio na sua inteligência, no seu bom caráter e na sua honestidade. E sei que um dia você tomará consciência do tanto de injustiças que se produziram contra esse seu "ladrão", essa figura nefasta construída pela mídia que você teria razão de odiar se fosse verdadeira.

Só que não é.

Abraços!"

(Em Capivari, SP, aos 25 de julho de 2021)

17/07/2021

Micto e Defecado

Eis que todo o país rescende a BolsoNero.

O despresidente da República defeca pela boca e seu hálito de enxofre dissipa-se por todo o Brasil, de norte a sul, de leste a oeste. Contamina a atmosfera e torna o ar fétido. Pútrido. Irrespirável.

Sempre tive dificuldade em lidar com cheiro ruim. Sinto engulhos quando entro num banheiro e meu nariz é invadido pelo fedor dos excretos humanos, sobretudo quando se misturam os números zero, um e dois.

Até para escrever tenho dificuldade. Prefiro usar "gases" em lugar de "pum", e "pum" em vez de... Enfim, vocês sabem.

Aí me vem a mais alta autoridade do país e conspurca o ambiente nacional com seu "caguei". Eeeeeca!

Em seguida, surgem-lhe estranhos soluços que, descobrimos depois, são manifestações de suas entranhas mais nojentas. Tanto defecou pela boca que se lhe atrofiou o orifício excretor e lhe provocou obstrução intestinal.

E o ser horrendo ainda tira proveito da constipação presidencial, um problema que me pareceu real e sério, para disseminar ódio, atacar adversários, alimentar a ira de seus seguidores e provocar comiseração nos incautos. De olho, sempre, nas eleições.

Não bastasse o ambiente de putrefação em que já havia transformado o país por seu apetite maior por propina do que por vacina, ele tinha que nos embostear a todos. Você abre o celular e eis que todas as redes sociais estão infestadas de palavras como "merda", "cocô", "bosta", "caguei", uma cagada atrás da outra. Ele jogou fezes no ventilador, espalhou excrementos por todos os lados. Fez do país um imenso esgoto a céu aberto, no qual estamos todos mergulhados. E nada acontece conosco. Nem reagir conseguimos. Ele tem razão quando diz que devemos ser estudados.

Num país de marcantes revoluções intestinas que pouco ou quase nenhum resultado prático deram ao longo da História, é curioso como uma singela e singular obstrução das entranhas do seu habitante mais abjeto possa incomodar toda a brava gente brasileira.

De fato, nunca antes na História deste país tivemos um presidente mítico. Sim, mítico, porque não nasceu Sua Excrescência de um parto normal, mas dum esforço de evacuação de sua pobre mãe. Defecado e mictado. Daí "Micto", particípio do verbo "mictar" que significa "aquele que foi mictado". Mijado. E cagado. Começo a entender a razão pela qual ele chama sua prole de zero um, zero dois...

Micto e defecado. Assim venho-o tratando há tempos, bem antes dessa conspurcação geral da Nação (reivindico a criação do neologismo; podem reproduzir, desde que citem a fonte; risos).

Dizia eu de minha dificuldade de lidar com o escatológico e do que resultou de quando a mãe do inominável resolveu obrar. E me vem à lembrança que vim ao mundo pelas mãos de um Bolsonaro. É a mais pura verdade. Doutor Rolando, como era conhecido o médico, muito respeitado, responsável pelo meu parto e da maioria dos meus contemporâneos de Capivari e região, nascidos nos anos sessenta, quando cesariana ainda não era moda.

Vem dessa circunstância, por sinal, minha preocupação em usar "BolsoNero" em vez do sobrenome grafado no original. Mais do que fazer referência a Nero, que pôs fogo na Roma que governava, o artifício tem por objetivo justamente distanciar a figura nefasta do resto de sua família originária, que não é responsável pelo excremento que, obrando sem culpa, a genitora depositou no mundo.

BolsoNero, eleito graças à farsa da facada do Adélio, esfaqueou o bode - como se diz na minha terreola. Emitiu seus gases tóxicos, praticou "golden shower" sobre o público. Defecando e deambulando para o povo a que jurou servir, transformou o país numa extensão do chiqueirinho onde dialoga todo dia com seu mais fiel e ruminante rebanho.

Nada mal para quem dizia que mudaria o país. Mudamos, é fato. É como se nós brasileiros tivéssemos passado a "morar na escatologia", e que me perdoe Caetano Veloso por tomar emprestado e fazer mal uso do título de sua enigmática - e bela - canção "Mora na Filosofia".

Mas que merda, mas que bosta! Chega. Superamos a linha do insuportável. Quero ar puro. Quero respirar! Eu não pago meus impostos para ficar engolindo pelo nariz e levando para dentro de mim a podridão que expele o Excrementíssimo Defecador da República.

Já que Arthur Lira insiste em não abrir o processo de impeachment que pode dar a descarga e levar para a latrina o bolo fecal que nos desgoverna, imploro a Sua Excrescência, visivelmente cansado do nada que faz diariamente, como pedíamos aos jogadores pernas-de-pau nos tempos do futebol de várzea: peça para cagar e saia!

(LUÍS ANTÔNIO ALBIERO, em Jacareí, aos 17 de julho de 2021 - terceiro ano da triste era BolsoNero)

15/06/2021

Maior e Vacinado

A experiência da vacina contra a Covid 19 foi de fato muito emocionante. É a vida encontrando seu caminho, como disse o personagem vivido por Jeff Goldblum em "Jurassic Park" (aquele mesmo de "A Mosca"). Fui hoje a um local de Jacareí, onde resido durante a semana, chamado Educa Mais, ao lado da rodoviária. É um espaço de arquitetura arrojada destinado, até onde pude observar, a teatro e eventos artísticos e culturais. Coisa de prefeito petista, imagino.

Lá chegando, apresentei meu comprovante de endereço e um documento de identificação e o sujeito da recepção fez meu cadastro. Ditei meu CPF em blocos de três dígitos e terminei com o "um" e o "três" finais dizendo "treze, confirma". E sublinhei: "que é o mais importante". O sujeito riu e eu já me senti em casa.

Faço isso já há tempos, sempre que os caixas de estabelecimentos comerciais me perguntam se quero a nota fiscal paulista. Nunca perco a oportunidade. Até um ano atrás, as reações eram de desconforto, irritação ou impassividade. De então para cá, porém, as expressões de contentamento estão cada vez mais intensas. Como dizia Ulysses Guimarães, repetindo um milhão de outros políticos e pensadores, a política é como nuvem, se transforma a cada instante.

Da recepção fui à sala de aplicação da vacina. Lá havia uma mesa grande com quatro ou cinco servidores sentados lado a lado, como mesários nos locais de votação em dias de eleição, assim dispostos para, mais uma vez, conferir documentos e, finalmente, preparar a injeção e o certificado. Vício é mesmo uma coisa invencível. Adivinhe se não perguntei "onde está a urna eletrônica". Claro. Mais risos.

Antes de a enfermeira espetar a agulha no braço, outra colega com cara de chefe da equipe fez a mim e ao outro candidato a jacaré - as pessoas eram atendidas duas a duas - uma breve palestra sobre a astrazêneca e suas possíveis reações, reforçando os cuidados.

Esclareceu que aquela vacina era produzida pela Fiocruz e eu fiquei preocupado com as coisas que a capitã Cloroquina falou na CPI sobre a tara fálica do pessoal do instituto carioca. Eu preferia que fosse do Butantã, até pela vantagem de me transformar em cobra, em vez de jacaré. Mas, estando em Jacareí, não tinha como. Pensei até se em Capivari, minha cidade de origem e onde resido com ânimo definitivo, eu não poderia me transformar em capivara, um animal, digamos, mais família. Ponderei que era tarde demais para certas exigências, sobretudo um capricho bairrista.

A primeira enfermeira mostrou o pequeno frasco com a dose de meio mililitro de um líquido transparente, a seringa, a agulha, e eu perguntei se eles não ministravam uma anestesia antes, pois detesto imaginar certas coisas enfiadas em meu corpo - inda mais sendo um produto da Fiocruz. Ela disse que a aplicação de um anestésico levaria tempo maior e seria mais dolorido. Aceitei calado e desviei os olhos. Detesto.

Mal senti a picada, mas confesso que me veio uma vontade de chorar. De emoção sincera. Contive o choro, porém, por conta do receio de acharem que fosse de medo ou dor, ou de parecer o menino que nos anos sessenta abria o berreiro ao tomar as injeções que me aplicavam as freiras do Círculo Operário de Rafard nas minhas primeiras crises de bronquite.

Fechei a camisa, levantei-me, disse com alguma timidez o infaltável "viva o SUS", cumprimentei a todos e saí. Ainda tomado pela mesma emoção, fiz a selfie exibindo o cartão de vacinação e postei, claro, no Facebook. Afinal, tradição é tradição, mesmo que recém-inaugurada.

Agora, sim. Maior e vacinado.

Maior, no caso, pelo tamanho. Difícil está sendo me adaptar à reação que a zelosa enfermeira-chefe esqueceu-se de mencionar. Vou lhes dizer, é complicado controlar o rabo. Já derrubei duas mesinhas e os vasos que estavam sobre elas, afora o notebook de um colega de trabalho, até agora o prejuízo mais vultoso. Mas vou me acostumar, tenho fé.

As garras que cresceram no lugar das unhas, já antes carentes de um corte profundo, até que são úteis. Serviram, por exemplo, para espantar dois engraçadinhos que vieram me cobrar uns trocos que lhes tomei emprestado dia desses. Um deles não volta mais. Engoli a seco. Prometi a mim mesmo que vou comprar desses molhos prontos e andar com eles no bolso por aí, balsâmico, italiano, tradicional. Barbecue, de preferência. Um jacaré nunca sabe a hora em que vai ter almoço para se servir.

A pele dura e enrugada também tem tido sua utilidade neste dia de muito frio, mas não quero passar a ser conhecido como um sujeito casca grossa. A boca é que me parece estar crescendo um tanto devagar. Até agora só deu para sentir o gostinho de ser como o cacique Raoni. Espero que o crescimento seja uniforme e os dentes não fiquem muito expostos. Prefiro o sorriso cínico do lagarto ao escárnio escancarado dos crocodilianos.

Planos para o futuro. 7 de setembro, adeus feriado prolongado em Capivari. Estarei a postos em Jacareí para a segunda dose. Independência, afinal! Ou morte. Quinze dias depois, agendar o cabeleireiro, que esta juba não combina com jacaré e eu não quero ser confundido com a personagem cabeluda do Sítio do Picapau Amarelo.

Ainda em setembro, pretendo ir lá para a região central do país. Não, não vou me mudar para o Pantanal, não. Prefiro continuar vivendo em meu habitat natural, entre capivaras, jacarés e a gente boa daqui de São José dos Campos, onde trabalho.

Eu me refiro a Brasília. Será um passeio gastronômico. Um bate-e-volta, apenas para degustar um prato para lá de especial: um perigoso "serial killer" (pronuncia-se "siri ao quilo", ou melhor, "siri ao quíler") que já matou mais de quinhentas mil pessoas, um sujeito gorduroso que anda rondando a capital federal e que se diz incomível. Quero ver se é mesmo.

Sei que sofrerei intoxicação alimentar, terei diarréia, mas certas reações são inevitáveis. Digo já de cátedra.

Você não perde por me esperar, genocida!

(Luís Antônio Albiero, em São José dos Campos, aos 15 de junho de 2021, no intervalo do almoço).

13/06/2021

Treta de Domingo

Fim de semana é legal porque dá pra gente tretar com bolsomínions, cada vez mais desorientados.

Esta foi agora há pouco, num grupo de Americana, onde morei por sete anos e mantive escritório e trabalhei até agosto de 2018.

A provocação está nas imagens. Minha resposta:

**********

"Leandro Tri, como 'Lula não conseguiu manter o que ele fez de bom', se ele fez um segundo mandato ainda melhor que o primeiro?

Por que você acha que ele teve avaliação tão elevada ao fim do segundo mandato, a ponto de eleger sua sucessora, e ainda a reelegeu quatro anos depois?

O 'decaiu' é elucubração sua. É como chifre: coisa que colocaram na sua cabeça.

O dólar foi 'equiparado ao real' apenas no lançamento do plano Real. E você não come em dólar, mas em real. E você não come PIB, mas aquilo que seu salário lhe proporciona comprar. Faça as contas e veja quanto valeram, em dólar, os salários mínimos durante os governos FHC, Lula, Dilma, Temer e hoje. E veja em que período do real nossa moeda valeu mais e o salário mínimo teve maior poder de compra.

Dilma fez um excelente governo no primeiro mandato e, a partir do início do segundo, passou a ser sabotada pelo inconformismo de Aécio Neves, que não aceitou a derrota, e pelo espírito vingativo de Eduardo Cunha, que transformava toda iniciativa do governo para corrigir os rumos da economia em "pautas bomba", que só pioravam a situação.

Você precisa conhecer melhor as coisas sobre as quais opina. Você não cita, mas está se referindo à lei Rouanet. Pergunto a você: o que é a Lei Rouanet? Você sabe desde quando ela existe? Você sabe dizer quando foi que BolsoNero revogou a Lei Rouanet?

Respondo: a lei Rouanet é uma lei de incentivo às atividades artísticas. Empresas financiam artistas e espetáculos e obtêm abatimentos no imposto de renda. Existe desde 1991 e foi assinada pelo então presidente Fernando Collor de Mello (aquele que foi tirado do poder por corrupção e hoje é conselheiro pessoal de Jaera Genocias BolsoNero) e pelo ministro Jarbas Passarinho, remanescente dos governos militares. E está em vigor até hoje - ou seja, seu Micto sequer tentou revogá-la.

Quanto aos "estádios versus hospitais", sinto informar-lhe, mas o governo federal não construiu nenhum estádio. O BNDES, sim, emprestou dinheiro para a iniciativa privada (empresas) para que esta os construísse - e esse empréstimos vêm sendo regularmente pagos (lembra o desfecho da tal "caixa Preta" do BNDES que tanto berrou BolsoNero? Pois é...).

O BNDES existe para isso mesmo: para incentivar os investimentos privados.

Por esse seu raciocínio, tudo o que foi financiado pelo BNDES é obra do governo federal. Ou seja, todos os hospitais privados, todas as escolas privadas, todas as fábricas, os estabelecimentos industriais e comerciais, todos os equipamentos agrícolas e da indústria construídos ou adquiridos por financiamentos do BNDES durante os governos do PT são obras dos governos petistas. É isso mesmo?

Então, vivas ao PT!!!

13 de junho de 2021

27/05/2021

Fundamentalista das Boas Causas

Acabo de ser "repreendido em nome de Jesus" (não, não foi o cabo Daciolo, nem foi nesse tom, muito pelo contrário - embora certas bandeiras sejam por vezes defendidas com igual fundamentalismo), por um faceamigo, por uma suposta "piada sexista" que eu teria feito ou reproduzido.

Foi pelo Messenger e enviei esta resposta:

"Não sei a qual 'piada sexista' você se refere, mas faço uma vaga ideia.

O que será mais grave? A minha 'piada sexista' (?!?) ou a obsessão sexista de uma dirigente do país - das mais importantes nestes tempos de pandemia - que consegue ver um pênis numa torre de um prédio público?!?

Como tratar essa loucura da moça? Com textos acadêmicos sobre a paranóia dela?

Não é mais saudável representar a realidade - ditada por ela própria - com humor pertinente e adequado?

Como representar humoristicamente uma obsessão sexista de determinada pessoa?"

****

PS.: BolsoNero passou a vida toda atacando os homossexuais. Uma vez, uma única vez, fiz uma postagem "devolvendo" toda agressão dele com uma imagem e frase de um extinto programa de humor da Globo, um bordão (condenável, sim, mas pertinente, considerado o objetivo da minha crítica) vivido pelo ator Paulo Silvino. Fui chamado de "homofóbico", como se a crítica fosse homofóbica e, pior - ainda que pontual e excepcionalmente até, vá lá, pudesse ser - como se eu tivesse o hábito bolsonaresco de fazer constantes postagens homofóbicas.

Naquela ocasião eu tinha consciência das pedradas que eu receberia, como de fato levei.

Desta, porém, confesso que não imaginei que as pedradas se repetissem.

Tão maléfico quanto os comportamentos extremistas de homofóbicos e sexistas é o patrulhamento dos fundamentalistas das boas causas.

Sejamos mais razoáveis, mais tolerantes. Inclusive com os excessos alheios, sejam eles reais ou frutos da nossa mente porventura contaminada pela intolerância.

Guardemos para nós mesmos o que quer que seja que pudéssemos ver como censurável no comportamento alheio, em especial daqueles que sabemos que este ou aquele movimento é um ponto fora da curva do modo ordinário como o outro costuma se comportar.

25/05/2021

Meus "Políticos de Estimação"

As pessoas que encaram a política como futebol, que escolhem torcer para um ou outro "time" e, em consequência, passam a odiar todos os adversários, não têm a mínima noção do que é a Política e da importância que ela tem para a vida de todos nós.

Eu era um jovem de 24 anos em 1988 quando disputei e venci minha primeira eleição, para vereador, e me lembro de um discurso que eu fazia. Era mais ou menos assim:

"Você pode odiar a Política e os políticos, mas não pode ignorá-los, pois as decisões do prefeito e dos vereadores (naquela época, a prefeitura e a câmara de Capivari ficavam no mesmo prédio) saem dos gabinetes pelas portas da prefeitura, descem as escadas, escorrem pelas ruas da cidade e entram na sua casa por debaixo da porta, queira você ou não".

Eu lembrava que eram os políticos que decidiriam o preço do pãozinho que você come, do combustível que você põe no seu carro; decidiriam o seu salário, o quanto você vai ganhar e se você terá ou não emprego, escola, postos de saúde, médicos, polícia...

Desde muito cedo eu adquiri consciência do que significa a Política na vida de todos - do pobre e do rico, das pessoas e das empresas, das coisas privadas e das questões públicas.

Desde muito cedo eu tive a percepção de como agiam os políticos e os partidos, a favor de quem, quais os interesses que cada qual defendia, quem de fato estava ao lado dos mais necessitados e quem só se preocupava com o capital, com o lucro fácil, com a especulação financeira e imobiliária.

Fiz de minha escolha a razão do meu viver.

Fui vereador por dois mandatos, candidato a prefeito em três oportunidades, candidato a deputado federal uma vez; atuei exercendo cargos em comissão como assessor jurídico na Assembleia Legislativa de São Paulo e na Câmara Municipal de Americana.

Há três anos deixei essa vida pública para cuidar da minha carreira profissional, que por muito tempo eu havia abandonado para me dedicar aos interesses da comunidade. Hoje ocupo cargo de procurador municipal, concursado, efetivo, o que me distanciou de uma participação mais efetiva na Política, mas não me impede de me manter na trincheira - restrita agora aos meios virtuais, basicamente aqui pelo Facebook.

Continuo me considerando um político, um ser político, mesmo afastado das disputas eleitorais. E sigo fiel aos meus propósitos, à minha razão de viver, à opção que desde muito cedo fiz de lutar em favor da classe trabalhadora e dos mais necessitados da sociedade.

Eu lamento pelos que não têm compreensão do meu papel, que eu mesmo me atribuí por opção que a vida acabou me determinando, em razão da minha origem social.

É triste ver meninos mal saídos das fraldas ou idosos que passaram a vida toda sem enxergar um palmo diante do nariz questionarem minha militância com absoluta ausência de argumentos sérios, sólidos, razoáveis, maduros.

Um sujeito que não me conhece se acha no direito de me julgar e se dá ao desplante de insinuar que em algum momento da minha vida eu tenha "dependido da política" para sobreviver.

Além de ignorância, esse sujeito expressa má-fé, pois a ele o que menos parece importar é a Verdade. Porque ele não sabe, não faz ideia de que é exatamente o contrário do que seu raciocínio miúdo o permite pensar.

Quem já fez política sem apoio financeiro, sem ter o patrocínio de empresas e empresários, como eu fiz a vida toda, sabe que o candidato, ou mesmo o político eleito, além de comprometer a própria vida em favor da causa pública, muitas vezes compromete suas próprias finanças, até mesmo, como foi meu caso, sua carreira profissional.

Chamam-me, os mais educados, de "fanático"; os mais estúpidos tentam me desqualificar com termos chulos ou me atribuindo semelhanças a políticos que eles odeiam e, por seu ódio e preconceito, neles não conseguem enxergar os méritos que verdadeiramente têm, apenas os deméritos que conseguem produzir suas mentes perversas, devidamente adubadas pelos meios de comunicação comprometidos com os interesses da classe dominante.

Sim, eu tenho meus "políticos de estimação". São lideranças pelas quais tenho elevada estima, por seu exemplo de dedicação às mesmas causas pelas quais luto desde que adquiri consciência política, ainda na adolescência. São políticos que, além da estima que tenho por eles, muito me orgulham.

Políticos em quem sempre confiei, como Lula, Dilma, Fernando Haddad, Eduardo Suplicy, José Dirceu, José Genoino, Paulo Teixeira, Antonio Mentor , Simão Pedro , José Machado e muitos outros do meu partido, alguns falecidos, como Luiz Gushiken, José Mentor, Delçon e Derly Andriotti, dona Nadir Monticelli; ou Luisa Erundina, Mario Covas, João Hermann Neto, Ismael Sanches, Marta Suplicy, que, mesmo integrando ou tendo migrado para outros partidos, foram dignos do meu voto e souberam dignificá-lo.

Alguns me decepcionaram em algum momento, como - e vou citar apenas um, pela admiração que por ele nutro - o querido Almir Pazzianotto Pinto, capivariano que durante o governo de José Sarney, na condição de Ministro do Trabalho, afiançou a farsa do "ganho real de salário" quando da implantação do Plano Cruzado, e depois, mais recentemente, por injustas e duras críticas aos governos de meu partido; a despeito disso tudo, é um conterrâneo que ainda me orgulha.

Esses, dentre outros que à memória escapam, são meus "políticos de estimação", e me limito àqueles em quem votei ao menos uma vez na vida, e essas são as causas pelas quais tenho lutado por toda a minha trajetória, e deles e dela tenho muito orgulho.

Lamento, repito, pelos que, a despeito de terem propensão à política, não possam dizer o mesmo.

(LUÍS ANTÔNIO ALBIERO, em Jacareí, SP, aos 25 de maio de 2021)