Assim é exemplo o exercício da tolerância, que nos inspira a aceitar os outros exatamente como eles são. O sujeito barbudo, cuja memória celebramos, convivia com pessoas de todas as raças e origens, com homens e com mulheres, com idosos e crianças, com sãos e com doentes, com prostitutas e toda sorte de desajustados sociais – os tais “pecadores”, hoje os ditos “bandidos” e “vagabundos”. Ele nos legou a lição de cultivar o amor em lugar do ódio, a justiça em vez da truculência, a paz e não o conflito. A vida, não a morte.
Exemplos de outra ordem também podem ser lembrados. Naquele tempo, não havia tríplex, nem dallagnóis e moros, mas já havia processos judiciais sem crime e condenações sem provas. Não havia vazamentos para a imprensa, nem Rede Globo, mas os poderosos da época já manipulavam e insuflavam o povo, a ponto de um populacho irracional e irascível ir às ruas pedir a crucificação de quem lhe houvera trazido pão, esperança e fé. Não havia Eduardo Cunha, nem Michel Temer e sua trupe, mas aquela gente insana também pediu a libertação de um criminoso em troca de um honesto, como nos dias de hoje não faltou quem defendesse a liberdade de Cunha e ainda há quem tolere passivamente o governo de Judas e seus corruptos. Não havia um supremo tribunal, mas houve magistrado que também se acovardou e lavou as mãos.
Os primeiros seguidores do judeu barbudo praticavam o modelo de uma vida em comunidade, em que nada era de ninguém e todos dividiam entre si o que obtinham para sobreviver. Uma ideia genial que, séculos depois, um segundo barbudo, este alemão de origem também judaica, adaptaria aos novos tempos e transformaria em teoria econômica, a qual, estranhamente, passaria a assombrar e ainda assombra os que se dizem seguidores do primeiro.
A História nem sempre, quase nunca é original. Ela se repete e se alterna, ora como tragédia, ora como farsa, mais ou menos como dizia o segundo barbudo, o alemão.
Eis que a farsa judicial se repetiu com contornos de tragédia em terras brasileiras, onde um terceiro barbudo, oriundo não da rejeitada Galileia, mas do Nordeste do país, vem sofrendo sob as nossas barbas implacável perseguição imposta pelos poderosos de hoje. E há também uma parte da sociedade que quer, como nos tempos do Império Romano, vê-lo condenado, preso, morto, ao mesmo tempo em que esse mesmo segmento expressa admiração por um “especialista em matar”, pregador do ódio a negros, índios, homossexuais e mulheres – que diz que as mais belas “merecem” ser estupradas –, propagador da tortura, arauto da morte.
Modelo é para ser seguido e o terceiro barbudo seguiu à risca o exemplo do primeiro. Não operou milagres, que santo ele não é, mas, com políticas governamentais, ele levou pão a quem tinha fome, levou dignidade, autoestima, esperança e fé; levou vida, e vida em abundância, não só alimentos, mas água, luz, crédito, saúde e educação, salvando da morte por inanição ou da exclusão social mais de trinta milhões de seres humanos brasileiros.
Tal qual lá no remoto passado, essas práticas incomodaram os poderosos e a parcela manipulada da sociedade de hoje, que agora o querem condenado, preso, se possível morto. Esquecem-se que a morte na cruz não calou o barbudo da Galileia, que seguiu e prossegue no mundo a pregar pela voz de seus seguidores. Suas ideias jamais foram encarceradas ou assassinadas e atravessaram os séculos, vivas e libertas até os dias de hoje.
Como dizia o primeiro das barbas longas, não podemos servir a dois senhores ao mesmo tempo. O amor não combina com o ódio. A justiça é o contrário da arbitrariedade. A tolerância se opõe ao preconceito. A vida é o reverso da morte. Aproveite esta Semana para refletir sobre o que quer para o nosso Brasil e faça a sua escolha.
Páscoa, ressurreição, oportunidade imperdível para repensar e selar um compromisso com a tolerância, com a solidariedade, com o amor, com a justiça. Com a vida!
(Luís Antônio Albiero, advogado, ex-vereador de Capivari pelo PT em 1989/92 e 2001/04)